Cercado de muitas expectativas por abrir a Fase Cinco da Marvel, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania chega aos cinemas nesta quinta-feira (16) com a difícil missão de seguir com a saga do herói diminuto, que se estruturou como a mais descontraída de todo o MCU, e de apresentar o tom dos próximos filmes e séries, que contarão com a ameaça do terrível Kang, o Conquistador. Para isso, mantiveram o diretor, Peyton Reed, que decidiu focar mais no núcleo “super-heróico” e nos mistério do Reino Quântico.
Logo de cara, é importante dizer que esse filme passará longe da unanimidade dos longas das fases anteriores da Marvel, e muito desse problema está diretamente relacionado ao roteiro de Quantumania. Em filmes com super-heróis, é comum que certas conveniências na narrativa aconteçam. Algumas, inclusive, se tornaram momentos clássicos e muito celebrados pelos fãs. Só que nessa história aqui, essas conveniências estão exageradas. Algumas delas causam aquele efeito grandioso e até divertido, mas tem outras que perdem a linha do aceitável e criam momentos bobos. São tantas conveniências acontecendo que a sensação de perigo se esvai.
E isso é problemático principalmente porque o vilão do filme, interpretado brilhantemente por Jonathan Majors, é Kang, o Conquistador. A próxima grande ameaça do MCU, que resultará numa dor de cabeça multiversal para os Vingadores, é uma criatura extremamente poderosa e tem o tempo em suas mãos. Em outras palavras: é um malfeitor muito ameaçador, que acaba tendo sua introdução ao público em geral – considerando que nem todos assistiram à série do Loki (2021) – em um filme que não compreende bem o tamanho do risco que o Kang representa.
Não que Majors não dê o peso necessário ao personagem, muito pelo contrário, mas o filme faz com que suas ameaças e seus poderes sejam suavizados por resoluções simples ou quase mágicas (com o famoso deus ex-machina agindo constantemente), ou pela presença de um vilão secundário que diminui a sensação de perigo só de aparecer em tela. Em respeito aos fãs, lançaremos apenas na quinta (16) crítica COM SPOILERS para falar mais sobre isso sem vazar nenhuma informação antes do longa estar nos cinemas.
Quantumania é um daqueles casos em que o roteiro é realmente o grande problema do filme. Não bastasse passar grande parte do tempo tentando introduzir um vilão que não pode atingir seu potencial por questões de coerência narrativa, já que ele precisar estar no auge em filmes que sairão daqui a dois anos, a equipe criativa não soube trabalhar a diferença de tom cômico dos filmes anteriores do Homem-Formiga para a seriedade que quiseram dar neste terceiro capítulo. Então, o conjunto da obra fica parecendo uma quimera, com momentos divertidíssimos e bobos, como aqueles que consagraram o herói como um dos favoritos dos fãs, e outros muito sérios e escuros, que trazem situações mais voltadas para os épicos de guerra, que só não convencem.
O filme tenta ser uma versão em miniatura de Vingadores: Ultimato (2019) ambientada no Reino Quântico, mas estrelada por diversos personagens recém-chegados, com o qual o público sequer teve tempo de simpatizar ou de se importar minimamente. Então, mesmo que algum deles se fira ou até mesmo morra, não faz diferença para quem está assistindo. E no final das contas, as melhores cenas dessa aventura subatômica são justamente aquelas que se aproximam mais do estilo do primeiro filme solo do herói.
No entanto, o filme não é ruim. Isso quer dizer que ele é bom? Também não. Ele habita ali numa zona cinzenta, existindo como um filme “ok”, que talvez divirta alguns e irrite outros, mas que também não se torna totalmente descartável. Infelizmente, é uma aventura genérica incapaz de explorar todo o potencial de sua proposta, que é o tal Reino Quântico. Há um momento em que o Hank Pym (Michael Douglas) até chega a se questionar sobre as implicações da existência e do funcionamento desse mundo oculto para a vida na Terra. Só que é isso aí… Tudo se resume a um questionamento que não será abordado novamente.
Por outro lado, a direção usa melhor uma das mais interessantes habilidades do Homem-Formiga, que é a capacidade de se comunicar e manipular as formigas. Sim, há formigas no Reino Quântico. Então, é bem legal a forma como eles trabalham esses insetos, apesar de darem uma forçada de barra em alguns momentos. Quem também está bem no filme é o Vespa original, vivida por Michelle Pfeiffer. Se ela havia ficado de lado no segundo capítulo da saga, desta vez ela tem bastante tempo de tela e traz uma atuação convincente, apesar das motivações pelas quais ela manteve segredos sobre o Reino Quântico simplesmente não façam sentido.
Dos personagens “novos”, só mesmo a Cassie de Kathryn Newton se destaca. Ela é a terceira atriz a viver a personagem, que só agora ganha algum tipo de desenvolvimento, se transformando em uma cientista/ ativista enquanto o pai esteve preso no Reino Quântico. Nem mesmo a presença de Bill Murray consegue trazer algo de novo ou interessante.
Mas é preciso elogiar o CGI desse filme. Após alguns trabalhos questionáveis, principalmente nas séries e nas produções feitas durante os períodos mais críticos da pandemia, a Marvel voltou a acertar a mão nos efeitos especiais. E cá entre nós, o filme é todo feito numa tela verde. Praticamente 80% dos cenários e personagens são animados em computador. Se o CGI fosse ruim, esse filme nem poderia ser lançado. A única exceção é justamente um dos vilões, que ficou muito destoante do resto.
Enfim, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania é aquele filme que não é nem bom nem ruim. Ele caminha no limite entre ambos e acaba sendo apenas uma aventura genérica, que ganha relevância muito mais pelas consequências dos atos do longa nas próximas produções do que pelo que ele faz efetivamente na história. É um filme que se sustenta, mas não cativa tanto assim. Lembra em alguns momentos Vingadores: A Era de Ultron (2015), que queria ser grande, mas não podia. Ah, vale ressaltar que há duas cenas pós-créditos que devem agradar aos fãs dos quadrinhos depois de um filme mais ou menos.
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania estreia nos cinemas em 16 de fevereiro de 2023.