A grande maioria das animações produzidas pela DC Comics são geralmente bem avaliadas e vistas com bons olhos, tanto pelo público quanto pela crítica especializada. Isso fica ainda mais impressionante quando sabemos que tudo isso começou logo no início da década de 1990, com Batman – A Máscara do Fantasma, após o estrondoso sucesso da incrível Batman – The Animated Series – sim, aquela série animada que passava nas manhãs do SBT. E se na TV tava dando certo, nos cinemas então a coisa bombou, muito pela chamada Batmania, fenômeno cultural que começou após o filme Batman (1989), dirigido por Tim Burton. De lá pra cá foram dezenas de longas-metragens que saíram tanto nas telonas quanto direto para home video, na maioria das vezes pelo comando de Bruce Timm.
No entanto não dá pra dizer que houve uma queda de qualidade nos últimos anos, muito porque a DC Animation foi reformulada e a direção dessa subdivisão passou para outra pessoa. O primeiro dessa nova leva foi o ótimo Superman – O Homem do Amanhã, em 2020, seguido por Sociedade da Justiça – 2ª Guerra Mundial e a duologia Batman – O Longo Dia das Bruxas, ambas desse ano. A este novo universo foi dado o nome de Tomorrowverse, isso por representar essa passagem de tempo ou mudança de realidade, vamos colocar assim. Isso aconteceu também porque a fase das produções que representaram a era dos Novos 52 – Liga da Justiça – Guerra e Trono de Atlantis – não agradou muita gente. E se tem algo que a DC preserva são suas animações.
Dessa vez temos mais uma estreia dentro dessas tantas ramificações da DC Animation, onde a NetherRealm Studios (empresa que criou o jogo) está produzindo com a Injustice Series, a aguardada animação que adapta o sucesso Injustice (pra gente fica Injustiça, mesmo). Primeiro foram os jogos e depois os quadrinhos, ambas as mídias alcançaram um sucesso absoluto. E esse êxito não se deve apenas ao fato de trazerem os heróis da DC para os games, mas por criarem uma história completamente nova e ousada. Onde, pela primeira vez, teríamos o Superman (o Clark Kent) como o principal vilão de uma grande saga desse universo. Mais do que isso, ele luta contra o Batman e vários dos seus parceiros e ainda por cima literalmente mata o Coringa! Essa era a proposta do jogo e dos quadrinhos, a plot que explodiu a cabeça de muitas pessoas, e que todo mundo queria saber o que de tão grave aconteceu pra que o Superman chegasse a esse ponto…
Bom, não sou eu que vou estragar a surpresa e a experiência de vocês com spoilers gratuitos, então, trate de conferir agora mesmo a animação e tirar suas próprias conclusões da história. Até porque este Injustiça: Deuses Entre Nós entrega tudo isso e adapta quase que literalmente os eventos citados, bem como outros adjacentes – pelo menos até o primeiro ato. Digo isso porque a história inédita de Injustice foi capaz de gerar um arco enorme com várias subtramas relacionadas e um universo próprio, que foi ousado e violento suficiente para dividir os fãs da DC. Então, por mais que alguns não curtam o material original, é impossível ficar indiferente à obra em questão. Foi um marco para o selo, isso é um fato. Contudo, acredito que a animação não conseguiu alcançar nem a sombra de sua fonte de origem.
Dirigido por Matt Peters, que também comandou Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips, bom filme de despedida da fase anterior, essa nova empreitada tem uma produção honesta e uma animação que tecnicamente mantém o nível das precedentes, mas falha pelo traço “quadradão” e sem fluidez, que tenta emular a arte pop tirada dos quadrinhos do artista Jheremy Raapack. Só que isso ainda é, digamos, funcional, o problema, na verdade, está na pobreza dessa história, que diferente do material de origem tenta apenas se encaixar no tal Tomorrowverse e acaba soando bem estranha, a ponto de jamais funcionar como deveria. Muito porque é absolutamente sem sentido vermos diálogos como esse a seguir entre o Superman e a Mulher-Maravilha: “Diana: – Poxa, Clark, você matou todos esses jovens só porque eles não concordavam com você? Clark: – Não, eu matei pra dar uma lição neles.” Gente, quem escreveu esse roteiro? Isso acontece porque a “construção de personagem” não faz muito sentido.
Ok, se vamos seguir essa linha então irracional por parte do Superman, que incinera um amigo após ele mesmo ter causado um acidente, abraçamos então a ideia e vamos engolir uma série de absurdos e ou apenas cenas violentas empurradas goela abaixo. Temos essa impressão porque as razões que fazem o Escoteiro Azul agir daquela maneira nos quadrinhos são muito mais amplas e palatáveis – tendo em vista que ele se tornou um ditador, aliás, por questão até políticas. Resumindo, o filme acaba entregando uma história pobre e apresentando uma trama boba cheia de acontecimentos rasos que só se justifica pelo simples motivo de todos caírem na porrada.
Não há mal nenhum em fazer uma animação divertida e escapista, é até importantes que isso aconteça, principalmente pra galera mais nova se divertir. No entanto, de maneira inusitada, a gente descobre que o filme é proibido para menores de 17 anos (classificação americana R)! Então quer dizer que esse é um filme pra adultos, só que seguindo uma lógica adolescente? É realmente difícil compreender a proposta. Enfim, Injustiça: Deuses Entre Nós não é uma animação essencialmente ruim, apenas aparenta ser contraditória e também se limita às boas cenas de ação, quem sabe isso não seja suficiente.