Hoje conseguimos falar abertamente sobre diversos obstáculos enfrentados pelas mulheres na sociedade pelo simples fato de serem mulheres. Esta sociedade machista, construída pelos homens e para os homens, da qual todos nós fazemos parte, encara e trata os assuntos de maneira diferente quando os envolvidos são do sexo masculino ou do feminino. Da polarização em que o contemporâneo vive, surge o mote da série ‘Intimidade’, nova produção que recém chegou à plataforma da Netflix e tem se mantido entre os mais buscados e no Top 10 da gigante do streaming desde a sua estreia.
Malen (Itziar Ituño) é uma política superimportante, candidata à vice-prefeita nas eleições por vir. Pressionada por todos os lados em um ambiente dominado por homens, ela tenta se manter forte. Porém, quando um vídeo em que aparece fazendo sexo com um homem na praia vaza na imprensa e nas redes sociais, sua reputação é colocada em xeque. Ao mesmo tempo, sua filha Leire (Yune Nogueiras) tenta lidar com problemas de raiva e também com a possibilidade de fotos suas serem divulgadas pelo seu ex, Kepa (Jaime Zatarain). Em paralelo, Bego (Patricia López Arnaiz) quer encontrar respostas para o suicídio de sua irmã, Ane (Verónica Echegui), que não aguentou o assédio no ambiente de trabalho após fotos e vídeos íntimos seus também serem espalhados entre os colegas. Investigando os três casos, a policial Alicia (Ana Wagener) se empenha em desvendar a autoria desses crimes, encorajando as vítimas a denunciarem.
Dividido em oito episódios com cinquenta e poucos minutos de duração cada, a primeira temporada de ‘Intimidade’ entrelaça a história de três personagens aleatórias com estilos de vida diferentes e personalidades distintas para jogar luz nas vítimas mulheres de crimes de internet. Encabeçadas pelo rostinho já conhecido de Itziar Ituño – que demonstra a mesma firmeza e segurança que lhe concederam o estrelado como a investigadora Raquel Murillo/Lisboa na série ‘La Casa de Papel’ –, as histórias distintas que caem no mesmo resultado servem para ilustrar para os espectadores como, independentemente da posição social da mulher, todas acabam se tornando presas fáceis do ego masculino quando estes se sentem ameaçados por elas. Assim, a confiança que outrora pode ter construído uma linda relação, rapidamente é terminada quando os segredos compartilhados na intimidade são difundidos em forma de vingança.
Partindo desse mote bastante relevante, o roteiro de ‘Intimidade’ busca estender o conceito por longos episódios, que poderiam ser uns dez minutos mais curtos cada um deles. Não surpreendentemente, o roteiro de Verónica Fernandez e Laura Sarmiento Pallarés é adaptado de uma versão em 3 episódios escritos em inglês por Dave Wallace. Também a direção de Jorge Torregrossa poderia ter dado mais atenção às resoluções dos criminosos, pois tão importante quanto deixar claro quem é a vítima na história é mostrar que há punição, sim, para os agressores, e a série pouco se dedicou a garantir clareza nesse ponto.
‘Intimidade’ deixa bem evidente que a união, a sororidade entre as mulheres é a melhor proteção e o melhor combustível para enfrentar a estrutura patriarcal dos ambientes laboral, escolar e social. Quando as mulheres se unem, a força é coletiva, pois a luta é de todas e para todas. De maneira bem ilustrativa, propõe o debate dos gêneros para mostrar principalmente às espectadoras que elas não estão sozinhas. A primeira temporada termina de maneira satisfatória e bem amarrada, deixando dúvidas sobre uma possível renovação do projeto.