terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | Jenna Ortega entrega uma performance memorável no poderoso drama ‘A Vida Depois’

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Cuidado: alerta de gatilho.

Nos últimos anos, Jenna Ortega começou a chamar a atenção da mídia e do público e ascendeu a uma das artistas mais prolíficas da indústria do entretenimento. Entre os anos de 2014 e 2019, participou em um papel regular na aclamada série ‘Jane the Virgin’, começando a trilha uma carreira de extremo sucesso que a faria passar por obras como o slasher cômico ‘A Babá: Rainha da Morte’, a comédia ‘Dia do Sim’ e, mais recentemente, entregou uma rendição irretocável em ‘Pânico’, atuando ao lado de nomes como Neve Campbell, Melissa Barrera e Courteney Cox. Agora, Ortega nos mostrou mais um lado de sua versátil personalidade com o poderoso drama adolescente A Vida Depois, da HBO Max.

O título fez sua estreia oficial no Festival South by Southwest, no ano passado, mas só chegou ao público no começo de 2022 para se tornar uma das produções mais impactantes do ano – e uma marca espetacular na ainda breve carreira da jovem atriz. Aqui, Ortega interpreta a jovem Vada Cavell, uma estudante do ensino médio que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando sua escola é invadida por um grupo de atiradores e ela se esconde ao lado de Mia Reed (Maddie Ziegler) e Quinton Hasland (Niles Fitch) na cabine de um banheiro, rezando para que não seja pega e morra. Quando ela consegue sair de lá, mergulha em um ciclo vicioso de trauma e de ressentimento que a deixa, nas próprias palavras, vazia.

O longa-metragem marca a estreia diretorial de Megan Park no cenário cinematográfico – e, também assinando o roteiro, faz um trabalho impecável ao não deixar que a história respalde nas fórmulas do mainstream e não queira entregar mais do que consegue. Em outras palavras, é notável como Park constrói uma meticulosa jornada através da psique humana e como lidamos com eventos impactantes: essas análises, diferente do que imaginamos, não se alicerça em elementos documentais e que apenas refletem a problemática armamentícia e psicológica nos Estados Unidos de forma fria; Ortega é certeira ao encarnar Vada, uma representante adolescente da nova geração, que aprendeu a utilizar sua voz e seus desejos para lidar da maneira que bem entende com os sentimentos que esconde – algo que acompanha todo o seu arco, até os minutos finais da obra.

Mais do que isso, ela funciona como receptáculo que canaliza duas gerações diferentes, postando-se no meio da irmã, Amelia (Lumi Pollack), e dos pais (Julie Bowen e John Ortiz), recusando-se a causar qualquer problema e a seguir os conselhos que lhe são dados – preferindo compreender por conta própria que precisa de ajuda. Vada não consegue se desvencilhar dos temores que guarda em seu subconsciente, acreditando que a personalidade “desapegada” pode ajudá-la a superar o que aconteceu. Não é surpresa, pois, que ela tente se envolver romanticamente com Quinton e Mia, além de adotar o mote do carpe diem para usar drogas, beber e deixar as responsabilidades de lado, sem certeza de como seria o amanhã.

Boa parte das engrenagens do filme funciona com perfeição, arquitetando uma organicidade que auxilia no ritmo e que impede que os deslizes ganhem voz muito expressiva. De fato, não há originalidade na narrativa que Park apresenta, mas há um respeito a qualquer um que já tenha sido alvo de ataques terroristas ou tenham perdido pessoas a eles. O massacre da escola de Vada permanece às escondidas e é atribuído à trama principal através de recursos sonoros, e não visuais (provavelmente porque a realizadora percebe que não há necessidade em ser sensacionalista e desrespeitosa). O que é, deveras, necessário, é a trajetória da protagonista em uma pulsão coming-of-age que se afasta dos maniqueísmos melodramáticos e investe esforços no realismo cinemático.

A equipe criativa também cuida para que não haja redundâncias cansativas ao longo da obra: a fotografia de Kristen Correll é menos fantasiosa e teatral, corroborando as escolhas da câmera na mão e de uma despretensão artística e conceitual. Da mesma maneira, o compositor Finneas O’Connell, que fica responsável pela trilha sonora, recupera o que fez em ‘When We All Fall Asleep, Where Do We Go?’ e colabora mais uma vez com a irmã Billie Eilish para arrancar notas prestigiosas e minimalistas, que nunca falam mais alto que as atuações, e sim servem como sustentação para nos envolvermos com cada um dos personagens.

A Vida Depois lança luz a diversos temas importantes e que, volta e meia, aparecem na indústria hollywoodiana. E, enquanto não é original, também não o quer ser: pelo contrário, a ideia principal é reacender as discussões acerca de um dos fatores mais controversos e conturbados da cultura estadunidense – e como não há um jeito correto de lidar com o trauma; o que existe é um longo processo de aceitação da realidade e de questionamento do porquê isso acontece, tornando o longa-metragem um dos mais importantes de 2022.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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O título fez sua estreia oficial no Festival South by Southwest, no ano passado, mas só chegou ao público no começo de 2022 para se tornar uma das produções mais impactantes do ano – e uma marca espetacular na ainda breve carreira da jovem atriz. Aqui, Ortega interpreta a jovem Vada Cavell, uma estudante do ensino médio que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando sua escola é invadida por um grupo de atiradores e ela se esconde ao lado de Mia Reed (Maddie Ziegler) e Quinton Hasland (Niles Fitch) na cabine de um banheiro, rezando para que não seja pega e morra. Quando ela consegue sair de lá, mergulha em um ciclo vicioso de trauma e de ressentimento que a deixa, nas próprias palavras, vazia.

O longa-metragem marca a estreia diretorial de Megan Park no cenário cinematográfico – e, também assinando o roteiro, faz um trabalho impecável ao não deixar que a história respalde nas fórmulas do mainstream e não queira entregar mais do que consegue. Em outras palavras, é notável como Park constrói uma meticulosa jornada através da psique humana e como lidamos com eventos impactantes: essas análises, diferente do que imaginamos, não se alicerça em elementos documentais e que apenas refletem a problemática armamentícia e psicológica nos Estados Unidos de forma fria; Ortega é certeira ao encarnar Vada, uma representante adolescente da nova geração, que aprendeu a utilizar sua voz e seus desejos para lidar da maneira que bem entende com os sentimentos que esconde – algo que acompanha todo o seu arco, até os minutos finais da obra.

Mais do que isso, ela funciona como receptáculo que canaliza duas gerações diferentes, postando-se no meio da irmã, Amelia (Lumi Pollack), e dos pais (Julie Bowen e John Ortiz), recusando-se a causar qualquer problema e a seguir os conselhos que lhe são dados – preferindo compreender por conta própria que precisa de ajuda. Vada não consegue se desvencilhar dos temores que guarda em seu subconsciente, acreditando que a personalidade “desapegada” pode ajudá-la a superar o que aconteceu. Não é surpresa, pois, que ela tente se envolver romanticamente com Quinton e Mia, além de adotar o mote do carpe diem para usar drogas, beber e deixar as responsabilidades de lado, sem certeza de como seria o amanhã.

Boa parte das engrenagens do filme funciona com perfeição, arquitetando uma organicidade que auxilia no ritmo e que impede que os deslizes ganhem voz muito expressiva. De fato, não há originalidade na narrativa que Park apresenta, mas há um respeito a qualquer um que já tenha sido alvo de ataques terroristas ou tenham perdido pessoas a eles. O massacre da escola de Vada permanece às escondidas e é atribuído à trama principal através de recursos sonoros, e não visuais (provavelmente porque a realizadora percebe que não há necessidade em ser sensacionalista e desrespeitosa). O que é, deveras, necessário, é a trajetória da protagonista em uma pulsão coming-of-age que se afasta dos maniqueísmos melodramáticos e investe esforços no realismo cinemático.

A equipe criativa também cuida para que não haja redundâncias cansativas ao longo da obra: a fotografia de Kristen Correll é menos fantasiosa e teatral, corroborando as escolhas da câmera na mão e de uma despretensão artística e conceitual. Da mesma maneira, o compositor Finneas O’Connell, que fica responsável pela trilha sonora, recupera o que fez em ‘When We All Fall Asleep, Where Do We Go?’ e colabora mais uma vez com a irmã Billie Eilish para arrancar notas prestigiosas e minimalistas, que nunca falam mais alto que as atuações, e sim servem como sustentação para nos envolvermos com cada um dos personagens.

A Vida Depois lança luz a diversos temas importantes e que, volta e meia, aparecem na indústria hollywoodiana. E, enquanto não é original, também não o quer ser: pelo contrário, a ideia principal é reacender as discussões acerca de um dos fatores mais controversos e conturbados da cultura estadunidense – e como não há um jeito correto de lidar com o trauma; o que existe é um longo processo de aceitação da realidade e de questionamento do porquê isso acontece, tornando o longa-metragem um dos mais importantes de 2022.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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