domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Jogador Nº 1 – O retorno do melhor de Spielberg

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A Fantástica Fábrica de Videogames

Jogador Nº 1 é diferente de tudo que você já viu. Bem, ou quase. É um filme revolucionário em seu conceito e efeitos (visuais estes comparáveis com a comoção de Avatar – de James Cameron), mas nem tanto em sua estrutura. O filme marca também a volta do diretor Steven Spielberg ao cinema que ajudou a criar – e quando digo sua volta a este tipo de filme, quero dizer o mesmo tipo de vigor que possuía nas décadas de 1970, 1990 e principalmente na de 1980 – quando se consolidou como um dos maiores nomes da indústria.

Para você, geração milênio, que não sentiu na pele o poder de Spielberg, não cresceu com esta atmosfera e apenas propaga conceitos errôneos sobre o cineasta – reflexo de certa burocracia pertinente a seus últimos trabalhos (digamos no fim da década passada e desta), é a chance de se redimir. Portanto, corra aos cinemas a partir deste fim de semana, deixe o cinema de Spielberg se assentar em toda sua magnitude e procure compreender um pouco a capacidade do diretor (que pouquíssimos possuem) de literalmente nos transportar para um mundo mágico, de fantasia, no qual conseguimos acreditar por duas horas no impossível.



Depois de certo hiato, Spielberg aparece disposto a se reinventar, e mostrar que ainda pulsa vontade em suas veias. Com The Post – A Guerra Secreta, e agora este Jogador Nº 1, o ícone demonstra um favorável ano de 2018 e faz crescer nossas expectativas para novos projetos, como há muito não sentíamos. Seu novo trabalho, voltado ao entretenimento, é tudo isso que você ouve falar por aí e talvez um pouco mais.

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Na trama baseada no livro de Ernest Cline, o futuro não é nada promissor. Como diz uma rápida narração inicial, o ser humano desistiu de tentar resolver os problemas do mundo, e apenas sobrevive. A divisão de classes sociais continua gritante, e é neste cenário que conhecemos nosso protagonista Wade (Tye Sheridan), um jovem residente de uma favela do futuro, na qual trailers são empilhados como prédios precários. Logo na cena inicial, Spileberg se exibe, ao arquitetar um plano sequência que exala a direção de arte, o cenário, enquanto nosso herói desce de sua casa no alto da pilha e vemos seus vizinhos e outros moradores em suas casas desempenhando inúmeras tarefas. Todas, é claro, relacionadas ao tema do filme.

Neste cenário duro e caótico – que em partes se assemelha ao arquitetado por Neill Blomkamp em Elysium (2013) – o mundo está interligado por uma espécie de supergame/realidade virtual/rede social conhecida como OASIS. Tal conceito é revolucionário e até mesmo difícil de ser explicado. Basicamente é um mundo virtual onde muitos vão para escapar de suas realidades sofridas, outros partem atrás de sucesso financeiro, por exemplo, já que suas conquistas por lá refletem no mundo real. E aí adentramos dois outros quesitos, mas vale dizer que o longa funciona muito bem por conta própria e que seu insight em tal universo é tão forte e bem desenvolvido que pode ser dito ser sua melhor qualidade. Mais uma vez uso a comparação com Avatar (2009), no sentido de detalhadamente explorar cada quesito de um admirável mundo novo, sem que sobre muitas pontas soltas.

Agora vamos aos itens mencionados acima. O primeiro é o fator A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971). É impossível deixar de notar semelhanças no argumento de Cline em relação à obra clássica de Roald Dahl. Assim como o excêntrico Willy Wonka, o criador do OASIS, Halliday (Mark Rylance), deixa pistas em seus jogos, os famosos easter eggs (ou ovos de Páscoa) – que coincidem perfeitamente com o feriado de lançamento do filme – e que bem poderiam ser o bilhete dourado nos chocolates da fábrica Wonka – para um felizardo que irá ganhar fortuna com seu legado.

O segundo fator é a orgia 80´s na qual se traduz Jogador Nº 1. Esse filme foi feito para mim e todos os meus iguais. Mais do que fã de quadrinhos, mais do que qualquer outra determinação nerd, me considero um aficionado por tudo 80´s, seja as músicas, séries, filmes e todo e qualquer item da cultura pop da época. E o filme transpira isso em cada centímetro de sua tela. Cultura 80´s em sua mais magnânima forma. É quase uma festa ploc em versão cinematográfica. Acredite. E são inúmeras as referências, ao ponto de ser impossível captar todas até mesmo numa terceira vez assistindo ao filme, para se ter uma ideia. Este fator, no entanto, se encaixa mais como a cereja no bolo. É o momento mágico de Spielberg nos pegando reféns pela nostalgia. Mexendo com nossos sentimentos juvenis, e nos fazendo voltar a ser criança. Existe toda uma sequência na qual os personagens literalmente adentram um clássico do cinema de terror que é de tirar o fôlego. É impressionante e extasiante.

As cenas de ação acertam porque Spielberg sabe determinar as regras, debate-las na mesa e depois entrega-las. Não as vai inventando ou modificando conforme passa o tempo. E esse é o segredo do sucesso de Jogador Nº 1, que consegue constantemente nos surpreender e se superar a cada nova cena. Mesmo para os não iniciados no universo dos videogames de última geração, como este cinéfilo que vos fala, os momentos voltados a eles são especiais. O que é a sequência da corrida!? Posso dizer que há muito tempo um filme não conseguia me imergir em seu universo, ao ponto de esquecer estar assistindo a um filme e colar os olhos na tela, tamanha a interatividade e conexão. E dizer isso hoje em dia, é dizer muito, já que vivemos numa era na qual a cada fim de semana produções recheadas de efeitos visuais (a maioria sem alma) lotam as salas de cinema.

Jogador Nº 1 tem um pouco de tudo para agradar a todos. Também fala sério e se apropria do cerne da ficção científica, ou seja, falar do hoje através dos olhos do futuro. Imaginar os avanços e o caminho para onde iremos em breve. Aqui, o mundo virtual interligado, que distancia as pessoas no mundo real. Falando assim parece mensagem datada, o resultado, no entanto, se mostra mais urgente e necessário de que nunca, revelando um Spielberg antenado com a geração atual e longe de obsoleto. É como se através de uma máquina do tempo, o diretor em sua fase dos 80´s ou 90´s fosse transportado para a época atual com aquela mentalidade, mas com os recursos de hoje. Jogador Nº 1 é o filme que o jovem Spielberg faria, sem qualquer contaminação do Spielberg septuagenário. É o casamento perfeito entre nostalgia e modernidade. E o desejo é apenas de que este grande mestre permaneça jovem para nos presentear com cápsulas do tempo em nossos corações como esta.

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Para você, geração milênio, que não sentiu na pele o poder de Spielberg, não cresceu com esta atmosfera e apenas propaga conceitos errôneos sobre o cineasta – reflexo de certa burocracia pertinente a seus últimos trabalhos (digamos no fim da década passada e desta), é a chance de se redimir. Portanto, corra aos cinemas a partir deste fim de semana, deixe o cinema de Spielberg se assentar em toda sua magnitude e procure compreender um pouco a capacidade do diretor (que pouquíssimos possuem) de literalmente nos transportar para um mundo mágico, de fantasia, no qual conseguimos acreditar por duas horas no impossível.

Depois de certo hiato, Spielberg aparece disposto a se reinventar, e mostrar que ainda pulsa vontade em suas veias. Com The Post – A Guerra Secreta, e agora este Jogador Nº 1, o ícone demonstra um favorável ano de 2018 e faz crescer nossas expectativas para novos projetos, como há muito não sentíamos. Seu novo trabalho, voltado ao entretenimento, é tudo isso que você ouve falar por aí e talvez um pouco mais.

Na trama baseada no livro de Ernest Cline, o futuro não é nada promissor. Como diz uma rápida narração inicial, o ser humano desistiu de tentar resolver os problemas do mundo, e apenas sobrevive. A divisão de classes sociais continua gritante, e é neste cenário que conhecemos nosso protagonista Wade (Tye Sheridan), um jovem residente de uma favela do futuro, na qual trailers são empilhados como prédios precários. Logo na cena inicial, Spileberg se exibe, ao arquitetar um plano sequência que exala a direção de arte, o cenário, enquanto nosso herói desce de sua casa no alto da pilha e vemos seus vizinhos e outros moradores em suas casas desempenhando inúmeras tarefas. Todas, é claro, relacionadas ao tema do filme.

Neste cenário duro e caótico – que em partes se assemelha ao arquitetado por Neill Blomkamp em Elysium (2013) – o mundo está interligado por uma espécie de supergame/realidade virtual/rede social conhecida como OASIS. Tal conceito é revolucionário e até mesmo difícil de ser explicado. Basicamente é um mundo virtual onde muitos vão para escapar de suas realidades sofridas, outros partem atrás de sucesso financeiro, por exemplo, já que suas conquistas por lá refletem no mundo real. E aí adentramos dois outros quesitos, mas vale dizer que o longa funciona muito bem por conta própria e que seu insight em tal universo é tão forte e bem desenvolvido que pode ser dito ser sua melhor qualidade. Mais uma vez uso a comparação com Avatar (2009), no sentido de detalhadamente explorar cada quesito de um admirável mundo novo, sem que sobre muitas pontas soltas.

Agora vamos aos itens mencionados acima. O primeiro é o fator A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971). É impossível deixar de notar semelhanças no argumento de Cline em relação à obra clássica de Roald Dahl. Assim como o excêntrico Willy Wonka, o criador do OASIS, Halliday (Mark Rylance), deixa pistas em seus jogos, os famosos easter eggs (ou ovos de Páscoa) – que coincidem perfeitamente com o feriado de lançamento do filme – e que bem poderiam ser o bilhete dourado nos chocolates da fábrica Wonka – para um felizardo que irá ganhar fortuna com seu legado.

O segundo fator é a orgia 80´s na qual se traduz Jogador Nº 1. Esse filme foi feito para mim e todos os meus iguais. Mais do que fã de quadrinhos, mais do que qualquer outra determinação nerd, me considero um aficionado por tudo 80´s, seja as músicas, séries, filmes e todo e qualquer item da cultura pop da época. E o filme transpira isso em cada centímetro de sua tela. Cultura 80´s em sua mais magnânima forma. É quase uma festa ploc em versão cinematográfica. Acredite. E são inúmeras as referências, ao ponto de ser impossível captar todas até mesmo numa terceira vez assistindo ao filme, para se ter uma ideia. Este fator, no entanto, se encaixa mais como a cereja no bolo. É o momento mágico de Spielberg nos pegando reféns pela nostalgia. Mexendo com nossos sentimentos juvenis, e nos fazendo voltar a ser criança. Existe toda uma sequência na qual os personagens literalmente adentram um clássico do cinema de terror que é de tirar o fôlego. É impressionante e extasiante.

As cenas de ação acertam porque Spielberg sabe determinar as regras, debate-las na mesa e depois entrega-las. Não as vai inventando ou modificando conforme passa o tempo. E esse é o segredo do sucesso de Jogador Nº 1, que consegue constantemente nos surpreender e se superar a cada nova cena. Mesmo para os não iniciados no universo dos videogames de última geração, como este cinéfilo que vos fala, os momentos voltados a eles são especiais. O que é a sequência da corrida!? Posso dizer que há muito tempo um filme não conseguia me imergir em seu universo, ao ponto de esquecer estar assistindo a um filme e colar os olhos na tela, tamanha a interatividade e conexão. E dizer isso hoje em dia, é dizer muito, já que vivemos numa era na qual a cada fim de semana produções recheadas de efeitos visuais (a maioria sem alma) lotam as salas de cinema.

Jogador Nº 1 tem um pouco de tudo para agradar a todos. Também fala sério e se apropria do cerne da ficção científica, ou seja, falar do hoje através dos olhos do futuro. Imaginar os avanços e o caminho para onde iremos em breve. Aqui, o mundo virtual interligado, que distancia as pessoas no mundo real. Falando assim parece mensagem datada, o resultado, no entanto, se mostra mais urgente e necessário de que nunca, revelando um Spielberg antenado com a geração atual e longe de obsoleto. É como se através de uma máquina do tempo, o diretor em sua fase dos 80´s ou 90´s fosse transportado para a época atual com aquela mentalidade, mas com os recursos de hoje. Jogador Nº 1 é o filme que o jovem Spielberg faria, sem qualquer contaminação do Spielberg septuagenário. É o casamento perfeito entre nostalgia e modernidade. E o desejo é apenas de que este grande mestre permaneça jovem para nos presentear com cápsulas do tempo em nossos corações como esta.

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