quarta-feira , 6 novembro , 2024

Crítica | ‘Just Beyond’ é uma despreocupada série que entrega exatamente o que promete

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Depois do sucesso sem precedentes da trilogia ‘Rua do Medo’, na Netflix, R.L. Stine foi homenageado mais uma vez ao fechar acordo com o Disney+ e ter os direitos da série de quadrinhos Just Beyond adquiridos para uma adaptação aos moldes da Casa Mouse – isso é, uma investida mais destinada ao público jovem. É claro que essa releitura seriada, desenrolada em oito episódios de meia hora cada, segue os passos de tantas outras obras de Stine, como Goosebumps, mas deixa de lado o teor arrepiante em prol de mensagens que explorem a independência, o empoderamento e os laços familiares e de amizade que são extremamente importantes para o desenvolvimento pessoal.

De certo modo, as escolhas estéticas e técnicas são bastante práticas dentro do restrito escopo em que a série se insere. O time de roteiristas e diretores é bem diverso, mas é notável como o propósito de todos eles é mastigar temas complexos de serem analisados – e levados a espectadores mais novos – e entregá-los com um profundo didatismo que, por vezes, se mostra cansativo e sem muita ousadia. De qualquer forma, o resultado é exatamente o que esperávamos de uma produção desse calibre e, em suma, destina-se a um entretenimento sem grandes reviravoltas e que pode ser aproveitado em um final de semana qualquer ao lado da criançada.

O compilado de capítulos parte das mais diversas temáticas para dar vida às narrativas: McKenna Grace estrela o piloto ao interpretar Veronica, uma adolescente que deseja, a todo custo, mudar o mundo – mas que deixa seu lado mais rebelde levar a melhor e força os pais a mandá-la para um internato que mais se assemelha a um campo de treinamento militar. Lá, ela percebe que as outras meninas agem de forma estranha, como se tivessem sofrido lavagem cerebral; pouco depois, descobre que a diretora da escola, Srta. Genevieve (Nasim Pedrad), utiliza meios controversos para controlar as garotas e transformá-las em personagens saídas diretamente do clássico ‘Mulheres Perfeitas’. Como é possível ver, não há quaisquer resquícios de originalidade ou de ambição – mas Seth Grahame-Smith, criador da série, não tem desejo de fugir do óbvio, e sim abraçar as fórmulas e arquitetar um microcosmos nostálgico e prático.

A mesma ideia se alastra para as outras iterações: Gabriel Bateman e Arjun Athalye vivem melhores amigos que desconfiam que os pais sejam alienígenas – apenas para descobrir que a tênue linha que separa o bizarro do normal é muito mais densa do que aparenta; Rachel Marsh e Jy Prishkulnik interpretam adoráveis bruxinhas que navegam pelo falso moralismo e pelo preconceito velado de sua escola (uma metáfora bem-vinda, ainda que abrandada, às minorias sociais); Megan Stott lida com uma “maldição” de família no quarto episódio, encarnando a protagonista Olivia e insurgindo como um estandarte do que significa enfrentar os medos e superá-los; e Cyrus Arnold dá vida ao inesperado protagonista Trevor (que é, também, o antagonista de sua própria jornada de amadurecimento).

Nada é muito fora da curva – e, por esse motivo, não corre o risco de sofrer muito com pedantismos e tentativas falhas de carregar um peso maior do que consegue. Porém, mesmo com as boas intenções e o fato de servir como plataforma para uma nova geração de atores e de atrizes (aliás, o próprio conflito intergeracional entra como mote para vários capítulos), há certos elementos que falham em entregar o que deveriam e que poderiam ser mais bem explorados. A brevidade da antologia é como uma faca de dois gumes: à medida que não cansa os espectadores com histórias longas e prolixas demais, deixa uma sensação agridoce de frustração e incompletude; no season finale, por exemplo, qualquer exercício de aproximação entre Sam (Cedric Joe) e Andy (Malcolm Barrett) é varrido para debaixo do tapete, descartado como um pedaço de plástico; em “We’ve Got Spirits, Yes We Do”, a belíssima delineação dos fantasmas e da insegurança de Ella (Lexi Underwood) sofre do mesmo mal – e, eventualmente, caminha para lugar nenhum.

A imagética da produção é algo evocativo ao extremo e, por essa razão, não consegue arquitetar uma identidade única – pelo contrário, se mostra apaixonada por investidas anteriores próprias de canais como Boomerang e Warner Bros. (vide a clássica série ‘A Hora do Arrepio’, exibida entre 2001 e 2002 e parte do panteão de Stine). Da mesma maneira, as mensagens finais são bem otimistas, porém, como já mencionado inúmeras vezes, tendo como público-alvo um grupo muito específico de pequenos que talvez não tenham discernimento para compreender a multiplicidade da vida e daqueles que os cercam.

Just Beyond passa longe de causar uma enorme impressão – e isso se vale pelo fato de não trazer nada a se temer (nenhuma criatura ou situação que nos deixe arrepiados); mesmo assim, acompanhar as aventuras de um elenco tão vasto é uma boa opção para as horas vagas e uma pedida interessante para comemorar o Dia das Bruxas, servindo essencialmente para isso.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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De certo modo, as escolhas estéticas e técnicas são bastante práticas dentro do restrito escopo em que a série se insere. O time de roteiristas e diretores é bem diverso, mas é notável como o propósito de todos eles é mastigar temas complexos de serem analisados – e levados a espectadores mais novos – e entregá-los com um profundo didatismo que, por vezes, se mostra cansativo e sem muita ousadia. De qualquer forma, o resultado é exatamente o que esperávamos de uma produção desse calibre e, em suma, destina-se a um entretenimento sem grandes reviravoltas e que pode ser aproveitado em um final de semana qualquer ao lado da criançada.

O compilado de capítulos parte das mais diversas temáticas para dar vida às narrativas: McKenna Grace estrela o piloto ao interpretar Veronica, uma adolescente que deseja, a todo custo, mudar o mundo – mas que deixa seu lado mais rebelde levar a melhor e força os pais a mandá-la para um internato que mais se assemelha a um campo de treinamento militar. Lá, ela percebe que as outras meninas agem de forma estranha, como se tivessem sofrido lavagem cerebral; pouco depois, descobre que a diretora da escola, Srta. Genevieve (Nasim Pedrad), utiliza meios controversos para controlar as garotas e transformá-las em personagens saídas diretamente do clássico ‘Mulheres Perfeitas’. Como é possível ver, não há quaisquer resquícios de originalidade ou de ambição – mas Seth Grahame-Smith, criador da série, não tem desejo de fugir do óbvio, e sim abraçar as fórmulas e arquitetar um microcosmos nostálgico e prático.

A mesma ideia se alastra para as outras iterações: Gabriel Bateman e Arjun Athalye vivem melhores amigos que desconfiam que os pais sejam alienígenas – apenas para descobrir que a tênue linha que separa o bizarro do normal é muito mais densa do que aparenta; Rachel Marsh e Jy Prishkulnik interpretam adoráveis bruxinhas que navegam pelo falso moralismo e pelo preconceito velado de sua escola (uma metáfora bem-vinda, ainda que abrandada, às minorias sociais); Megan Stott lida com uma “maldição” de família no quarto episódio, encarnando a protagonista Olivia e insurgindo como um estandarte do que significa enfrentar os medos e superá-los; e Cyrus Arnold dá vida ao inesperado protagonista Trevor (que é, também, o antagonista de sua própria jornada de amadurecimento).

Nada é muito fora da curva – e, por esse motivo, não corre o risco de sofrer muito com pedantismos e tentativas falhas de carregar um peso maior do que consegue. Porém, mesmo com as boas intenções e o fato de servir como plataforma para uma nova geração de atores e de atrizes (aliás, o próprio conflito intergeracional entra como mote para vários capítulos), há certos elementos que falham em entregar o que deveriam e que poderiam ser mais bem explorados. A brevidade da antologia é como uma faca de dois gumes: à medida que não cansa os espectadores com histórias longas e prolixas demais, deixa uma sensação agridoce de frustração e incompletude; no season finale, por exemplo, qualquer exercício de aproximação entre Sam (Cedric Joe) e Andy (Malcolm Barrett) é varrido para debaixo do tapete, descartado como um pedaço de plástico; em “We’ve Got Spirits, Yes We Do”, a belíssima delineação dos fantasmas e da insegurança de Ella (Lexi Underwood) sofre do mesmo mal – e, eventualmente, caminha para lugar nenhum.

A imagética da produção é algo evocativo ao extremo e, por essa razão, não consegue arquitetar uma identidade única – pelo contrário, se mostra apaixonada por investidas anteriores próprias de canais como Boomerang e Warner Bros. (vide a clássica série ‘A Hora do Arrepio’, exibida entre 2001 e 2002 e parte do panteão de Stine). Da mesma maneira, as mensagens finais são bem otimistas, porém, como já mencionado inúmeras vezes, tendo como público-alvo um grupo muito específico de pequenos que talvez não tenham discernimento para compreender a multiplicidade da vida e daqueles que os cercam.

Just Beyond passa longe de causar uma enorme impressão – e isso se vale pelo fato de não trazer nada a se temer (nenhuma criatura ou situação que nos deixe arrepiados); mesmo assim, acompanhar as aventuras de um elenco tão vasto é uma boa opção para as horas vagas e uma pedida interessante para comemorar o Dia das Bruxas, servindo essencialmente para isso.

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