segunda-feira , 4 novembro , 2024

Crítica | Kadaver – Uma ‘Alice no País das Maravilhas’ Versão TERROR na Netflix

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Os contos de fadas nem sempre buscavam alcançar (apenas) o público infantil. Quando escritos, por vezes eles visavam também o público adulto e possuíam mensagens subliminares oriundas de períodos sombrios da humanidade. Hoje, muitos estudos ajudam a esclarecer essas histórias, o que as abre para novas possibilidades de olhares. Através dessa nova perspectiva, chega à Netflix o terrorKadaver’.

Numa cidade arrasada pela guerra, onde as pessoas sequer têm o que comer e literalmente estão morrendo de fome e de frio pelas ruas, uma família tenta sobreviver escondida em casa. A pequena Alice (Tuva Olivia Remman) tem medo do bicho-papão, mas sua mãe, a ex-atriz Leo (Gitte Witt), os espanta para longe. Mas a verdade é que a família está na miséria, e Leo tenta usar o lúdico para que a realidade não afete sua filha. Tudo muda certa noite com a chegada de um misterioso teatro à cidade, que oferece aos moradores não só entretenimento, mas também um prato de comida. Com essa proposta tão atraente, Leo, Alice e Jacob (Thomas Gullestad) vão ao teatro de Mathias (Thorbjørn Harr), onde realidade e ficção se misturam de maneira bizarra e nada é o que parece.

Embora muitas pessoas possam achar ‘Kadaver’ previsível, ele só o é por uma única razão: o espectador já conhece o caminho dessa história por conta de seu grande referencial, ‘Alice no País das Maravilhas’. Os principais elementos da história de Lewis Carroll estão lá: a menina loira Alice, o coelho, o chá (que no filme vira um banquete), o anfitrião maluco (Mathias), o “corte a cabeça deles”, o espelho, os buracos, a questão do tempo e os inúmeros caminhos pelos quais se deve percorrer para voltar para casa. Não à toa, quando a família chega ao teatro, o mote do longa é apresentado pelo personagem Mathias, que vira para a pequena Alice e convida: “Alice? Você me deixa mostrar o meu País das Maravilhas para você?”

Com um argumento tão maneiro como esse e uma boa execução, Jarand Herdal acerta o tom na direção e no roteiro de ‘Kadaver’, desenrolando-o no tempo certo e uma boa produção de arte, ainda que perca um pouco de fôlego no terço final. Mesmo que o conceito do longa seja entregue de bandeja (com o perdão do trocadilho), muitos espectadores podem não pescar essa ideia, e tá tudo bem porque o filme se resolve mesmo sem essa perspectiva aliciana.

Outro aspecto muito interessante de ‘Kadaver’ (cujo título não faz jus à profundidade da produção, embora sirva para atrair o cinéfilo) é que ele manipula a curiosidade do espectador fazendo seus protagonistas irem atrás das informações junto com a gente. Aliás, essa é a proposta do tal teatro fictício: através do viés da peça itinerante, o público deve seguir os atores dentro da mansão de acordo com sua vontade, indo atrás do personagem cujo conflito lhe pareça mais interessante; em contrapartida, esses atores devem compor cenários super atraentes, de modo a fisgar o público.

Pelo viés do terror slasher e clássico, o longa norueguês ‘Kadaver’ é uma das produções mais originais da Netflix e, em duas horas de duração, entretém e gera repulsa – como um bom filme de terror deve fazer.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Numa cidade arrasada pela guerra, onde as pessoas sequer têm o que comer e literalmente estão morrendo de fome e de frio pelas ruas, uma família tenta sobreviver escondida em casa. A pequena Alice (Tuva Olivia Remman) tem medo do bicho-papão, mas sua mãe, a ex-atriz Leo (Gitte Witt), os espanta para longe. Mas a verdade é que a família está na miséria, e Leo tenta usar o lúdico para que a realidade não afete sua filha. Tudo muda certa noite com a chegada de um misterioso teatro à cidade, que oferece aos moradores não só entretenimento, mas também um prato de comida. Com essa proposta tão atraente, Leo, Alice e Jacob (Thomas Gullestad) vão ao teatro de Mathias (Thorbjørn Harr), onde realidade e ficção se misturam de maneira bizarra e nada é o que parece.

Embora muitas pessoas possam achar ‘Kadaver’ previsível, ele só o é por uma única razão: o espectador já conhece o caminho dessa história por conta de seu grande referencial, ‘Alice no País das Maravilhas’. Os principais elementos da história de Lewis Carroll estão lá: a menina loira Alice, o coelho, o chá (que no filme vira um banquete), o anfitrião maluco (Mathias), o “corte a cabeça deles”, o espelho, os buracos, a questão do tempo e os inúmeros caminhos pelos quais se deve percorrer para voltar para casa. Não à toa, quando a família chega ao teatro, o mote do longa é apresentado pelo personagem Mathias, que vira para a pequena Alice e convida: “Alice? Você me deixa mostrar o meu País das Maravilhas para você?”

Com um argumento tão maneiro como esse e uma boa execução, Jarand Herdal acerta o tom na direção e no roteiro de ‘Kadaver’, desenrolando-o no tempo certo e uma boa produção de arte, ainda que perca um pouco de fôlego no terço final. Mesmo que o conceito do longa seja entregue de bandeja (com o perdão do trocadilho), muitos espectadores podem não pescar essa ideia, e tá tudo bem porque o filme se resolve mesmo sem essa perspectiva aliciana.

Outro aspecto muito interessante de ‘Kadaver’ (cujo título não faz jus à profundidade da produção, embora sirva para atrair o cinéfilo) é que ele manipula a curiosidade do espectador fazendo seus protagonistas irem atrás das informações junto com a gente. Aliás, essa é a proposta do tal teatro fictício: através do viés da peça itinerante, o público deve seguir os atores dentro da mansão de acordo com sua vontade, indo atrás do personagem cujo conflito lhe pareça mais interessante; em contrapartida, esses atores devem compor cenários super atraentes, de modo a fisgar o público.

Pelo viés do terror slasher e clássico, o longa norueguês ‘Kadaver’ é uma das produções mais originais da Netflix e, em duas horas de duração, entretém e gera repulsa – como um bom filme de terror deve fazer.

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