quarta-feira, agosto 20, 2025
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    Crítica | Kesha mergulha numa jornada de empoderamento e libertação com o ótimo ‘Period’

    Após quase uma década de batalhas judiciais contra Dr. Luke em virtude de alegações de abuso psicológico e sexual, Kesha finalmente se libertou das amarras do passado e deu início a um novo capítulo de sua carreira: depois de finalizar contrato com a label RCA, a cantora e compositora indicada ao Grammy fundou sua própria companhia como uma expressão clara de seu empoderamento e de maneira a trilhar um caminho que resgataria seus anos de glória na indústria musical – afinal, todos nós nos lembramos das clássicas canções pop da performer que dominavam as pistas de dança e as playlists ao redor do mundo no final dos anos 2000 e começo dos anos 2010 – e que lhe rendeu um de seus melhores álbuns.

    Intitulado ‘Period’ (e estilizado como ‘.’), o mais novo compilado de originais de Kesha é um reflexo direto de seu amadurecimento e de sua paixão pelo hedonismo e pelo prazer – singrando pela letárgica melancolia que vem acompanhada do escapismo artístico. Apoiando-se nas conhecidas incursões do pop, do hyperpop e do electro-pop, a cantora abriu essa era com o ótimo lead single “JOYRIDE.”, funcionando como uma amálgama explosiva de EDM, pop, eletrônica e até mesmo polka para construir uma narrativa focada no amor-próprio de maneira sensual, envolvente e que, sem sombra de dúvida, merecia mais reconhecimento do que tem. Configurando-se como uma das melhores faixas do ano passado e um dos destaques do álbum, a track foi apenas o pontapé inicial de um sólido corpo fonográfico que, mesmo com alguns deslizes, cumpre com o que promete.

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    O projeto parte de uma estrutura um tanto quanto similar a ‘MAYHEM’, lançado por Lady Gaga há alguns meses, no tocante ao “caos controlado” que abre espaço para inúmeros estilos musicais em uma única ambientação – e que, de forma propositalmente maximizada, possui sua própria coesão a princípio ininteligível, mas que se transforma em uma materialização das pulsões da artista. E nosso primeiro gostinho dessa profusão estilística vem com “FREEDOM.”, um épico cinemático de quase seis minutos e meio que se inicia com as doces notas de um piano e poderosos vocais à la Florence Welch, até verterem-se em pulsões do disco e do funk guiados pelo teatral verso “eu só bebo quando estou feliz, e estou bêbada agora” e pela óbvia mensagem de emancipação promovida pela faixa.

    Após o capítulo inicial, Kesha mergulha de cabeça em uma mixórdia vibrante de diversos gêneros e subgêneros, apostando fichas em um resgate de suas incursões predecessoras que culminam em uma declamação testamentária – mas sem impedi-la de explorar coisas novas. “YIPPEE-KI-YAY.” conta com batidas muito bem demarcadas que acompanham um country-pop mesclado com hoedown que funciona em boa parte; “RED FLAG.” nos leva de volta aos anos 2010 com notáveis sintetizadores que pegam páginas emprestadas das canções mais mercadológicas de Charli XCX em uma narrativa que fala sobre o apreço da artista por homens que levam a perigosa “bandeira vermelha” (“todos os caras legais me deixaram morta por dentro; eu gosto do caos transbordando”); e “BOY CRAZY.” traz elementos do synth-techno para uma construção fora do tempo e, ao mesmo tempo, pertencente a uma cronologia única e inescapável.

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    As variedades continuam mesmo em faixas similares – como o claro apreço da cantora e compositora por composições em power-pop: temos, por exemplo, a impecável “DELUSIONAL.”, que constrói uma atmosfera ecoante à medida que lança o eu-lírico em uma jornada coming-of-age transformadora; “THE ONE.” traz batidas similares a outras faixas do compilado, porém, remodeladas para acompanhar a legião de trompetes que lhe confere uma altivez inescapável – tornando-a não só uma das entradas mais bem estruturadas do álbum, mas uma celebração do retorno da “filha pródiga” à casa (neste caso, ao seu próprio eu). E, em meio a íntimas festividades de alegria e de libertação, incursões como “LOVE FOREVER.” e “TOO HARD.” nos convidam a uma despojada viagem pelo tempo, unindo passado e presente em um mesmo lugar de maneira inebriante e nostálgica.

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    Como mencionado alguns parágrafos acima, o disco não é livre de problemas – mas os momentâneos deslizes não têm força o suficiente para apagar o brilho que a performer nos entrega. “GLOW” é uma das iterações que parece ter sido pensada de última hora, equilibrando-se em uma corda bamba de experimentações cruas que nunca alcançam a plenitude de seu objetivo e se escondem em um triste desperdício de potencial; e “CATHEDRAL.”, música que encerra o álbum, parte de uma certeira escolha que se transmuta em um amontoado de progressões e arranjos que encobrem a sinestesia pela qual se preza.

    ‘Period’ é um glorioso retorno de Kesha ao cenário fonográfico e funciona como um dos mais importantes capítulos de sua carreira ao colocá-la nas rédeas de toda sua veia artística. E, após passar por diversos problemas e sofrimentos, essa resiliente artista mostra que permanece em pé e com muito a nos contar, apoiando-se na maximização sensorial à medida que usa a música como processo de cura e de empoderamento.

    Nota por faixa:

    1. FREEDOM. – 4,5/5
    2. JOYRIDE. – 5/5
    3. YIPPEE-KI-YAY., feat. T-Pain – 3,5/5
    4. DELUSIONAL. – 4/5
    5. RED FLAG. – 4/5
    6. LOVE FOREVER. – 4,5/5
    7. THE ONE. – 5/5
    8. BOY CRAZY. – 3,5/5
    9. GLOW. – 2/5
    10. TOO HARD. – 4,5/5
    11. CATHEDRAL. – 3/5

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