domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Kylie Minogue entrega um dos melhores álbuns de sua carreira com o explosivo ‘Tension’

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Kylie Minogue começou sua carreira musical em meados dos anos 1980 e, apesar de ter sido taxada como uma performer pré-fabricada, provou o contrário para aqueles que não acreditavam em seu potencial e, em pouco tempo, transformou-se em uma das maiores lendas da música. A cantora e compositora australiana sempre teve uma paixão inexplicável pelo hedonismo e pelo prazer musical, construindo hinos dançantes e envolventes que ficariam marcados na história – como “Can’t Get You Out of My Head”, “Come Into My World”, “All The Lovers” e tantas outras. Em 2020, Minogue passou por um merecido renascimento ao se apropriar das incursões artísticas dos anos 1970 e 1980 com o ótimo Disco.

Três anos mais tarde, a performer anunciou que estava pronta para abrir um novo capítulo de sua vida com o aguardado ‘Tension’. E, até o lançamento oficial do álbum, ela nos presenteou com o lead single “Padam Padam”, uma explosão de electro-pop e synth-pop que se tornou música obrigatória das playlists ao redor do mundo e se tornou um sucesso viral; e a experimental faixa titular, facilmente uma das melhores entradas de sua carreira, em que as distorções vocais e a produção propositalmente exagerada são um deleite sonoro e nos instigam desde os primeiros toques. Mas Kylie estava guardando o melhor para depois e, no final das contas, seu 16º compilado de originais é um dos principais destaques da carreira e, sem sombra de dúvida, um dos melhores lançamentos da década.



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Em um dos vários comentários para promover o disco, Minogue afirmou que, diferente de suas duas últimas incursões, ‘Tension’ não veio acompanhado de um tema, e sim de uma liberdade criativa que se desenrolava pouco a pouco. “Queria celebrar a individualidade de cada música e mergulhar nessa liberdade. Eu diria que é uma mistura de reflexões pessoais, abandono de clubes e picos melancólicos”, ela disse. E tal ambição, muitas vezes problemática, se concretizou com um testamento da artista a si mesma, perpassando por todas as incríveis eras que já entregou a seus fãs em uma vibrante explosão de dance-pop, electro, pop-rock, disco e house – cuja prometida individualidade é, em contraposição, o fio condutor desse coeso anthem das pistas de dança.

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O único “crime” cometido pelo álbum é sua curta duração; cada uma das tracks (e aqui incluo as faixas da versão deluxe) é pensada com maestria e, ainda que conte com uma gama considerável de produtores, todos trabalham em conjunto para nos convidar a um escape fonográfico muito bem-vindo e que nos ajuda a esquecer dos problemas e obstáculos cotidianos. Inclusive, um dos ápices do álbum emerge com a participação acertada de Biff Stannard, Duck Blackwell, Jon Green e outros nomes que já trabalharam com Kylie no passado e voltam sedentos por algo original e nostálgico, ao mesmo tempo. Não é surpresa que a multiplicidade de progressões e instrumentais arquitete um cosmos atemporal, sem cair nas fórmulas do anacronismo criativo, apostando na retumbância e numa certa emancipação que reitera o status inegável da cantora.

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‘Tension’ é um convite ao túnel do tempo; após “Padam Padam”, Minogue volta para meados dos anos 1990 com o synth-electro-house de “Hold On To Now”, uma potente construção instrumental que, logo de cara, traz os elementos melancólicos dos quais falara. E, por mais que percebamos um crescendo familiar, nada tira a beleza da canção, ainda mais levando em consideração a presença vocal da artista e o quanto ela está confortável para fazer o que bem entender. Em “You Still Get Me High”, uma das primeiras grandes viradas rítmicas, Kylie mergulha na semi-balada electro-dance enquanto rumina sobre um caso romântica que continua lhe trazendo boas memórias e eternizando um sentimento que ela não quer perder – e isso não é tudo: a música vem entrelaçando similaridades com a impecável “Things We Do For Love” (e prestando homenagens a nomes como a-ha, cujas inspirações são bastante claras).

“One More Time” apoia-se no classicismo do house e do disco de modo a manter estruturas evocativas com Disco e, até mesmo, com os anos iniciais de sua carreira. Aqui, o piano e os saxofones são as forças-motrizes de um hino dançante ready-made (no melhor sentido da expressão), instigante e que cria uma ponte entre as tendências oitentistas do começo dessa década e uma celebração de tudo o que a antecedeu. “Hands”, a música mais inesperada e única do álbum, traz uma mistura do R&B e do funk explorados tantos por Doja Cat quanto por En Vogue e TLC – além de dar espaço para brincadeiras vocais invejáveis e que beiram uma bem-vinda mística que nos desatrela do tempo e do espaço. “Vegas High”, a melhor entrada do álbum e uma das construções mais memoráveis do catálogo de Minogue, nos arremessa para os anos 1990 e nos reencontra com ATC e Cascada para uma erupção vulcânica do club techno, regado a sintetizadores e a um refrão antêmico, declamatório e que preza pelo carpe diem, pela vivência do momento e pela efemeridade do agora.

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Se Kylie já havia nos encantado com Disco, ela consegue superar todas as expectativas com mais um álbum incrível do começo ao fim com ‘Tension’. Aqui, a performer indica que tem muito mais a nos contar e, através de uma plena consciência de sua capacidade artística, mantém-se num aplaudível frescor mesmo quatro décadas depois de seu début.

Nota por faixa:

1. Padam Padam – 4/5
2. Hold on to Now – 5/5
3. Things We Do for Love – 5/5
4. Tension – 5/5
5. One More Time – 4,5/5
6. You Still Get Me High – 4,5/5
7. Hands – 5/5
8. Green Light – 4,5/5
9. Vegas High – 5/5
10. 10 Out of 10 (com Oliver Heldens) – 3/5
11. Story – 4,5/5
12. Love Train – 3,5/5
13. Just Imagine – 4/5
14. Somebody To Love – 4/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Kylie Minogue começou sua carreira musical em meados dos anos 1980 e, apesar de ter sido taxada como uma performer pré-fabricada, provou o contrário para aqueles que não acreditavam em seu potencial e, em pouco tempo, transformou-se em uma das maiores lendas da música. A cantora e compositora australiana sempre teve uma paixão inexplicável pelo hedonismo e pelo prazer musical, construindo hinos dançantes e envolventes que ficariam marcados na história – como “Can’t Get You Out of My Head”, “Come Into My World”, “All The Lovers” e tantas outras. Em 2020, Minogue passou por um merecido renascimento ao se apropriar das incursões artísticas dos anos 1970 e 1980 com o ótimo Disco.

Três anos mais tarde, a performer anunciou que estava pronta para abrir um novo capítulo de sua vida com o aguardado ‘Tension’. E, até o lançamento oficial do álbum, ela nos presenteou com o lead single “Padam Padam”, uma explosão de electro-pop e synth-pop que se tornou música obrigatória das playlists ao redor do mundo e se tornou um sucesso viral; e a experimental faixa titular, facilmente uma das melhores entradas de sua carreira, em que as distorções vocais e a produção propositalmente exagerada são um deleite sonoro e nos instigam desde os primeiros toques. Mas Kylie estava guardando o melhor para depois e, no final das contas, seu 16º compilado de originais é um dos principais destaques da carreira e, sem sombra de dúvida, um dos melhores lançamentos da década.

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Em um dos vários comentários para promover o disco, Minogue afirmou que, diferente de suas duas últimas incursões, ‘Tension’ não veio acompanhado de um tema, e sim de uma liberdade criativa que se desenrolava pouco a pouco. “Queria celebrar a individualidade de cada música e mergulhar nessa liberdade. Eu diria que é uma mistura de reflexões pessoais, abandono de clubes e picos melancólicos”, ela disse. E tal ambição, muitas vezes problemática, se concretizou com um testamento da artista a si mesma, perpassando por todas as incríveis eras que já entregou a seus fãs em uma vibrante explosão de dance-pop, electro, pop-rock, disco e house – cuja prometida individualidade é, em contraposição, o fio condutor desse coeso anthem das pistas de dança.

O único “crime” cometido pelo álbum é sua curta duração; cada uma das tracks (e aqui incluo as faixas da versão deluxe) é pensada com maestria e, ainda que conte com uma gama considerável de produtores, todos trabalham em conjunto para nos convidar a um escape fonográfico muito bem-vindo e que nos ajuda a esquecer dos problemas e obstáculos cotidianos. Inclusive, um dos ápices do álbum emerge com a participação acertada de Biff Stannard, Duck Blackwell, Jon Green e outros nomes que já trabalharam com Kylie no passado e voltam sedentos por algo original e nostálgico, ao mesmo tempo. Não é surpresa que a multiplicidade de progressões e instrumentais arquitete um cosmos atemporal, sem cair nas fórmulas do anacronismo criativo, apostando na retumbância e numa certa emancipação que reitera o status inegável da cantora.

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‘Tension’ é um convite ao túnel do tempo; após “Padam Padam”, Minogue volta para meados dos anos 1990 com o synth-electro-house de “Hold On To Now”, uma potente construção instrumental que, logo de cara, traz os elementos melancólicos dos quais falara. E, por mais que percebamos um crescendo familiar, nada tira a beleza da canção, ainda mais levando em consideração a presença vocal da artista e o quanto ela está confortável para fazer o que bem entender. Em “You Still Get Me High”, uma das primeiras grandes viradas rítmicas, Kylie mergulha na semi-balada electro-dance enquanto rumina sobre um caso romântica que continua lhe trazendo boas memórias e eternizando um sentimento que ela não quer perder – e isso não é tudo: a música vem entrelaçando similaridades com a impecável “Things We Do For Love” (e prestando homenagens a nomes como a-ha, cujas inspirações são bastante claras).

“One More Time” apoia-se no classicismo do house e do disco de modo a manter estruturas evocativas com Disco e, até mesmo, com os anos iniciais de sua carreira. Aqui, o piano e os saxofones são as forças-motrizes de um hino dançante ready-made (no melhor sentido da expressão), instigante e que cria uma ponte entre as tendências oitentistas do começo dessa década e uma celebração de tudo o que a antecedeu. “Hands”, a música mais inesperada e única do álbum, traz uma mistura do R&B e do funk explorados tantos por Doja Cat quanto por En Vogue e TLC – além de dar espaço para brincadeiras vocais invejáveis e que beiram uma bem-vinda mística que nos desatrela do tempo e do espaço. “Vegas High”, a melhor entrada do álbum e uma das construções mais memoráveis do catálogo de Minogue, nos arremessa para os anos 1990 e nos reencontra com ATC e Cascada para uma erupção vulcânica do club techno, regado a sintetizadores e a um refrão antêmico, declamatório e que preza pelo carpe diem, pela vivência do momento e pela efemeridade do agora.

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Se Kylie já havia nos encantado com Disco, ela consegue superar todas as expectativas com mais um álbum incrível do começo ao fim com ‘Tension’. Aqui, a performer indica que tem muito mais a nos contar e, através de uma plena consciência de sua capacidade artística, mantém-se num aplaudível frescor mesmo quatro décadas depois de seu début.

Nota por faixa:

1. Padam Padam – 4/5
2. Hold on to Now – 5/5
3. Things We Do for Love – 5/5
4. Tension – 5/5
5. One More Time – 4,5/5
6. You Still Get Me High – 4,5/5
7. Hands – 5/5
8. Green Light – 4,5/5
9. Vegas High – 5/5
10. 10 Out of 10 (com Oliver Heldens) – 3/5
11. Story – 4,5/5
12. Love Train – 3,5/5
13. Just Imagine – 4/5
14. Somebody To Love – 4/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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