terça-feira, dezembro 23, 2025
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Crítica | La Vingança

Comédia com jeitinho dos hermanos

La Vingança é a nova comédia nacional, que marca a estreia na direção de Fernando Fraiha, produtor de filmes como Reza a Lenda (2016) e do recente TOC: Transtornada Obsessiva Compulsiva. O roteiro escrito a seis mãos, partindo de uma ideia de Jiddu Pinheiro, e que inclui assinatura do próprio Fraiha também, resolve estreitar os laços entre Brasil e Argentina, já que o cinema dos hermanos é visto com ótimos olhos em nossa terra.

Na trama, Caco (Felipe Rocha) acaba de flagrar a traição da namorada Julia (Leandra Leal), que termina o relacionamento logo em seguida. Arrasado, sem saber como prosseguir, ele é incentivado pelo melhor amigo Vadão (Daniel Furlan) a ir atrás da moça e reconquistá-la. A missão não será das mais fáceis, vide que a ex agora está na Argentina, justamente ao lado do novo companheiro, um chef celebridade, dono de um famoso restaurante no país. Mas a distância não é nada para um coração apaixonado em busca de redenção. Assim, Caco e Vadão partem no road trip tupiniquim mais alucinado do cinema nacional.

La Vingança é justamente isso, um road movie, no qual uma dupla de desajustados sociais perpassam pelas situações mais insanas e non sense até seu destino final. O contrabalanço dos personagens é ideal, enquanto Caco é o típico loser, retraído, que só consegue enxergar a parte do copo vazio, Vadão é o extremo oposto, perigosamente otimista, sem um limite traçado entre a realidade e o objetivo de suas ações. Ele é o personagem tresloucado e carismático que costuma roubar os holofotes em filmes.

No trajeto dos heróis amontoam-se situações anormais, traduzidas de forma satisfatória das páginas para a tela. Entre problemas com o carro, conquistas intermináveis (incluindo uma noiva fujona), problemas com a lei e novas amizades, a dupla tira dos encontros a graça necessária para garantir as risadas. Sabemos bem que comédia é o gênero mais difícil de fazer e o êxito de La Vingança se deve à mescla de um roteiro de piadas sujas, mas não banais, o carisma dos intérpretes (em especial de Furlan, cujo personagem precisa funcionar bem) e timing para o humor, provido pela mão certeira de Fraiha.

A maior satisfação que se tem ao término de La Vingaça é perceber o quanto despretensiosa é esta comédia. O objetivo é realmente desenvolver e apresentar bons personagens, retirando das situações mundanas e de como eles lidam com as tais, o humor implícito em tudo. Mas o roteiro também resolve falar sério e acrescenta dramaticidade na relação fraternal entre os protagonistas, discutindo o verdadeiro significado da amizade, relacionamento ao qual a importância é cada vez mais subestimada nos tempos céticos e intolerantes de hoje. A única reclamação quanto a La Vingança é não utilizar Leandra Leal, musa do cinema brasileiro do momento, o suficiente. Toda e qualquer produção cinematográfica se beneficia da presença da atriz talentosa.

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Pablo R. Bazarello
Crítico, cinéfilo dos anos 80, membro da ACCRJ, natural do Rio de Janeiro. Apaixonado por cinema e tudo relacionado aos anos 80 e 90. Cinema é a maior diversão. A arte é o que faz a vida valer a pena. 15 anos na estrada do CinePOP e contando...
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