quarta-feira , 25 dezembro , 2024

Crítica | Like a Virgin – Madonna e suas aventuras amorosas

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Quando ouvimos o nome Madonna, automaticamente pensamos em um dos maiores nomes da história da música – não apenas por suas rendições atemporais que acompanham gerações até hoje, mas também pela capacidade da performer em chocar o público desde sua consagração em 1983 com seu primeiro álbum de estúdio autointitulado. Porém, sua capacidade de nos envolver com letras e escopos musicais explícitos veio um ano depois com o lançamento de Like a Virgin, seguindo o sucesso sem precedentes do memorável début.

Em sua segunda obra, a artista buscava uma maior autonomia produtiva, porém não conseguiu o aval da produtora de seus discos. Por essa razão, Madonna aventurou-se em uma autodescoberta de independência ao lado de Nile Rodgers, confiando nele para tornar real a possibilidade de diversos sucessos, ainda mais considerando que Rodgers já havia trabalhado com o lendário David Bowie. O resultado, mesmo não chegando no mesmo patamar que o disco anterior, foi bastante aprazível e permitiu que ela marcasse mais uma vez em um árduo trabalho – que gerou canções revisitadas por diversos outros nomes, conterrâneos ou futuros.



A primeira track é um irônico mergulho no mundo capitalista, travestido em versos dançantes e uma paixão inenarrável da cantora pela bombshell Marilyn Monroe, buscando referências estéticas de “Diamonds Are a Girl’s Best Friend” em 1953, provando que não pensaria duas vezes em honrar algumas de suas maiores influências. Não é surpresa que, em união ao videoclipe, “Material Girl” transforme-se em um intrínseco desejo do eu-lírico em conquistar o que sempre almejou; os arranjos sintéticos marcam correlações com o CD predecessor, mas abre um terreno fértil para que Madonna explore um delicioso soubrette, uma afetação que conversa com sua reafirmação de gênero em uma causalidade a priori superficial, porém dotada de um cinismo dançante acompanhado pela mutável bateria. Em comparação à contemporaneidade, a música pode erroneamente transmitir uma sensação datada – refutada pela robótica voz de Frank Simms que acompanha a lead singer.

Assista também:
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O soubrette apareceria mais uma vez com Like a Virgin, cuja estruturação híbrida entre os sintetizadores e o teclado é simplesmente divina e reflete o apreço da cantora com os instrumentais em questão. A explicitação, levando em conta a época perscrutada por tabus em que a faixa foi lançada, é sexy e dotada de controvérsias apaixonantes: “como uma virgem, tocada pela primeira vez” é o verso que inicia cada um dos refrãos cada vez com mais potência.

O álbum em si peca por alguns excessos que não são facilmente ignoráveis, a começar pela saturada repetição monofônica de investidas recicladas: temos em “Angel”, por exemplo, uma construção confessional acompanhada pelos arranjos do electro-pop e por uma rendição mais grave da lead, que não perde a oportunidade de fazer declarações e mais declarações para um caso amoroso – mantendo estritas relações contraditórias com “I Know It” e “Physical Attraction”. Entretanto, a belíssima construção lírica e sonora perde força quando comparada com o cíclico e monótono “você é um anjo” (“you’re an angel”), que insurge em primeiro plano mais vezes do que deveria. O mesmo acontece equívoco dá as caras em “Dress You Up”, cujo escopo revitalizante e onírico entrega os holofotes para a explosão de “vou te vestir com meu amor” (“gonna dress you up in my love”). É interessante e trágico ao mesmo tempo como os backing vocals ganham mais expressividade que a artista em si.

As repetições também aparecem em “Over and Over”, mas não causam a mesma sensação extenuante de antes. A dinâmica faixa é nostálgica e atual ao mesmo tempo, funcionando como uma espécie de mensagens de apoio para os ouvintes, pedindo para que, caso a vida lhes derrube, que se levantem e tentem “de novo e de novo”. Tal supressão das infelicidades das múltiplas esferas cotidianas é logo jogada propositalmente no lixo com a chegada de “Love Don’t Live Here Anymore”, uma impecável balada que faz ótimo uso do violino e do violão, criando uma épica espontaneidade e dividindo o centro de nossas atenções entre a atmosfera efusiva e uma entrega extremamente tocante.

“Pretender”, por sua vez, cria em nós uma expectativa quase noir, utilizando as desnecessárias repetições de tracks anteriores a seu favor, colocando-as já no ato de abertura. Todavia, essa troca não é o suficiente para tirar-lhe as construções formulaicas e os convencionalismos que seriam apenas retirados em sua totalidade com “Stay”. Aqui, o premeditável crescendo alterna com fluidas declinações, acompanhadas pela brutalidade contrastante da bateria que antecede as principais viradas. “Shoo-Bee-Doo” retoma as sensações oníricas integrantes de investidas anteriores, recebendo uma interessante romantização cuja confirmação é feita por versos como “eu vejo muita confusão [em seus olhos], e isso está me matando” – uma notável empatia que também se tornaria marca da discografia de Madonna.

Like a Virgin pode não ter o mesmo respiro inovador da obra anterior, mas ainda assim constrói-se em uma jornada repleta de declarações e confissões epistolares que mostram a vulnerabilidade de sua artista ao mesmo tempo que divulgam uma expressividade intimista sem igual.

Nota por faixa:

  • Material Girl – 5/5
  • Angel – 2,5/5
  • Like a Virgin – 4,5/5
  • Over and Over – 4/5
  • Love Don’t Live Here Anymore – 5/5
  • Dress You Up – 3/5
  • Shoo-Bee-Doo – 3,5/5
  • Pretender – 3,5/5
  • Stay – 4/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Quando ouvimos o nome Madonna, automaticamente pensamos em um dos maiores nomes da história da música – não apenas por suas rendições atemporais que acompanham gerações até hoje, mas também pela capacidade da performer em chocar o público desde sua consagração em 1983 com seu primeiro álbum de estúdio autointitulado. Porém, sua capacidade de nos envolver com letras e escopos musicais explícitos veio um ano depois com o lançamento de Like a Virgin, seguindo o sucesso sem precedentes do memorável début.

Em sua segunda obra, a artista buscava uma maior autonomia produtiva, porém não conseguiu o aval da produtora de seus discos. Por essa razão, Madonna aventurou-se em uma autodescoberta de independência ao lado de Nile Rodgers, confiando nele para tornar real a possibilidade de diversos sucessos, ainda mais considerando que Rodgers já havia trabalhado com o lendário David Bowie. O resultado, mesmo não chegando no mesmo patamar que o disco anterior, foi bastante aprazível e permitiu que ela marcasse mais uma vez em um árduo trabalho – que gerou canções revisitadas por diversos outros nomes, conterrâneos ou futuros.

A primeira track é um irônico mergulho no mundo capitalista, travestido em versos dançantes e uma paixão inenarrável da cantora pela bombshell Marilyn Monroe, buscando referências estéticas de “Diamonds Are a Girl’s Best Friend” em 1953, provando que não pensaria duas vezes em honrar algumas de suas maiores influências. Não é surpresa que, em união ao videoclipe, “Material Girl” transforme-se em um intrínseco desejo do eu-lírico em conquistar o que sempre almejou; os arranjos sintéticos marcam correlações com o CD predecessor, mas abre um terreno fértil para que Madonna explore um delicioso soubrette, uma afetação que conversa com sua reafirmação de gênero em uma causalidade a priori superficial, porém dotada de um cinismo dançante acompanhado pela mutável bateria. Em comparação à contemporaneidade, a música pode erroneamente transmitir uma sensação datada – refutada pela robótica voz de Frank Simms que acompanha a lead singer.

O soubrette apareceria mais uma vez com Like a Virgin, cuja estruturação híbrida entre os sintetizadores e o teclado é simplesmente divina e reflete o apreço da cantora com os instrumentais em questão. A explicitação, levando em conta a época perscrutada por tabus em que a faixa foi lançada, é sexy e dotada de controvérsias apaixonantes: “como uma virgem, tocada pela primeira vez” é o verso que inicia cada um dos refrãos cada vez com mais potência.

O álbum em si peca por alguns excessos que não são facilmente ignoráveis, a começar pela saturada repetição monofônica de investidas recicladas: temos em “Angel”, por exemplo, uma construção confessional acompanhada pelos arranjos do electro-pop e por uma rendição mais grave da lead, que não perde a oportunidade de fazer declarações e mais declarações para um caso amoroso – mantendo estritas relações contraditórias com “I Know It” e “Physical Attraction”. Entretanto, a belíssima construção lírica e sonora perde força quando comparada com o cíclico e monótono “você é um anjo” (“you’re an angel”), que insurge em primeiro plano mais vezes do que deveria. O mesmo acontece equívoco dá as caras em “Dress You Up”, cujo escopo revitalizante e onírico entrega os holofotes para a explosão de “vou te vestir com meu amor” (“gonna dress you up in my love”). É interessante e trágico ao mesmo tempo como os backing vocals ganham mais expressividade que a artista em si.

As repetições também aparecem em “Over and Over”, mas não causam a mesma sensação extenuante de antes. A dinâmica faixa é nostálgica e atual ao mesmo tempo, funcionando como uma espécie de mensagens de apoio para os ouvintes, pedindo para que, caso a vida lhes derrube, que se levantem e tentem “de novo e de novo”. Tal supressão das infelicidades das múltiplas esferas cotidianas é logo jogada propositalmente no lixo com a chegada de “Love Don’t Live Here Anymore”, uma impecável balada que faz ótimo uso do violino e do violão, criando uma épica espontaneidade e dividindo o centro de nossas atenções entre a atmosfera efusiva e uma entrega extremamente tocante.

“Pretender”, por sua vez, cria em nós uma expectativa quase noir, utilizando as desnecessárias repetições de tracks anteriores a seu favor, colocando-as já no ato de abertura. Todavia, essa troca não é o suficiente para tirar-lhe as construções formulaicas e os convencionalismos que seriam apenas retirados em sua totalidade com “Stay”. Aqui, o premeditável crescendo alterna com fluidas declinações, acompanhadas pela brutalidade contrastante da bateria que antecede as principais viradas. “Shoo-Bee-Doo” retoma as sensações oníricas integrantes de investidas anteriores, recebendo uma interessante romantização cuja confirmação é feita por versos como “eu vejo muita confusão [em seus olhos], e isso está me matando” – uma notável empatia que também se tornaria marca da discografia de Madonna.

Like a Virgin pode não ter o mesmo respiro inovador da obra anterior, mas ainda assim constrói-se em uma jornada repleta de declarações e confissões epistolares que mostram a vulnerabilidade de sua artista ao mesmo tempo que divulgam uma expressividade intimista sem igual.

Nota por faixa:

  • Material Girl – 5/5
  • Angel – 2,5/5
  • Like a Virgin – 4,5/5
  • Over and Over – 4/5
  • Love Don’t Live Here Anymore – 5/5
  • Dress You Up – 3/5
  • Shoo-Bee-Doo – 3,5/5
  • Pretender – 3,5/5
  • Stay – 4/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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