quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | ‘Locke & Key’ chega ao fim com uma temporada instigante, ainda que agridoce

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Locke & Key tornou-se um dos grandes sucessos da Netflix ao chegar ao catálogo da plataforma de streaming no começo de 2020 – representando uma ótima adaptação dos quadrinhos homônimos de Joe Hill e Gabriel Rodriguez e conquistando o público e a crítica especializada. A história acompanha a família Locke, cuja longa história com uma mansão localizada na pequena cidade de Matheson a torna alvo de criaturas perigosas e assustadoras que querem encontrar chaves mágicas para controlar o universo.

Agora, caminhamos para a 3ª e última temporada da série – e a não tão longa jornada dos Locke termina de uma forma um tanto quanto satisfatória, ainda que deixe um gostinho agridoce pelo final já premeditado desde os primeiros episódios. A verdade é que Carlton Cuse, Meredith Averill e Aron Eli Coleite, que adaptaram as HQs para as telinhas, fizeram o possível para concluir, sem deixar muitas pontas soltas, a instigante narrativa nos apresentada há dois anos. Entretanto, o forte desejo de fornecer um final digno também serviu como um dos principais obstáculos enfrentados pela iteração – reiterado pelo desequilibrado ritmo que se espalha nos episódios e pela conclusão apressada de alguns arcos, como vemos desde o princípio. Eventualmente, as coisas se rearranjam em um catártico finale – e, no final das contas, isso é o que importa para os espectadores.



Como vimos na temporada anterior, a ameaça de Dodge (Laysla de Oliveira/Griffin Gluck) parece ter se dissipado e trazido um pouco de paz para os Locke – mas não sem suas derradeiras consequências. Enquanto Bode (Jackson Robert Scott), Kinsey (Emilia Jones) e Nina (Darby Stanchfield) desfrutam das memórias mágicas envolvendo as Chaves e os acontecimentos que quase o separaram, Tyler (Connor Jessup) é engolfado em um vórtice de culpabilidade depois da trágica morte da ex-namorada Jackie (Genevieve Kang). Para lidar com o luto de tê-la perdido, ele se recusa a ter qualquer conhecimento sobre a mística história da família e parte em uma jornada de superação e cura que o afasta dos irmãos e da mãe, transformando-se em um estranho.

Enquanto o drama familiar é uma das principais tramas a serem exploradas, com solidez e impacto maior na iteração final, ele não se sustentaria por conta própria. Em se tratando de uma série de fantasia, é necessário que uma ameaça sobrenatural e iminente pose como o antagonista que enfrentará o bem (representado pelos Locke): é aí que surge Frederick Gideon (Kevin Durand), eco de um impetuoso e mercenário capitão inglês da época da Revolução Americana. Na verdade, Frederick é apenas a personificação humanizada de um mortal demônio cujos objetivos envolvem a destruição do mundo dos humanos e a libertação das entidades que habitam sua dimensão – algo similar ao que Dodge desejava. Não é surpresa, pois, que o primeiro passo seja colocar as mãos em todas as Chaves.

É certo dizer que o constante embate de quem colocará as mãos nesses importantes objetos já ficou um tanto quanto cansativo – o que é irônica considerando que esse é o mote dos quadrinhos originais. Mas, dentro do contexto da série, o primeiro ciclo funciona com maior completude, visto que precisamos apresentar os personagens e dar o pontapé inicial que os guiará nesse arco de amadurecimento e de uma certa redenção desconstruída. O que soa diferente são as motivações de Frederick, que não quer as Chaves para benefício próprio, e sim visando a algo maior, que envolva o destino e a colisão de dois cosmos diferentes que irão digladiar para ver quem sairá vitorioso. Como percebemos desde os capítulos iniciais, o poder reunido por todas as Chaves consegue diluir a barreira entre as dimensões e criar uma fenda que servirá como passagem para entidades demoníacas mostrarem do que, de fato, são capazes.

O que mais nos chama a atenção na terceira temporada é a química do elenco: desde o início, a dinâmica dos Locke era exaltada com tanta paixão pelos atores principais que chegava a ser difícil acreditar que não eles não eram uma família de verdade. Jones demonstrou sua versatilidade performática ao participar do elogiado ‘No Ritmo do Coração’, que lhe rendeu uma indicação ao BAFTA; Jessup abraça seu personagem de forma absolutamente derradeira; e Stanchfield mostra que é uma das veteranas mais subestimadas do escopo do show business ao mostrar mais lados da cândida Nina; mas nosso foco vai para a atuação do jovem Scott, que, sem dúvida, teve maior espaço de crescimento para trabalhar com Bode – e que faz um trabalho magnífico nesse encerramento.

O grande problema, como mencionado nos parágrafos acima, é o ritmo do enredo: há uma discrepância notável entre o começo e o final da temporada que parece não querer dar o desfecho que os protagonistas e coadjuvantes merecem, arrastando-se por cenas esquecíveis que só voltam aos eixos quando é “tarde demais”, por assim dizer. A batalha final entre Frederick e os Locke (que traz Dodge de volta em uma participação muito bem-vinda) perde a densidade quando, em um piscar de olhos, as coisas se resolvem em um piscar de olhos. Caso os criadores tivessem tomado um pouco mais tempo para lapidar os excessos e os deslizes, a conclusão seria tão grandiosa quanto o esperado.

Locke & Key chega ao fim aos trancos e barrancos – porém, isso não quer dizer que seja um ciclo desperdiçado. Guiado por interpretações aplaudíveis e funcionando como homenagem ao material original, a iteração final tem seus problemas, mas não quer dizer que não vai deixar saudades.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Agora, caminhamos para a 3ª e última temporada da série – e a não tão longa jornada dos Locke termina de uma forma um tanto quanto satisfatória, ainda que deixe um gostinho agridoce pelo final já premeditado desde os primeiros episódios. A verdade é que Carlton Cuse, Meredith Averill e Aron Eli Coleite, que adaptaram as HQs para as telinhas, fizeram o possível para concluir, sem deixar muitas pontas soltas, a instigante narrativa nos apresentada há dois anos. Entretanto, o forte desejo de fornecer um final digno também serviu como um dos principais obstáculos enfrentados pela iteração – reiterado pelo desequilibrado ritmo que se espalha nos episódios e pela conclusão apressada de alguns arcos, como vemos desde o princípio. Eventualmente, as coisas se rearranjam em um catártico finale – e, no final das contas, isso é o que importa para os espectadores.

Como vimos na temporada anterior, a ameaça de Dodge (Laysla de Oliveira/Griffin Gluck) parece ter se dissipado e trazido um pouco de paz para os Locke – mas não sem suas derradeiras consequências. Enquanto Bode (Jackson Robert Scott), Kinsey (Emilia Jones) e Nina (Darby Stanchfield) desfrutam das memórias mágicas envolvendo as Chaves e os acontecimentos que quase o separaram, Tyler (Connor Jessup) é engolfado em um vórtice de culpabilidade depois da trágica morte da ex-namorada Jackie (Genevieve Kang). Para lidar com o luto de tê-la perdido, ele se recusa a ter qualquer conhecimento sobre a mística história da família e parte em uma jornada de superação e cura que o afasta dos irmãos e da mãe, transformando-se em um estranho.

Enquanto o drama familiar é uma das principais tramas a serem exploradas, com solidez e impacto maior na iteração final, ele não se sustentaria por conta própria. Em se tratando de uma série de fantasia, é necessário que uma ameaça sobrenatural e iminente pose como o antagonista que enfrentará o bem (representado pelos Locke): é aí que surge Frederick Gideon (Kevin Durand), eco de um impetuoso e mercenário capitão inglês da época da Revolução Americana. Na verdade, Frederick é apenas a personificação humanizada de um mortal demônio cujos objetivos envolvem a destruição do mundo dos humanos e a libertação das entidades que habitam sua dimensão – algo similar ao que Dodge desejava. Não é surpresa, pois, que o primeiro passo seja colocar as mãos em todas as Chaves.

É certo dizer que o constante embate de quem colocará as mãos nesses importantes objetos já ficou um tanto quanto cansativo – o que é irônica considerando que esse é o mote dos quadrinhos originais. Mas, dentro do contexto da série, o primeiro ciclo funciona com maior completude, visto que precisamos apresentar os personagens e dar o pontapé inicial que os guiará nesse arco de amadurecimento e de uma certa redenção desconstruída. O que soa diferente são as motivações de Frederick, que não quer as Chaves para benefício próprio, e sim visando a algo maior, que envolva o destino e a colisão de dois cosmos diferentes que irão digladiar para ver quem sairá vitorioso. Como percebemos desde os capítulos iniciais, o poder reunido por todas as Chaves consegue diluir a barreira entre as dimensões e criar uma fenda que servirá como passagem para entidades demoníacas mostrarem do que, de fato, são capazes.

O que mais nos chama a atenção na terceira temporada é a química do elenco: desde o início, a dinâmica dos Locke era exaltada com tanta paixão pelos atores principais que chegava a ser difícil acreditar que não eles não eram uma família de verdade. Jones demonstrou sua versatilidade performática ao participar do elogiado ‘No Ritmo do Coração’, que lhe rendeu uma indicação ao BAFTA; Jessup abraça seu personagem de forma absolutamente derradeira; e Stanchfield mostra que é uma das veteranas mais subestimadas do escopo do show business ao mostrar mais lados da cândida Nina; mas nosso foco vai para a atuação do jovem Scott, que, sem dúvida, teve maior espaço de crescimento para trabalhar com Bode – e que faz um trabalho magnífico nesse encerramento.

O grande problema, como mencionado nos parágrafos acima, é o ritmo do enredo: há uma discrepância notável entre o começo e o final da temporada que parece não querer dar o desfecho que os protagonistas e coadjuvantes merecem, arrastando-se por cenas esquecíveis que só voltam aos eixos quando é “tarde demais”, por assim dizer. A batalha final entre Frederick e os Locke (que traz Dodge de volta em uma participação muito bem-vinda) perde a densidade quando, em um piscar de olhos, as coisas se resolvem em um piscar de olhos. Caso os criadores tivessem tomado um pouco mais tempo para lapidar os excessos e os deslizes, a conclusão seria tão grandiosa quanto o esperado.

Locke & Key chega ao fim aos trancos e barrancos – porém, isso não quer dizer que seja um ciclo desperdiçado. Guiado por interpretações aplaudíveis e funcionando como homenagem ao material original, a iteração final tem seus problemas, mas não quer dizer que não vai deixar saudades.

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