terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | ‘Locke & Key’ retorna com uma 2ª temporada mais madura e melancólica

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Cuidado: muitos spoilers à frente.

Mais de um ano depois de sua estreia, Locke & Key retornou com novos episódios ao catálogo da Netflix – e, continuando o sucesso da temporada anterior, continuou a nos emocionar com uma história diabolicamente divertida e emocionante.

Apesar dos claros problemas estruturais do ciclo anterior, Carlton Cuse, Meredith Averill e Aron Eli Coleite, que adaptaram os aclamados quadrinhos assinados por Joe Hill e Gabriel Rodriguez, fizeram um ótimo trabalho e conseguiram envolver o público com personagens densos e complexos, bem como visuais encantadores e aspectos técnicos que merecem nossa atenção. É claro que, quando paramos para analisar a narrativa, não há muito de novo a ser contado – e essa é a beleza da produção: o trio de criadores não tem qualquer ambição de revolucionar o modo como tramas televisivas são contadas, e sim criar uma atmosfera ao mesmo tempo clássica e contemporânea que seja apelativa (no melhor sentido da palavra) para qualquer um que resolva se aventurar nesse universo.

Como é de costume em construções desse tipo, o enredo é redirecionado às consequências do season finale anterior e à falsa sensação de que tudo está bem – caso fosse verdadeira, não haveria motivo para uma segunda temporada. Depois de “derrotarem” Dodge (Laysla De Oliveira) e prenderem-na atrás da Porta Ômega, a família Locke e seus amigos retornam a um cotidiano um tanto quanto monótono, acreditando que não serão mais atacados por forças sobrenaturais e criaturas que desejam destruí-la. Entretanto, a efêmera paz não dura muito tempo, visto que Dodge havia se transformado em Gabe (Griffin Gluck) e que um outro demônio se apossara do corpo de Eden (Hallea Jones), unindo objetivos em comum para se aproximar dos Locke e dar continuidade a um plano destrutivo e bastante perigoso.

Estendendo-se por dez novos episódios, a nova temporada toma o tempo necessário para desenrolar eventos chocantes e reviravoltas frenéticas para cada um dos personagens – cuidando para que cada um deles tenha o seu momento de glória. Enquanto na iteração anterior fomos apresentados ao microcosmos da Key House e à dinâmica enredada dos protagonistas, aqui já conhecemos os sólidos laços que unem Kinsey (Emilia Jones), Tyler (Connor Jessup), Bode (Jackson Robert Scott) e Nina (Darby Stanchfield), bem como a presença firmada de Duncan (Aaron Ashmore) e da adorável Erin (Joy Tanner), cujo adeus é um dos mais traumatizantes e tocantes da série. Não é surpresa que esse grupo seja acompanhado por uma atmosfera mais melancólica e amadurecida, como se os obstáculos que enfrentaram em um passado não muito longínquo tivessem servido de base para uma sabedoria ainda desbalanceada, mas que já deixa marcas visíveis.

De certa forma, as novas tramas entram como contraponto quando comparadas àquelas do ano passado: a princípio, Kinsey, Tyler e Bode se maravilhavam com o poder das Chaves, explorando ao máximo os poderes dos pequenos objetos e, no final das contas, utilizando a magia com que foram forjadas para derrotar Dodge. Agora, o mesmo poder parece não causar tanta admiração quanto antes, e sim uma respeitosa reverência que os coloca na mesma sintonia; obviamente, as chaves facilitam boa parte dos problemas que têm, mas também entram como espécies de canalizadores para não apenas um demônio ou Eco, mas uma legião de antagonistas que pretendem dominar o mundo dos humanos e destruir o legado protetivo da família Locke.

Não se enganem: os jovens protagonistas ainda são passíveis de erros e não se transformam em heróis imaculados e indestrutíveis. Tyler, por exemplo, não consegue aceitar as mudanças que estão por vir em sua vida (ao menos até o último capítulo) e faz de tudo para garantir que a namorada, Jackie (Genevieve Kang), entre na vida adulta com todas as memórias das Chaves e da magia outrora os uniu. Não é surpresa que, ao tentar salvá-la, acabe cometendo um grave erro que o lança em um turbilhão de culpa e o leve a deixar sua casa para trás e seguir em frente em um futuro incerto. Tal decisão também impacta num crescimento mandatório de Kinsey e Bode – que, de fato, salvam os amigos e a família mais uma vez.

Mesmo se preocupando em criar uma identidade que não seja tão similar a tantas incursões conterrâneas, Locke & Key comete alguns deslizes que, diferente do que esperaríamos, se restringem ao roteiro e a certas escolhas narrativas que não fazem muito sentido dentro do que se foi proposto. De um lado, os espectadores encontram respostas sobre a origem das Chaves, que data da Guerra de Independência dos Estados Unidos, em 1775, e que envolve um cruel capitão do exército inglês chamado Frederick Gideon (interpretado com maestria por Kevin Durand); de outro, conclusões de arcos como o de Ellie (Sherri Saum) parecem um tanto cruas demais – ainda mais quando pincelados com a brevíssima presença de Oliveira em toda sua periculosidade demoníaca.

De qualquer forma, esses pontuais equívocos não são o suficiente para desmantelar uma concisa temporada como essa – que não pensa duas vezes em “se livrar” de certos personagens para alimentar a jornada dos protagonistas e para nos preparar para um futuro incerto e extremamente obscuro.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Apesar dos claros problemas estruturais do ciclo anterior, Carlton Cuse, Meredith Averill e Aron Eli Coleite, que adaptaram os aclamados quadrinhos assinados por Joe Hill e Gabriel Rodriguez, fizeram um ótimo trabalho e conseguiram envolver o público com personagens densos e complexos, bem como visuais encantadores e aspectos técnicos que merecem nossa atenção. É claro que, quando paramos para analisar a narrativa, não há muito de novo a ser contado – e essa é a beleza da produção: o trio de criadores não tem qualquer ambição de revolucionar o modo como tramas televisivas são contadas, e sim criar uma atmosfera ao mesmo tempo clássica e contemporânea que seja apelativa (no melhor sentido da palavra) para qualquer um que resolva se aventurar nesse universo.

Como é de costume em construções desse tipo, o enredo é redirecionado às consequências do season finale anterior e à falsa sensação de que tudo está bem – caso fosse verdadeira, não haveria motivo para uma segunda temporada. Depois de “derrotarem” Dodge (Laysla De Oliveira) e prenderem-na atrás da Porta Ômega, a família Locke e seus amigos retornam a um cotidiano um tanto quanto monótono, acreditando que não serão mais atacados por forças sobrenaturais e criaturas que desejam destruí-la. Entretanto, a efêmera paz não dura muito tempo, visto que Dodge havia se transformado em Gabe (Griffin Gluck) e que um outro demônio se apossara do corpo de Eden (Hallea Jones), unindo objetivos em comum para se aproximar dos Locke e dar continuidade a um plano destrutivo e bastante perigoso.

Estendendo-se por dez novos episódios, a nova temporada toma o tempo necessário para desenrolar eventos chocantes e reviravoltas frenéticas para cada um dos personagens – cuidando para que cada um deles tenha o seu momento de glória. Enquanto na iteração anterior fomos apresentados ao microcosmos da Key House e à dinâmica enredada dos protagonistas, aqui já conhecemos os sólidos laços que unem Kinsey (Emilia Jones), Tyler (Connor Jessup), Bode (Jackson Robert Scott) e Nina (Darby Stanchfield), bem como a presença firmada de Duncan (Aaron Ashmore) e da adorável Erin (Joy Tanner), cujo adeus é um dos mais traumatizantes e tocantes da série. Não é surpresa que esse grupo seja acompanhado por uma atmosfera mais melancólica e amadurecida, como se os obstáculos que enfrentaram em um passado não muito longínquo tivessem servido de base para uma sabedoria ainda desbalanceada, mas que já deixa marcas visíveis.

De certa forma, as novas tramas entram como contraponto quando comparadas àquelas do ano passado: a princípio, Kinsey, Tyler e Bode se maravilhavam com o poder das Chaves, explorando ao máximo os poderes dos pequenos objetos e, no final das contas, utilizando a magia com que foram forjadas para derrotar Dodge. Agora, o mesmo poder parece não causar tanta admiração quanto antes, e sim uma respeitosa reverência que os coloca na mesma sintonia; obviamente, as chaves facilitam boa parte dos problemas que têm, mas também entram como espécies de canalizadores para não apenas um demônio ou Eco, mas uma legião de antagonistas que pretendem dominar o mundo dos humanos e destruir o legado protetivo da família Locke.

Não se enganem: os jovens protagonistas ainda são passíveis de erros e não se transformam em heróis imaculados e indestrutíveis. Tyler, por exemplo, não consegue aceitar as mudanças que estão por vir em sua vida (ao menos até o último capítulo) e faz de tudo para garantir que a namorada, Jackie (Genevieve Kang), entre na vida adulta com todas as memórias das Chaves e da magia outrora os uniu. Não é surpresa que, ao tentar salvá-la, acabe cometendo um grave erro que o lança em um turbilhão de culpa e o leve a deixar sua casa para trás e seguir em frente em um futuro incerto. Tal decisão também impacta num crescimento mandatório de Kinsey e Bode – que, de fato, salvam os amigos e a família mais uma vez.

Mesmo se preocupando em criar uma identidade que não seja tão similar a tantas incursões conterrâneas, Locke & Key comete alguns deslizes que, diferente do que esperaríamos, se restringem ao roteiro e a certas escolhas narrativas que não fazem muito sentido dentro do que se foi proposto. De um lado, os espectadores encontram respostas sobre a origem das Chaves, que data da Guerra de Independência dos Estados Unidos, em 1775, e que envolve um cruel capitão do exército inglês chamado Frederick Gideon (interpretado com maestria por Kevin Durand); de outro, conclusões de arcos como o de Ellie (Sherri Saum) parecem um tanto cruas demais – ainda mais quando pincelados com a brevíssima presença de Oliveira em toda sua periculosidade demoníaca.

De qualquer forma, esses pontuais equívocos não são o suficiente para desmantelar uma concisa temporada como essa – que não pensa duas vezes em “se livrar” de certos personagens para alimentar a jornada dos protagonistas e para nos preparar para um futuro incerto e extremamente obscuro.

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