sexta-feira , 27 dezembro , 2024

Crítica | Lovecraft Country – 01×02: Whitey’s on the Moon

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Lovecraft Country tornou-se uma das grandes estreias no ano na HBO e conquistou o público ao fornecer uma perspectiva clássica e ao mesmo tempo contemporânea para o incrível mundo criado por H.P. Lovecraft – levando em conta suas tendências supremacistas raciais e descontruindo discursos preconceituosos em prol de uma perspectiva mais crítica e convidativa. Apesar dos claros deslizes, a série se mostrou bastante competente em misturar realidade em ficção em um universo novo, original e recheado de personagens envolventes, que culminaram em um dos maiores e mais saudosistas ganchos dos últimos anos da televisão estadunidense.

Caminhando para o segundo capítulo, as coisas parecem esquentar ainda mais, implicando mais complexidades e revelações de seus protagonistas e a confirmação de que estamos lidando com um compilado de incríveis contos de terror – que já parte da antologia arquitetada por Matt Ruff, escritor do livro original. Em “Whitey’s on the Moon”, como ficou intitulado o episódio desta semana, Daniel Sackheim (Ozark) toma conta da cadeira de direção e oferece a primeira mistura palpável entre o mundano e o espiritual, convidando a audiência a uma aventura inesquecível e de tirar o fôlego. Mais uma vez, temos o problema das excessivas tramas narrativas que enfrentam umas às outras em uma convulsionada obsessão pela celeridade e pelo dinamismo, por vezes transformando-o em um frenesi exaustivo. De qualquer forma, os deslizes voltam a ser ofuscados pela química do elenco e pelo impressionante visual que se afasta das restrições da década de 1950 e mergulha de cabeça na atemporalidade artística.



Depois de serem atacados por um grupo de shoggoths, criaturas vampirescas e perigosas que aparecem apenas à noite e temem a luz, Atticus (Jonathan Majors), Leti (Jurnee Smollett) e George (Courtney B. Vance) chegam a uma estranha mansão localizada no centro de Ardham e são recebidos com reverência por seus estranhos moradores. Não demora muito até que Tic perceba que coisas inexplicáveis rondam sua “estadia” naquele lugar, principalmente no que concerne ao repentino esquecimento de Leti e George sobre o que havia acontecido na noite anterior: apenas ele se lembra da experiência de quase morte que enfrentaram – e os vestígios dos eventos, como o carro amassado e as roupas encharcadas de sangue, também desapareceram.

É notável a forma como a roteirista, showrunner e produtora Misha Green trata a obra que lhe foi resguardada: desde o piloto, Green trabalha para garantir que a união entre passado, presente e futuro seja mesclada sem muitos artifícios fabulescos e forçados – mas parece que ela continua numa luta constante para encontrar o ritmo. Na semana passado, seu retrato irretocável sobre o segregado Estados Unidos de meados do século XX transformou-se num thriller de perseguição de tirar o fôlego, arquitetando sequências impecáveis e extremamente bem montadas que a colocavam no centro dos holofotes; aqui, as cenas tentam alcançar o mesmo objetivo, mas se rendem a uma pressa desnecessária que acaba por não explorar tudo o que poderia.

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Como supracitado, os breves equívocos são apaziguados pelas performances do elenco protagonista e da adição de algumas figuras misteriosas e quase folclóricas, como é o caso de Christina Braithwhite (Abbey Lee) e seu pai, Samuel (Tony Goldwyn), líder de um clã conhecido como Filhos de Adão que é mais mortal do que parece. Samuel, na verdade, ergue-se numa arquitetura vilanesca mais mortal que as outras pessoas que Atticus, Leti e George enfrentaram em sua breve jornada, pelo simples fato de usar a condescendência e o calculismo como arma. Ele acredita piamente que é a reencarnação de Adão e, dessa forma, enxerga as outras pessoas como seres inferiores que existem apenas para servi-lo e para auxiliá-lo em seu caminho de volta para o idílico Jardim do Éden, onde o homem ainda era imortal e era livre de falhas.

Além disso, é-nos revelado o verdadeiro legado que rodeia a traumatizada personalidade de Tic: ao que tudo indica, ele é o último descendente vivo do fundador da seita mencionada, Titus, e portador de uma crua força que pode abrir o portal para o glorioso passado da raça humana. Como se não bastasse, ele, assim como os outros personagens principais, são obrigados a enfrentar seus próprios medos em microcosmos de terror que se valem de uma sensorialidade visual categórica, optando por tons de amarelo que se mesclam entre as significações de otimismo (o que indica que eles sairão dali, eventualmente) e da impetuosidade (o que também indica que essa fuga não virá sem consequências).

Criando referências a clássicos da cultura mundial, como ‘O Conde de Monte Cristo’ e ‘Frankenstein’, a série volta com mais uma semana bastante aprazível cuja principal ideia é explicar a fraqueza da natureza humana e a atmosfera de dúvida que cerca cada persona trazida às telinhas. Lovecraft Country se prova como uma peça vital do que entendemos como arte performática, trazendo-a para violações dos convencionalismos dramáticos da construção e para o fornecimento de uma proposital confusão de sentimentos que esperamos ter mais explicações à medida que os episódios se desenrolam.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Lovecraft Country tornou-se uma das grandes estreias no ano na HBO e conquistou o público ao fornecer uma perspectiva clássica e ao mesmo tempo contemporânea para o incrível mundo criado por H.P. Lovecraft – levando em conta suas tendências supremacistas raciais e descontruindo discursos preconceituosos em prol de uma perspectiva mais crítica e convidativa. Apesar dos claros deslizes, a série se mostrou bastante competente em misturar realidade em ficção em um universo novo, original e recheado de personagens envolventes, que culminaram em um dos maiores e mais saudosistas ganchos dos últimos anos da televisão estadunidense.

Caminhando para o segundo capítulo, as coisas parecem esquentar ainda mais, implicando mais complexidades e revelações de seus protagonistas e a confirmação de que estamos lidando com um compilado de incríveis contos de terror – que já parte da antologia arquitetada por Matt Ruff, escritor do livro original. Em “Whitey’s on the Moon”, como ficou intitulado o episódio desta semana, Daniel Sackheim (Ozark) toma conta da cadeira de direção e oferece a primeira mistura palpável entre o mundano e o espiritual, convidando a audiência a uma aventura inesquecível e de tirar o fôlego. Mais uma vez, temos o problema das excessivas tramas narrativas que enfrentam umas às outras em uma convulsionada obsessão pela celeridade e pelo dinamismo, por vezes transformando-o em um frenesi exaustivo. De qualquer forma, os deslizes voltam a ser ofuscados pela química do elenco e pelo impressionante visual que se afasta das restrições da década de 1950 e mergulha de cabeça na atemporalidade artística.

Depois de serem atacados por um grupo de shoggoths, criaturas vampirescas e perigosas que aparecem apenas à noite e temem a luz, Atticus (Jonathan Majors), Leti (Jurnee Smollett) e George (Courtney B. Vance) chegam a uma estranha mansão localizada no centro de Ardham e são recebidos com reverência por seus estranhos moradores. Não demora muito até que Tic perceba que coisas inexplicáveis rondam sua “estadia” naquele lugar, principalmente no que concerne ao repentino esquecimento de Leti e George sobre o que havia acontecido na noite anterior: apenas ele se lembra da experiência de quase morte que enfrentaram – e os vestígios dos eventos, como o carro amassado e as roupas encharcadas de sangue, também desapareceram.

É notável a forma como a roteirista, showrunner e produtora Misha Green trata a obra que lhe foi resguardada: desde o piloto, Green trabalha para garantir que a união entre passado, presente e futuro seja mesclada sem muitos artifícios fabulescos e forçados – mas parece que ela continua numa luta constante para encontrar o ritmo. Na semana passado, seu retrato irretocável sobre o segregado Estados Unidos de meados do século XX transformou-se num thriller de perseguição de tirar o fôlego, arquitetando sequências impecáveis e extremamente bem montadas que a colocavam no centro dos holofotes; aqui, as cenas tentam alcançar o mesmo objetivo, mas se rendem a uma pressa desnecessária que acaba por não explorar tudo o que poderia.

Como supracitado, os breves equívocos são apaziguados pelas performances do elenco protagonista e da adição de algumas figuras misteriosas e quase folclóricas, como é o caso de Christina Braithwhite (Abbey Lee) e seu pai, Samuel (Tony Goldwyn), líder de um clã conhecido como Filhos de Adão que é mais mortal do que parece. Samuel, na verdade, ergue-se numa arquitetura vilanesca mais mortal que as outras pessoas que Atticus, Leti e George enfrentaram em sua breve jornada, pelo simples fato de usar a condescendência e o calculismo como arma. Ele acredita piamente que é a reencarnação de Adão e, dessa forma, enxerga as outras pessoas como seres inferiores que existem apenas para servi-lo e para auxiliá-lo em seu caminho de volta para o idílico Jardim do Éden, onde o homem ainda era imortal e era livre de falhas.

Além disso, é-nos revelado o verdadeiro legado que rodeia a traumatizada personalidade de Tic: ao que tudo indica, ele é o último descendente vivo do fundador da seita mencionada, Titus, e portador de uma crua força que pode abrir o portal para o glorioso passado da raça humana. Como se não bastasse, ele, assim como os outros personagens principais, são obrigados a enfrentar seus próprios medos em microcosmos de terror que se valem de uma sensorialidade visual categórica, optando por tons de amarelo que se mesclam entre as significações de otimismo (o que indica que eles sairão dali, eventualmente) e da impetuosidade (o que também indica que essa fuga não virá sem consequências).

Criando referências a clássicos da cultura mundial, como ‘O Conde de Monte Cristo’ e ‘Frankenstein’, a série volta com mais uma semana bastante aprazível cuja principal ideia é explicar a fraqueza da natureza humana e a atmosfera de dúvida que cerca cada persona trazida às telinhas. Lovecraft Country se prova como uma peça vital do que entendemos como arte performática, trazendo-a para violações dos convencionalismos dramáticos da construção e para o fornecimento de uma proposital confusão de sentimentos que esperamos ter mais explicações à medida que os episódios se desenrolam.

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