sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Macabro – Filme Nacional cria suspense com caso real dos Irmãos Necrófilos

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Baseado no caso real dos Irmãos Necrófilos, batizado assim pela mídia, Macabro chama atenção por desenvolver um suspense sobre um dos episódios mais bárbaros da investigação criminal brasileira. A obra de Marcos Prado (Paraísos Artificiais), no entanto, foca no policial comandante da missão e perde a mão ao problematizar o seu dilema pessoal, além de conduzir um forçado discurso sobre racismo. A tentativa soa simulada dentro de um contexto muito mais profundo sobre abandono social e político, além de uma falência do sistema penal brasileiro. 

De início, a trama expõe um outro revoltante acontecimento no Rio de Janeiro em 2010 . Quando um policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) matou por engano um morador do morro numa operação, ao confundir uma furadeira com uma arma. Na trama, o sargento Teo, vivido pelo ator Renato Góes, conhecido pelas novelas Órfãos de Terra (2019) e Velho Chico (2017), encarna o militar e tem o peso de compor um personagem atormentado e justiceiro, no entanto, fica na superfície do comandante linha dura com rompantes de emoção. 



Após esse trágico episódio, Teo é enviado a um vilarejo nas montanhas dos Pinéis, em Nova Friburgo, com a missão de prender dois irmãos suspeitos de cometer brutais assassinatos e manter relações sexuais com os cadáveres. Tal como saído de um episódio de Caçador de Mentes (Mindhunter, 2017 -), o enredo de investigação é bem desenhado e instigante ao buscar razões para os acontecimentos e suas futuras consequências, para além de uma caça a criminosos no meio de uma floresta.

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Deste modo, o retrato dos assassinos é feito por meio dos relatos dos moradores daquela comunidade rural, na região serrana do Rio de Janeiro. Com uma fotografia impecável de Azul Serra (da série Boca a Boca), as cenas noturnas são as mais envolventes e expressam, justamente, os momentos mais eminentes do filme. Em uma atmosfera de mistério, Macabro remonta os segredos e os abusos da vida desses dois irmãos, entretanto, se desvia de compreender o que se passa na região para focar nas emoções de Teo e os seus traumas familiares. 

Do ponto de vista do roteiro, pode ser interessante relacionar dois casos de violência policial distintos na pele de uma mesma pessoa. No entanto, esta ponte torna-se uma incongruência na trama, pois não traz redenção, reflexão ou, ao mesmo um senso de justiça para a relação engendrada. Ou seja, a história do policial apesar de torna-se o ponto principal da narrativa, não tem uma mensagem de relevância no todo da obra. 

Aliado a este erro de dosagem, Macabro tenta elaborar uma relação entre o racismo de uma comunidade descendente de imigrantes suíços e alemães à contribuição para a psicopatia de um dos irmãos. O movimento é feito de forma recorrente e estereotipada por meio de falas do cabo Everson (Guilherme Ferraz), as quais não condizem com o ambiente delimitado a sua posição de integrante do Bope. 

O caso dos irmão necrófilos já serviu de pano de fundo para outra obra nacional, Isolados (2014), com Bruno Gagliasso e Regiane Alves. Lá, a história era apenas um ponto de partida para as sensações de horror e claustrofobia arquitetadas por Tomas Portella (Operações Especiais). Já na obra de Marcos Prado, o caso é propagado como enredo principal, mas, na realidade, serve de exemplo para discussões sociais mais profundas, tais como “justiça com as próprias mãos” e “desamparo social”, os quais disputam espaço com o clima de suspense.

Esses assuntos são recorrentes na obra do diretor e produtor, vide Estamira (2004), Tropa de Elite (2007) e o seriado O Mecanismo (2018), em contrapartida, os crimes bárbaros e o seu tom de suspense policial pedem mais incisão sobre os assassinos do que sobre o policial. Afinal, o personagem Teo encontra-se anos-luz da malícia e dualidade do Capitão Nascimento (Wagner Moura), de Tropa de Elite, para tomar a frente narrativa. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Baseado no caso real dos Irmãos Necrófilos, batizado assim pela mídia, Macabro chama atenção por desenvolver um suspense sobre um dos episódios mais bárbaros da investigação criminal brasileira. A obra de Marcos Prado (Paraísos Artificiais), no entanto, foca no policial comandante da missão e perde a mão ao problematizar o seu dilema pessoal, além de conduzir um forçado discurso sobre racismo. A tentativa soa simulada dentro de um contexto muito mais profundo sobre abandono social e político, além de uma falência do sistema penal brasileiro. 

De início, a trama expõe um outro revoltante acontecimento no Rio de Janeiro em 2010 . Quando um policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) matou por engano um morador do morro numa operação, ao confundir uma furadeira com uma arma. Na trama, o sargento Teo, vivido pelo ator Renato Góes, conhecido pelas novelas Órfãos de Terra (2019) e Velho Chico (2017), encarna o militar e tem o peso de compor um personagem atormentado e justiceiro, no entanto, fica na superfície do comandante linha dura com rompantes de emoção. 

Após esse trágico episódio, Teo é enviado a um vilarejo nas montanhas dos Pinéis, em Nova Friburgo, com a missão de prender dois irmãos suspeitos de cometer brutais assassinatos e manter relações sexuais com os cadáveres. Tal como saído de um episódio de Caçador de Mentes (Mindhunter, 2017 -), o enredo de investigação é bem desenhado e instigante ao buscar razões para os acontecimentos e suas futuras consequências, para além de uma caça a criminosos no meio de uma floresta.

Deste modo, o retrato dos assassinos é feito por meio dos relatos dos moradores daquela comunidade rural, na região serrana do Rio de Janeiro. Com uma fotografia impecável de Azul Serra (da série Boca a Boca), as cenas noturnas são as mais envolventes e expressam, justamente, os momentos mais eminentes do filme. Em uma atmosfera de mistério, Macabro remonta os segredos e os abusos da vida desses dois irmãos, entretanto, se desvia de compreender o que se passa na região para focar nas emoções de Teo e os seus traumas familiares. 

Do ponto de vista do roteiro, pode ser interessante relacionar dois casos de violência policial distintos na pele de uma mesma pessoa. No entanto, esta ponte torna-se uma incongruência na trama, pois não traz redenção, reflexão ou, ao mesmo um senso de justiça para a relação engendrada. Ou seja, a história do policial apesar de torna-se o ponto principal da narrativa, não tem uma mensagem de relevância no todo da obra. 

Aliado a este erro de dosagem, Macabro tenta elaborar uma relação entre o racismo de uma comunidade descendente de imigrantes suíços e alemães à contribuição para a psicopatia de um dos irmãos. O movimento é feito de forma recorrente e estereotipada por meio de falas do cabo Everson (Guilherme Ferraz), as quais não condizem com o ambiente delimitado a sua posição de integrante do Bope. 

O caso dos irmão necrófilos já serviu de pano de fundo para outra obra nacional, Isolados (2014), com Bruno Gagliasso e Regiane Alves. Lá, a história era apenas um ponto de partida para as sensações de horror e claustrofobia arquitetadas por Tomas Portella (Operações Especiais). Já na obra de Marcos Prado, o caso é propagado como enredo principal, mas, na realidade, serve de exemplo para discussões sociais mais profundas, tais como “justiça com as próprias mãos” e “desamparo social”, os quais disputam espaço com o clima de suspense.

Esses assuntos são recorrentes na obra do diretor e produtor, vide Estamira (2004), Tropa de Elite (2007) e o seriado O Mecanismo (2018), em contrapartida, os crimes bárbaros e o seu tom de suspense policial pedem mais incisão sobre os assassinos do que sobre o policial. Afinal, o personagem Teo encontra-se anos-luz da malícia e dualidade do Capitão Nascimento (Wagner Moura), de Tropa de Elite, para tomar a frente narrativa. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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