Chega um determinado ponto na carreira de um ator que, mais do que atuar, ele ou ela começa a querer participar de outras áreas na produção de um filme. Assim, muitos deles acabam enveredando para a produção executiva ou para a direção, certos de que têm alguma contribuição a fazer estando atrás das câmeras, de alguma forma provando aos estúdios e ao público de que são mais do que um rostinho bonito. Não são poucos os exemplos que seguiram por esse caminho em Hollywood, inclusive atualmente, e está tudo bem, afinal, demonstra interesse desses artistas em dominar todas as frentes da arte cinematográfica. Só que é essa a pegada do novo ‘Magic Mike: A Última Dança’, que chegou na surdina para aluguel sob demanda nas plataformas digitais e streamings como o Prime Video, e o resultado é esquecível…
Afastado do mundo da dança, Mike (Channing Tatum) hoje sobrevive trabalhando como bartender em festas na Flórida. Em determinado evento da classe alta de Miami ele reencontra uma antiga cliente, para quem performou em uma despedida de solteira, e ela o reconhece. Só que esse evento é da socialite Maxandra Mendoza (Salma Hayek), que fica sabendo da vida primeva de seu bartender e, após um dia exaustivo, oferece-lhe dinheiro para que ele dance para ela. Inicialmente reticente, Mike topa dançar não tanto pelo dinheiro, mas porque a antiga cliente diminuiu seu potencial para Max. Extasiada com o que experimentou com Mike, Max decide patrocinar sua carreira, levando-o consigo para passar um mês em Londres, mesmo sem lhe dizer no que ele irá trabalhar. Sem nada a perder, Mike decide mergulhar no escuro nessa nova aventura.
Como dá para observar por essa sinopse, o argumento de ‘Magic Mike: A Última Dança’ é bastante frágil, e, ao longo dos mais de 1 hora e 40 de filme, percebemos que é só uma boa ideia que não se sustenta. O roteiro de Reid Carolin parte dessa crise moral do antigo stripper, cujo motivo não é apresentado, mas que, embora aparentemente exista, rapidamente é deixado de lado, uma vez que o orgulho de Mike e sua masculinidade frágil fazem com que ele performe uma vez mais, só para provar que é ainda é bom no que faz, mesmo sem ter interesse em voltar em fazê-lo. Contraditório. Se nos filmes anteriores Mike era apresentado como um stripper com seus valores, neste ele é resgatado tipo um garoto de programa inocente e refém, que diz que não vai se envolver sexualmente com sua cliente, mas o faz desde a primeira oportunidade, embarcando na viagem por causa do dinheiro e desde o início demonstrando estar envolvido emocionalmente com sua cliente – e vice-versa. Na mesma medida, a personagem Max é construída como uma socialite desocupada, perdida e mimada, que usa o dinheiro para realizar suas vontades, mesmo sendo elas o aluguel do corpo de Mike por um mês. Max é tão vazia, que, sob um esquisito argumento feminista, decide repaginar uma peça clássica inglesa em um clássico teatro inglês, transformando-a num show de strippers igual aos que tem aos montes em Las Vegas, mas que ela bate na tecla de que Londres precisa experimentar o que ela experimentou, por que as mulheres londrinas nunca viveram isso que ela teve, o que nos faz perguntar se não há casas de stripper em Londres ou se os londrinos simplesmente desconhecem a existência de Las Vegas. Enfim.
Dirigido por Steven Soderbergh, que foi responsável pelo primeiro filme da franquia, o longa só vale pela primeira cena de dança, que é literalmente a única que remotamente lembra qualquer coisa da franquia ‘Magic Mike’. Todo o desenvolvimento se arrasta entre uma espécie de ‘Se Ela Dança Eu Danço’, com bailarinos de etnias diversas e estilos de dança diferentes e Mike como diretor de um grupo de homens que sequer têm uma fala: todo o drama é centrado entre a chatice do não-convincente relacionamento entre Mike e Max. Como se não bastasse, o filme é narrado pela filha da protagonista, o que não faz o menor sem sentido…
‘Magic Mike: A Última Dança’ chega de repente e demonstra que perdeu sua magia, tendo parado no tempo por quase dez anos e sendo ultrapassado por produções melhores como ‘Toy Boy’ e ‘Nacho’. Ao menos há uma cena em que os clássicos dançarinos de ‘Magic Mike’ aparecem, mas nem isso salva este terceiro e desnecessário filme da franquia.