Na última década a sétima arte foi invadida por um estilo de filme de super-heróis que, para além dos superpoderes, contavam essencialmente com bastante efeito especial e visual para dar uma roupagem impossível às aventuras dos personagens. Boa parte dessa empreitada foi encabeçada pelas produções da Marvel, que chegou a lançar três novos filmes por ano em seu auge. Diferentemente da fórmula da empresa de Stan Lee, o filme russo da Netflix ‘Major Grom contra o Dr. Peste’ oferece uma história eletrizante e completamente nova para o público brasileiro.
Igor Grom (Tikhon Zhiznevskiy) é um major da polícia de São Petersburgo que não mede esforços para prender os bandidos, mesmo que para isso tenha que destruir metade da cidade e colocar seu próprio emprego em risco. Numa dessas, ele acaba sendo “castigado” a trabalhar com um novato que acaba de chegar à delegacia. Então, uma onda de crimes bárbaros começa a tomar conta da cidade e, por conta própria, o Major Grom irá tentar desvendar quem é a bizarra figura por trás do autointitulado Dr. Peste, responsável pelos crimes, e, para isso, ele contará com a inesperada ajuda da repórter investigativa e youtuber Yulia Pchelkina (Lyubov Aksyonova) e do bilionário e filantropo da tecnologia Sergei Razumosvkiy (Sergei Goroshko).
Baseado na HQ da Bubble Comics, ‘Major Grom contra o Dr. Peste’ é um filme que tem tudo que o fã de super-heróis gosta: uma história envolvente, muita ação, cenas de luta, situações absurdas, um vilãozão bem malvado, tecnologia de ponta, um protagonista inteligente e sem inclinação para o estrelato e uma motivação social com a qual o espectador se relaciona. No caso da produção de Oleg Trofim, o embate entre vilão e herói recai no mesmo mote de ‘V de Vingança’: a justiça feita pelas próprias mãos contra os poderosos, ricos e corruptos da cidade que prejudicam o desenvolvimento social do povo. Através dos argumentos do Dr. Peste, somos obrigados a concordar com sua insatisfação assim como o V sentiu a mesma revolta contra os corruptos de Londres. Bem atual.
Vladimir Besedin, Evgeny Eronin e Artyom Gabrelyanov elaboram um roteiro dinâmico e cheio de reviravoltas, partindo do cotidiano nem um pouco entediante do protagonista, inserindo episódios de crime como se fosse estivéssemos vendo uma série e trabalhando os personagens auxiliares à medida em que o enredo evolui. Em pouco mais de duas horas somos apresentados ao universo bastante agitado do Major Grom, que nem tem superpoderes, mas possui força, obstinação e é muito, muito apelão, de modo que as coisas dão certo para ele e a gente compra essa ideia de que o cara é simplesmente um bam bam bam e ponto final.
Com uma trilha sonora original, bons efeitos especiais, atuações convincentes, plot twists inesperados, uma abertura cinematográfica a la ‘Game of Thrones’ e até mesmo dois pós-créditos (que nos alimentam a esperança de possíveis continuações), ‘Major Grom contra o Dr. Peste’ é um filme de herói muito melhor que a maioria das produções de Marvel e DC dos últimos anos, incluindo ‘Mulher-Maravilha: 1984’, ‘Falcão e o Soldado Invernal’ e ‘Loki’. Oba!