terça-feira , 3 dezembro , 2024

Crítica | Maníaco do Parque: Silvero Pereira se transforma em inescrupuloso serial killer em ótimo true crime brasileiro

Ao som da versão punk de “What a Wonderful World”, de Joey Ramone, Silvero Pereira flui pelas ruas de uma São Paulo cercada por prédios cinzas, sob uma fotografia ensolarada. A audácia de seu personagem de cruzar o trânsito como se o manipulasse é expressa em um sorriso afetado e pretensioso. Deslizando pelo asfalto das principais avenidas da cidade com seus patins, ele já é logo apresentado como uma antítese ambulante. Entre a satisfatória euforia jovial e a prudência profissional que o destacou em seu emprego de motoboy, reside a psicopatia de um homem sedento por mulheres inocentes. E seu rastro de sangue é a expressão máxima da história que nos aguarda, na excelente abertura de Maníaco do Parque.

Homem sendo escoltado por policiais em corredor iluminado.
maniaco do parque 1

Mauricio Eça retorna ao gênero true crime que tornou sua trilogia sobre o caso Suzane Von Richthofen um sucesso incomensurável dentro da Prime Video. Em mais uma parceria com a gigante do streaming, ele abre uma cápsula do tempo e convida a audiência para os meandros de uma década de 90 marcada por sucessões infindáveis de sequestros de crianças e pela tenebrosa história do Maníaco do Parque. Para entender a dimensão deste caso era preciso estar lá. Conduzindo parte do zeitgeist do Brasil, a cobertura de um dos maiores serial killers do país assombrava São Paulo, afetando também os demais estados. Era como se, pela primeira vez, vivêssemos no mesmo universo dos envolventes suspense criminais norte-americanos. Uma espécie de pesadelo em vida.



A Eça tenta capturar esse frenesi midiático a partir de uma história ficcionalizada, que embala os relatos reais envolvendo Francisco de Assis. Obstinado a honrar a memória das vítimas, sobreviventes e de seus familiares, ele quase se arrisca a tornar o serial killer em um coadjuvante. Não o faz, mas o digladia com a protagonista Elena (Giovanna Grigio), em uma dinâmica que emula direta e indiretamente a mesma dinâmica entre Clarice Starling e Hannibal Lecter. E aqui, Grigio cruza seus limites como atriz em um papel fictício mais sério, que representa uma amálgama da cobertura jornalística da época. Ela também funciona como o principal elo de identificação entre a audiência e as jornadas abreviadas das mulheres que sofreram nas mãos do famigerado assassino.

maniacodoparque
maniacodoparque

E assim, entre fatos e uma extensa liberdade criativa, o diretor entrega uma ótima cinebiografia true crime, conduzida com destreza e montada habilmente. Brilhando nas cenas mais gráficas, ele recria alguns dos ataques do assassino sem vulgarizar as vítimas, mostrando a intensidade da violência aplicada com um requinte técnico. Essa sábia escolha garante momentos viscerais que não são abusivamente explícitos, mas são impactantes o bastante para despertar o lado imaginativo da audiência.

E embora alguns momentos da performance do elenco principal flerte com o exagero das atuações mais novelescas, a verdade é que Maníaco do Parque é uma sólida demonstração do enorme talento de Pereira e Grigio. Com o intérprete do serial killer roubando a nossa atenção com realismo, profundidade e sutileza, o longa consegue nos tragar para sua sombria atmosfera, sempre nos mantendo atentos aos movimentos dos personagens. Com Giovanna inaugurando um momento novo em sua carreira, a jovem atriz mostra que é versátil e tem cacife para segurar o protagonismo de um suspense. Quanto a Silvero, sua poderosa caracterização é o que faz do thriller true crime uma experiência tão imersiva.

Homem sendo escoltado por policiais na floresta.
maniaco do parque2

Induzindo a audiência à discussões nada relevantes para a trama, sobre o inescrupuloso ambiente profissional dos anos 90, o suspense criminal peca por apostar em um final piegas e clichê. Com um ar mais otimista, que contraria o futuro do serial killer – que pode ser solto em 2028 -, o longa opta por uma caminho mais seguro e comum em seus instantes finais. Mesmo assim, Maníaco do Parque não perde sua força como um ótimo true crime e é ainda uma vitrine do enorme talento de Mauricio Eça como um diretor que sabe como conduzir sua audiência.

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Ao som da versão punk de “What a Wonderful World”, de Joey Ramone, Silvero Pereira flui pelas ruas de uma São Paulo cercada por prédios cinzas, sob uma fotografia ensolarada. A audácia de seu personagem de cruzar o trânsito como se o manipulasse é expressa em um sorriso afetado e pretensioso. Deslizando pelo asfalto das principais avenidas da cidade com seus patins, ele já é logo apresentado como uma antítese ambulante. Entre a satisfatória euforia jovial e a prudência profissional que o destacou em seu emprego de motoboy, reside a psicopatia de um homem sedento por mulheres inocentes. E seu rastro de sangue é a expressão máxima da história que nos aguarda, na excelente abertura de Maníaco do Parque.

Homem sendo escoltado por policiais em corredor iluminado.
maniaco do parque 1

Mauricio Eça retorna ao gênero true crime que tornou sua trilogia sobre o caso Suzane Von Richthofen um sucesso incomensurável dentro da Prime Video. Em mais uma parceria com a gigante do streaming, ele abre uma cápsula do tempo e convida a audiência para os meandros de uma década de 90 marcada por sucessões infindáveis de sequestros de crianças e pela tenebrosa história do Maníaco do Parque. Para entender a dimensão deste caso era preciso estar lá. Conduzindo parte do zeitgeist do Brasil, a cobertura de um dos maiores serial killers do país assombrava São Paulo, afetando também os demais estados. Era como se, pela primeira vez, vivêssemos no mesmo universo dos envolventes suspense criminais norte-americanos. Uma espécie de pesadelo em vida.

A Eça tenta capturar esse frenesi midiático a partir de uma história ficcionalizada, que embala os relatos reais envolvendo Francisco de Assis. Obstinado a honrar a memória das vítimas, sobreviventes e de seus familiares, ele quase se arrisca a tornar o serial killer em um coadjuvante. Não o faz, mas o digladia com a protagonista Elena (Giovanna Grigio), em uma dinâmica que emula direta e indiretamente a mesma dinâmica entre Clarice Starling e Hannibal Lecter. E aqui, Grigio cruza seus limites como atriz em um papel fictício mais sério, que representa uma amálgama da cobertura jornalística da época. Ela também funciona como o principal elo de identificação entre a audiência e as jornadas abreviadas das mulheres que sofreram nas mãos do famigerado assassino.

maniacodoparque
maniacodoparque

E assim, entre fatos e uma extensa liberdade criativa, o diretor entrega uma ótima cinebiografia true crime, conduzida com destreza e montada habilmente. Brilhando nas cenas mais gráficas, ele recria alguns dos ataques do assassino sem vulgarizar as vítimas, mostrando a intensidade da violência aplicada com um requinte técnico. Essa sábia escolha garante momentos viscerais que não são abusivamente explícitos, mas são impactantes o bastante para despertar o lado imaginativo da audiência.

E embora alguns momentos da performance do elenco principal flerte com o exagero das atuações mais novelescas, a verdade é que Maníaco do Parque é uma sólida demonstração do enorme talento de Pereira e Grigio. Com o intérprete do serial killer roubando a nossa atenção com realismo, profundidade e sutileza, o longa consegue nos tragar para sua sombria atmosfera, sempre nos mantendo atentos aos movimentos dos personagens. Com Giovanna inaugurando um momento novo em sua carreira, a jovem atriz mostra que é versátil e tem cacife para segurar o protagonismo de um suspense. Quanto a Silvero, sua poderosa caracterização é o que faz do thriller true crime uma experiência tão imersiva.

Homem sendo escoltado por policiais na floresta.
maniaco do parque2

Induzindo a audiência à discussões nada relevantes para a trama, sobre o inescrupuloso ambiente profissional dos anos 90, o suspense criminal peca por apostar em um final piegas e clichê. Com um ar mais otimista, que contraria o futuro do serial killer – que pode ser solto em 2028 -, o longa opta por uma caminho mais seguro e comum em seus instantes finais. Mesmo assim, Maníaco do Parque não perde sua força como um ótimo true crime e é ainda uma vitrine do enorme talento de Mauricio Eça como um diretor que sabe como conduzir sua audiência.

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