domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘Mansão Mal-Assombrada’ não traz nada de novo ao gênero, mas ainda assim é uma divertida aventura

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Em 2003, a Walt Disney Studios dava origem à primeira adaptação em live-action de Mansão Mal-Assombrada. Estrelada por Eddie Murphy, a trama foi inspirada na atração homônima dos parques da Casa Mouse – mas o resultado foi um fracasso gigantesco de bilheteria e de público, ainda que tenha angariado alguns fãs nos anos seguintes, tornando-se uma espécie de clássico do Halloween. Agora, a Disney nos convida a revisitar esse assombroso mundo com um reboot completo que nos apresenta a uma nova trama, novos personagens e uma cândida e funcional exploração da dor do luto e de como lidamos com a perda de um ente querido.

A história acompanha Ben (Lakeith Stanfield), um astrofísico que, após se envolver com uma guia turística, se envolve com as atrações paranormais de Nova Orleans – mas parece ter perdido o brilho de fazer o que gosta após ser descreditado pela comunidade científica e perder o amor de sua vida. Enclausurado em uma casa caindo aos pedaços, ele é contatado pelo Padre Kent (Owen Wilson) para ajudar uma família que sofre com aparições fantasmas em uma gigantesca mansão (e que nem ao menos pode sair de lá, porque são forçados a voltar por um motivo inexplicável). A princípio cético, Ben vai até a mansão e se encontra com Gabbie (Rosario Dawson) e o jovem Travis (Chase W. Dillon), fingindo ajudá-los até perceber que as alegações são verdadeiras e que algo sinistro se esconde pelos enormes corredores do casarão.



Para auxiliá-lo nessa empreitada de outro mundo, Ben recruta um professor de história universitário, Bruce (Danny DeVito) e uma famosa médium, Harriet (Tiffany Haddish), cada qual com informações valiosas que podem fornecer pistas sobre uma força maligna que parece detê-los na mansão – e que tem planos nefastos que, caso concretizados, podem prenunciar o próprio apocalipse. E, apesar da falta de originalidade (visto que histórias de fantasmas existem no cenário cinematográfico desde o surgimento da sétima arte), o longa é uma divertida aventura que entrega o que promete e que mostra ser infinitamente superior ao título de vinte anos atrás.

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Stanfield faz um trabalho primoroso e é a principal estrela do filme: através de uma performance solidária e empática, ele constrói um diálogo com qualquer um que já tenha dado um adeus prematuro a quem amava, perpassando as complexas emoções humanas que denotam o luto e a permanente dor que nos marca após esse trauma. Haddish rouba a cena com uma atuação “canastrona” na medida certa, puxando elementos de ‘Viagem das Garotas’ e de ‘The Afterparty’ para construir uma personagem amável e hilária; e Dillon mergulha em uma incrível atuação que nos dá vida e que transforma o personagem em uma representação da inocência que, agora, foi maculada por uma despedida com a qual ainda não sabe lidar muito bem. Jamie Lee Curtis também faz uma aparição bem-vinda como Madame Leota, a médium que ficou presa dentro de uma bola de cristal, eternizando uma nova representação da icônica personagem.

Além do elenco, a roteirista Katie Dippold se doa, de corpo a alma, às reflexões sobre a temática mencionada no parágrafo acima de forma respeitosa e comovente. É claro que, à medida que o filme se desenrola, percebemos recursos clichês que permeiam a construção dos personagens e o andamento da trama – mas a trama que se restringe ao luto é singela, mesmo esbarrando em um didatismo desnecessário. Todavia, é preciso comentar a ausência de explicações necessárias para a compreensão da trama, considerando que Dippold aposta muito no suspense e nas inferências sem sequer nos ter dado uma dica do que está acontecendo na mansão (e nem mesmo o antagonista vivido por Jared Leto, o Fantasma da Caixa de Chapéu, foge dos convencionalismos do gênero).

Justin Simien, conhecido por obras como ‘Cara Gente Branca’ e ‘Bad Hair’, comanda o projeto e, diferente das produções que comandou em outros anos, aposta fichas em uma estética dentro de uma zona de conforto que, por vezes, cansa. O elemento de maior destaque são os planos holandeses (construções cênicas em que o enquadramento fica propositalmente inclinado para refletir a tensão ou a angústia de determinada sequência), que, usados ad nauseam, caem numa repetição exaustiva e premeditada. Entretanto, isso não quer dizer que a direção seja ruim, apenas corriqueira e sem o propósito de entregar alguma coisa nova.

Se você está procurando por um título leve e para ser visto em família, Mansão Mal-Assombrada é a pedida certa – mas não espere algo que fuja fora da curva ou que traga alguma coisa inédita ao gênero de fantasmas. A maior parte do longa é marcada por clichês e fórmulas muito conhecidas pelos fãs, mas isso não quer dizer que não possamos dar risadas ou nos emocionar com essa nova aventura da Disney.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Crítica | ‘Mansão Mal-Assombrada’ não traz nada de novo ao gênero, mas ainda assim é uma divertida aventura

Em 2003, a Walt Disney Studios dava origem à primeira adaptação em live-action de Mansão Mal-Assombrada. Estrelada por Eddie Murphy, a trama foi inspirada na atração homônima dos parques da Casa Mouse – mas o resultado foi um fracasso gigantesco de bilheteria e de público, ainda que tenha angariado alguns fãs nos anos seguintes, tornando-se uma espécie de clássico do Halloween. Agora, a Disney nos convida a revisitar esse assombroso mundo com um reboot completo que nos apresenta a uma nova trama, novos personagens e uma cândida e funcional exploração da dor do luto e de como lidamos com a perda de um ente querido.

A história acompanha Ben (Lakeith Stanfield), um astrofísico que, após se envolver com uma guia turística, se envolve com as atrações paranormais de Nova Orleans – mas parece ter perdido o brilho de fazer o que gosta após ser descreditado pela comunidade científica e perder o amor de sua vida. Enclausurado em uma casa caindo aos pedaços, ele é contatado pelo Padre Kent (Owen Wilson) para ajudar uma família que sofre com aparições fantasmas em uma gigantesca mansão (e que nem ao menos pode sair de lá, porque são forçados a voltar por um motivo inexplicável). A princípio cético, Ben vai até a mansão e se encontra com Gabbie (Rosario Dawson) e o jovem Travis (Chase W. Dillon), fingindo ajudá-los até perceber que as alegações são verdadeiras e que algo sinistro se esconde pelos enormes corredores do casarão.

Para auxiliá-lo nessa empreitada de outro mundo, Ben recruta um professor de história universitário, Bruce (Danny DeVito) e uma famosa médium, Harriet (Tiffany Haddish), cada qual com informações valiosas que podem fornecer pistas sobre uma força maligna que parece detê-los na mansão – e que tem planos nefastos que, caso concretizados, podem prenunciar o próprio apocalipse. E, apesar da falta de originalidade (visto que histórias de fantasmas existem no cenário cinematográfico desde o surgimento da sétima arte), o longa é uma divertida aventura que entrega o que promete e que mostra ser infinitamente superior ao título de vinte anos atrás.

Stanfield faz um trabalho primoroso e é a principal estrela do filme: através de uma performance solidária e empática, ele constrói um diálogo com qualquer um que já tenha dado um adeus prematuro a quem amava, perpassando as complexas emoções humanas que denotam o luto e a permanente dor que nos marca após esse trauma. Haddish rouba a cena com uma atuação “canastrona” na medida certa, puxando elementos de ‘Viagem das Garotas’ e de ‘The Afterparty’ para construir uma personagem amável e hilária; e Dillon mergulha em uma incrível atuação que nos dá vida e que transforma o personagem em uma representação da inocência que, agora, foi maculada por uma despedida com a qual ainda não sabe lidar muito bem. Jamie Lee Curtis também faz uma aparição bem-vinda como Madame Leota, a médium que ficou presa dentro de uma bola de cristal, eternizando uma nova representação da icônica personagem.

Além do elenco, a roteirista Katie Dippold se doa, de corpo a alma, às reflexões sobre a temática mencionada no parágrafo acima de forma respeitosa e comovente. É claro que, à medida que o filme se desenrola, percebemos recursos clichês que permeiam a construção dos personagens e o andamento da trama – mas a trama que se restringe ao luto é singela, mesmo esbarrando em um didatismo desnecessário. Todavia, é preciso comentar a ausência de explicações necessárias para a compreensão da trama, considerando que Dippold aposta muito no suspense e nas inferências sem sequer nos ter dado uma dica do que está acontecendo na mansão (e nem mesmo o antagonista vivido por Jared Leto, o Fantasma da Caixa de Chapéu, foge dos convencionalismos do gênero).

Justin Simien, conhecido por obras como ‘Cara Gente Branca’ e ‘Bad Hair’, comanda o projeto e, diferente das produções que comandou em outros anos, aposta fichas em uma estética dentro de uma zona de conforto que, por vezes, cansa. O elemento de maior destaque são os planos holandeses (construções cênicas em que o enquadramento fica propositalmente inclinado para refletir a tensão ou a angústia de determinada sequência), que, usados ad nauseam, caem numa repetição exaustiva e premeditada. Entretanto, isso não quer dizer que a direção seja ruim, apenas corriqueira e sem o propósito de entregar alguma coisa nova.

Se você está procurando por um título leve e para ser visto em família, Mansão Mal-Assombrada é a pedida certa – mas não espere algo que fuja fora da curva ou que traga alguma coisa inédita ao gênero de fantasmas. A maior parte do longa é marcada por clichês e fórmulas muito conhecidas pelos fãs, mas isso não quer dizer que não possamos dar risadas ou nos emocionar com essa nova aventura da Disney.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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