quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Crítica | Maria do Caritó – Inocência é grande trunfo e principal problema da comédia

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Filme Assistido durante a cobertura do Cine Ceará 2019

Maria do Caritó é um projeto de longa data de Lília Cabral. Após estrelar a peça homônima por cinco anos e viajar todo o Brasil com o texto do autor pernambucano Newton Moreno, a atriz lutou pessoalmente para transformar a obra em filme, ajudando na escolha do diretor e de boa parte do elenco.



O longa gira em torno de Maria do Caritó (Lília Cabral), uma mulher prestes a completar 50 anos. Virgem e prometida como noiva a São Djalminha assim que nasceu, ela sonha em finalmente conquistar um homem. Tratada como santa pela população local, ela é usada pelo pai, pelo padre e pelo coronel, e acaba descobrindo a possibilidade de mudar sua realidade com a chegada de um circo na cidade.

Não é comum que uma produção tenha o mesmo elemento como seu principal mérito e também como grande problema, mas é o que acontece aqui. Trata-se de uma obra sobre inocência. Isso é uma qualidade em termos de desenvolvimento de personagem e da capacidade do mesmo em cativar o espectador. Maria é inocência pura e nasce de um trabalho delicado e aplicado de Cabral. O problema surge quando a inocência se transmite para a própria forma de fazer cinema, caindo na ingenuidade. Maria do Caritó é um filme que já estreia velho. Se passa num mundo que não existe, com interações artificiais e pouco evoluídas. Isso fica claro em duas reviravoltas na parte final, em que a protagonista percebe as verdadeiras intenções de poderosos da cidade e descobre um segredo sobre seu passado.

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Há uma pobreza narrativa e de mise-en-scène que simplesmente não funciona na tela grande. Ainda que existam diferenças consideráveis para a versão teatral, há o claro sentimento de que estamos diante de um texto para o teatro, e com atores que geralmente atuam no teatro. Um exemplo disso é a performance super acima do tom de Leopoldo Pacheco como o coronel local.

Com boa experiência em novelas e séries da Rede Globo, João Paulo Jabur faz sua estreia como diretor na produção. Embora tenha referências interessantes como o cinema de Federico Fellini, em especial O Palhaço, há a clara sensação de que não conseguiu dar profundidade à suas citações. Ao lado do diretor de fotografia André Horta, Jabor entregou um resultado que se aproxima mais da TV do que do cinema. Um exemplo disso é o uso exagerado de drones para as filmagens. A música também tem seus excessos, embora o pot-pourri pop feito por Lília Cabral seja das cenas mais simpáticas da obra.

Embora arrisque muuuuuuuito sutilmente com uma crítica política aqui (quando o coronel fala em acabar com a secretaria de cultura) e um momentinho de empoderamento acolá, chama mais a atenção o fato de estarmos diante de um filme moderno sobre uma mulher que deseja desencalhar. Em pleno 2019.

O humor de Maria do Caritó é um humor antigo, remete a Amácio Mazzaropi e a um cinema que não existe mais. A escolha é proposital e pode eventualmente agradar parte do público. A crítica Pauline Kael costumava dizer que “não existe filme antigo, existe filme que você ainda não viu.” A frase é incrível, mas no caso de Maria do Caritó, estamos diante de um filme antigo.

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Maria do Caritó é um projeto de longa data de Lília Cabral. Após estrelar a peça homônima por cinco anos e viajar todo o Brasil com o texto do autor pernambucano Newton Moreno, a atriz lutou pessoalmente para transformar a obra em filme, ajudando na escolha do diretor e de boa parte do elenco.

O longa gira em torno de Maria do Caritó (Lília Cabral), uma mulher prestes a completar 50 anos. Virgem e prometida como noiva a São Djalminha assim que nasceu, ela sonha em finalmente conquistar um homem. Tratada como santa pela população local, ela é usada pelo pai, pelo padre e pelo coronel, e acaba descobrindo a possibilidade de mudar sua realidade com a chegada de um circo na cidade.

Não é comum que uma produção tenha o mesmo elemento como seu principal mérito e também como grande problema, mas é o que acontece aqui. Trata-se de uma obra sobre inocência. Isso é uma qualidade em termos de desenvolvimento de personagem e da capacidade do mesmo em cativar o espectador. Maria é inocência pura e nasce de um trabalho delicado e aplicado de Cabral. O problema surge quando a inocência se transmite para a própria forma de fazer cinema, caindo na ingenuidade. Maria do Caritó é um filme que já estreia velho. Se passa num mundo que não existe, com interações artificiais e pouco evoluídas. Isso fica claro em duas reviravoltas na parte final, em que a protagonista percebe as verdadeiras intenções de poderosos da cidade e descobre um segredo sobre seu passado.

Há uma pobreza narrativa e de mise-en-scène que simplesmente não funciona na tela grande. Ainda que existam diferenças consideráveis para a versão teatral, há o claro sentimento de que estamos diante de um texto para o teatro, e com atores que geralmente atuam no teatro. Um exemplo disso é a performance super acima do tom de Leopoldo Pacheco como o coronel local.

Com boa experiência em novelas e séries da Rede Globo, João Paulo Jabur faz sua estreia como diretor na produção. Embora tenha referências interessantes como o cinema de Federico Fellini, em especial O Palhaço, há a clara sensação de que não conseguiu dar profundidade à suas citações. Ao lado do diretor de fotografia André Horta, Jabor entregou um resultado que se aproxima mais da TV do que do cinema. Um exemplo disso é o uso exagerado de drones para as filmagens. A música também tem seus excessos, embora o pot-pourri pop feito por Lília Cabral seja das cenas mais simpáticas da obra.

Embora arrisque muuuuuuuito sutilmente com uma crítica política aqui (quando o coronel fala em acabar com a secretaria de cultura) e um momentinho de empoderamento acolá, chama mais a atenção o fato de estarmos diante de um filme moderno sobre uma mulher que deseja desencalhar. Em pleno 2019.

O humor de Maria do Caritó é um humor antigo, remete a Amácio Mazzaropi e a um cinema que não existe mais. A escolha é proposital e pode eventualmente agradar parte do público. A crítica Pauline Kael costumava dizer que “não existe filme antigo, existe filme que você ainda não viu.” A frase é incrível, mas no caso de Maria do Caritó, estamos diante de um filme antigo.

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