sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | Mate-me Por Favor

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Juventude em foco num thriller nebuloso

É sabido que a cinematografia brasileira vive atualmente uma de suas melhores safras, e isto se dá não apenas pelo surgimento de obras politica e socialmente indagativas ou de serem artisticamente refinadas, mas pela variedade que se apresenta como cartela. Nossa maior característica, entre os mais diversos autores e mídias, é falar do cotidiano e da problemática que nos cerca. Mas sempre existiu um jeito de flertar em outras vertentes, sem deixar de lado a essência crítica latente ou fomentar debates.

Títulos como “Trabalhar Cansa” (2011), “Quando Eu Era Vivo” (2014) e até mesmo “O Som ao Redor” (2014) são exemplos claros do chamado cinema de gênero, onde vemos cinéfilos colocarem em tela as referenciais temáticas e narrativas que os formaram como realizadores, ainda atentos ao contexto e preocupação social. O que exatamente acontece em “Mate-me Por Favor”, primeiro longa da diretora Anita Rocha da Silveira, um thriller mórbido, repleto de personagens tridimensionais, que tem um pé no fantástico e que deixa o espectador à procura de respostas do início ao fim.



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Rodado no Rio de Janeiro, especificamente na Barra da Tijuca, a trama gira em torno da jovem e curiosa Bia (Valentina Herszage), uma estudante de quinze anos, e do seu irmão João (Bernardo Marinho), um sujeito estranho que já perto dos trinta, passa a maior parte do tempo nas redes sociais, num misto de reclusão e depressão. Bia tem um grupo de amigas na escola, típicas adolescentes modernas que se juntam para falar amenidades e contar experiências. E o principal foco do longa é justamente ilustrar os principais dilemas enfrentados por essa juventude contemporânea do agora. Como background, vemos uma serie de assassinatos, envolvendo pessoas da mesma faixa etária, que acaba mexendo com a cabeça das garotas de maneira peculiar.

A cineasta aborda subjetivamente a descoberta da morte na adolescência, adentra com propriedade nesse universo particular e discute o existencialismo de forma aberta pela visão de Bia e suas colegas, sem que isso soe piegas ou requentado. São vários os microcosmos entrelaçados na vida das personagens, estas por sua vez cheias de indagações naturais do que está por vir. Tópicos que vão de sexo e convivência a religião e convenções sociais. A seleção de musicas que tem Claudinho e Bochecha e Tommy James & The Shondells também dialoga bastante com essa proposta ambígua.

É importante ressaltar que estamos falando de um suspense, e nesse quesito, Anita parece ainda mais a vontade, pois, através de casos sequenciais e impressões pessoais das figuras destacadas, a diretora vai deixando a trama cada vez mais misteriosa e a plateia por assim curiosa. A realizadora também explora a surrealidade das situações e flerta com obras de David Lynch (principalmente “Twin Peaks“) e John Carpenter, fazendo uma junção do bizarro e do soturno, deixando uma impressão ainda mais nebulosa. E, apesar de acessível, a narrativa também possui particularidades alegóricas e deve causar estranheza em alguns.

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Esteticamente a fita também chama atenção pelo jogo de cores, onde as paletas variam entre o azul, o rosa e, sobretudo o roxo, simbolizando a morbidez que paira na vida de Bia, brilhantemente estrelada pela novata Valentina Herszage. Os planos abertos das construções abandonadas e os inúmeros longos prédios ao redor dão um toque particular ao vazio do lugar. Desse modo, a fotografia de João Atala aparece como fator fundamental, onde suas lentes frias dão um tom ainda mais fúnebre à atmosfera, acarretando desconforto. Por sinal, o desfecho irá gerar muita discussão sobre quais são as reais ideias passadas.

Em suma, “Mate-me Por Favor” é mais uma joia genuína nascida do cinema brasileiro. Um filme de gênero maravilhosamente bem executado, que não fica devendo a nenhuma outra produção do estilo, e é tematicamente rico e competente no que controverte. Uma obra autoral que, se houver justiça, fará uma carreira à altura da sua qualidade.

Texto originalmente publicado na cobertura do VIII Janela Internacional de Cinema do Recife.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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É sabido que a cinematografia brasileira vive atualmente uma de suas melhores safras, e isto se dá não apenas pelo surgimento de obras politica e socialmente indagativas ou de serem artisticamente refinadas, mas pela variedade que se apresenta como cartela. Nossa maior característica, entre os mais diversos autores e mídias, é falar do cotidiano e da problemática que nos cerca. Mas sempre existiu um jeito de flertar em outras vertentes, sem deixar de lado a essência crítica latente ou fomentar debates.

Títulos como “Trabalhar Cansa” (2011), “Quando Eu Era Vivo” (2014) e até mesmo “O Som ao Redor” (2014) são exemplos claros do chamado cinema de gênero, onde vemos cinéfilos colocarem em tela as referenciais temáticas e narrativas que os formaram como realizadores, ainda atentos ao contexto e preocupação social. O que exatamente acontece em “Mate-me Por Favor”, primeiro longa da diretora Anita Rocha da Silveira, um thriller mórbido, repleto de personagens tridimensionais, que tem um pé no fantástico e que deixa o espectador à procura de respostas do início ao fim.

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Rodado no Rio de Janeiro, especificamente na Barra da Tijuca, a trama gira em torno da jovem e curiosa Bia (Valentina Herszage), uma estudante de quinze anos, e do seu irmão João (Bernardo Marinho), um sujeito estranho que já perto dos trinta, passa a maior parte do tempo nas redes sociais, num misto de reclusão e depressão. Bia tem um grupo de amigas na escola, típicas adolescentes modernas que se juntam para falar amenidades e contar experiências. E o principal foco do longa é justamente ilustrar os principais dilemas enfrentados por essa juventude contemporânea do agora. Como background, vemos uma serie de assassinatos, envolvendo pessoas da mesma faixa etária, que acaba mexendo com a cabeça das garotas de maneira peculiar.

A cineasta aborda subjetivamente a descoberta da morte na adolescência, adentra com propriedade nesse universo particular e discute o existencialismo de forma aberta pela visão de Bia e suas colegas, sem que isso soe piegas ou requentado. São vários os microcosmos entrelaçados na vida das personagens, estas por sua vez cheias de indagações naturais do que está por vir. Tópicos que vão de sexo e convivência a religião e convenções sociais. A seleção de musicas que tem Claudinho e Bochecha e Tommy James & The Shondells também dialoga bastante com essa proposta ambígua.

É importante ressaltar que estamos falando de um suspense, e nesse quesito, Anita parece ainda mais a vontade, pois, através de casos sequenciais e impressões pessoais das figuras destacadas, a diretora vai deixando a trama cada vez mais misteriosa e a plateia por assim curiosa. A realizadora também explora a surrealidade das situações e flerta com obras de David Lynch (principalmente “Twin Peaks“) e John Carpenter, fazendo uma junção do bizarro e do soturno, deixando uma impressão ainda mais nebulosa. E, apesar de acessível, a narrativa também possui particularidades alegóricas e deve causar estranheza em alguns.

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Esteticamente a fita também chama atenção pelo jogo de cores, onde as paletas variam entre o azul, o rosa e, sobretudo o roxo, simbolizando a morbidez que paira na vida de Bia, brilhantemente estrelada pela novata Valentina Herszage. Os planos abertos das construções abandonadas e os inúmeros longos prédios ao redor dão um toque particular ao vazio do lugar. Desse modo, a fotografia de João Atala aparece como fator fundamental, onde suas lentes frias dão um tom ainda mais fúnebre à atmosfera, acarretando desconforto. Por sinal, o desfecho irá gerar muita discussão sobre quais são as reais ideias passadas.

Em suma, “Mate-me Por Favor” é mais uma joia genuína nascida do cinema brasileiro. Um filme de gênero maravilhosamente bem executado, que não fica devendo a nenhuma outra produção do estilo, e é tematicamente rico e competente no que controverte. Uma obra autoral que, se houver justiça, fará uma carreira à altura da sua qualidade.

Texto originalmente publicado na cobertura do VIII Janela Internacional de Cinema do Recife.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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