quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Crítica | Me Sinto Bem Com Você – Comédia Dramática sobre Confinamento, Confiança e Caráter na Juventude

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A temporada de confinamento e distanciamento social durante quase todo ano de 2020 e ainda parte de 2021 é o ponto de partida de Me Sinto Bem Com Você, lançamento exclusivo da Amazon Prime Video. Longe de questões periclitantes, como desemprego e fome, o cineasta Matheus Souza compôs uma obra intimista, factual e musical, focada em relacionamentos através das telas e a substituição das interações sociais pela sedução das palavras. 

Distantes das produções apressadas sobre o período pandêmico do século XXI, Me Sinto Bem Com Você possui um esmero cinematográfico com objetivo de colocar o espectador na conversa dos personagens. Vale ressaltar o primoroso trabalho da produção artística, tanto do visual dos atores quanto dos cenários. As tomadas saem do simples plano da webcam para enquadramentos em detalhes e projeções de luz calorosa, principalmente nas cenas do par protagonista Adriana (Manu Gavassi) e Tom (Matheus Souza), dois aspirantes cineastas e ex-namorados.  



Tudo começa com um: “Ei, você está aí?” Quantas pessoas não mandaram mensagens para ex-parceiros durante a quarentena para acalentar a solidão? Ou seja, a identificação pode ser instantânea para os jovens, os quais a maior parte da vida passa fora de casa. O diálogo do casal lembra o roteiro simples e impressionante do primeiro longa-metragem do diretor, Apenas o Fim (2008).

Aliás, o personagem Tom é uma mistura do egocêntrico Tom (Gregório Duvivier), de Apenas o Fim, e o irritante Paulo Ricardo (interpretado pelo próprio diretor), de Tamo Junto (2016). Ao que parece, os protagonistas de Matheus Souza são uma espécie de alter-ego, sempre um estudante, um aspirante ou um jovem cineasta. Assim, o casal passa o tempo a trocar áudios, mensagens e telefonemas para fugir da presença de si mesmos e quem sabe reabrir uma porta dolorosamente fechada. 

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Em outra conexão, estão duas irmãs: Vanessa (Thuany Parente) e Lívia (Bel Moreira). Separadas por quilômetros de distância, elas realizam chamadas agendadas para passar o tempo. O objetivo, na verdade, é encontrar consolo uma na outra pela prematura partida de sua mãe, além de desenvolverem a herança artística da progenitora. Outros dois pares batalham para manter o contato virtual, apesar do relacionamento casual e recente antes da quarentena. 

Um deles é formado pela instagrammer Priscilla (Clarissa Mueller) e a cativante Giovanna (Gabs). Elas formam o par mais bonito em cena, com uma mistura de pureza de sentimento e desejo à flor da pele. Ambas atrizes estiveram no filme anterior do diretor, Ana e Vitória (2018), e, aqui, fazem um belo dueto musical, escrito por Matheus Souza. Já o outro casal é formado pelos jovens Helena (Amanda Benevides) e Eduardo (Richard Abelha), um caso de sexo casual que através da falta de toque torna-se algo muito maior. Eles são responsáveis por um dos momentos mais emocionantes da narrativa. 

Para completar o mosaico, o casal de humoristas da vida real Thati Lopes e Victor Lamoglia dão vida aos namorados “três anos juntos” Dora e Fernando. Para eles, a convivência constante tornou-se uma tortura mútua. Assim, Matheus Souza monta um diversificado esquema de situações entre trocas de doçuras, farpas, linguajares obscenos e confabulações, por vezes cômicas, por vezes existencialistas. 

A casualidade das conversas e o vagaroso desenrolar entre elas acomodam-se de forma relaxante na tela. Alguns personagens adjacentes entram para somar e multiplicar, tal como a mãe de Tom (Priscilla Rozenbaum), na descoberta da bissexualidade na idade madura. Desse modo, Me Sinto Bem Com Você é uma leve expressão audiovisual de emoções enjauladas: apaixonar-se e não poder tocar o objeto de desejo; ter dúvidas sobre a reciprocidade dos sentimentos; e construir confiança no próximo e em si mesmos para poder dialogar. 

Em outras palavras, Matheus Souza não sai da sua zona de conforto e traz a sua assinatura em desabafos sobre afeições, piadas de situações práticas e referências pop. Para o cinema nacional, o cineasta destaca-se pelo seu tom autoral, sua maneira fácil de falar da juventude e de abraçar a diversidade em seus últimos trabalhos.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Distantes das produções apressadas sobre o período pandêmico do século XXI, Me Sinto Bem Com Você possui um esmero cinematográfico com objetivo de colocar o espectador na conversa dos personagens. Vale ressaltar o primoroso trabalho da produção artística, tanto do visual dos atores quanto dos cenários. As tomadas saem do simples plano da webcam para enquadramentos em detalhes e projeções de luz calorosa, principalmente nas cenas do par protagonista Adriana (Manu Gavassi) e Tom (Matheus Souza), dois aspirantes cineastas e ex-namorados.  

Tudo começa com um: “Ei, você está aí?” Quantas pessoas não mandaram mensagens para ex-parceiros durante a quarentena para acalentar a solidão? Ou seja, a identificação pode ser instantânea para os jovens, os quais a maior parte da vida passa fora de casa. O diálogo do casal lembra o roteiro simples e impressionante do primeiro longa-metragem do diretor, Apenas o Fim (2008).

Aliás, o personagem Tom é uma mistura do egocêntrico Tom (Gregório Duvivier), de Apenas o Fim, e o irritante Paulo Ricardo (interpretado pelo próprio diretor), de Tamo Junto (2016). Ao que parece, os protagonistas de Matheus Souza são uma espécie de alter-ego, sempre um estudante, um aspirante ou um jovem cineasta. Assim, o casal passa o tempo a trocar áudios, mensagens e telefonemas para fugir da presença de si mesmos e quem sabe reabrir uma porta dolorosamente fechada. 

Em outra conexão, estão duas irmãs: Vanessa (Thuany Parente) e Lívia (Bel Moreira). Separadas por quilômetros de distância, elas realizam chamadas agendadas para passar o tempo. O objetivo, na verdade, é encontrar consolo uma na outra pela prematura partida de sua mãe, além de desenvolverem a herança artística da progenitora. Outros dois pares batalham para manter o contato virtual, apesar do relacionamento casual e recente antes da quarentena. 

Um deles é formado pela instagrammer Priscilla (Clarissa Mueller) e a cativante Giovanna (Gabs). Elas formam o par mais bonito em cena, com uma mistura de pureza de sentimento e desejo à flor da pele. Ambas atrizes estiveram no filme anterior do diretor, Ana e Vitória (2018), e, aqui, fazem um belo dueto musical, escrito por Matheus Souza. Já o outro casal é formado pelos jovens Helena (Amanda Benevides) e Eduardo (Richard Abelha), um caso de sexo casual que através da falta de toque torna-se algo muito maior. Eles são responsáveis por um dos momentos mais emocionantes da narrativa. 

Para completar o mosaico, o casal de humoristas da vida real Thati Lopes e Victor Lamoglia dão vida aos namorados “três anos juntos” Dora e Fernando. Para eles, a convivência constante tornou-se uma tortura mútua. Assim, Matheus Souza monta um diversificado esquema de situações entre trocas de doçuras, farpas, linguajares obscenos e confabulações, por vezes cômicas, por vezes existencialistas. 

A casualidade das conversas e o vagaroso desenrolar entre elas acomodam-se de forma relaxante na tela. Alguns personagens adjacentes entram para somar e multiplicar, tal como a mãe de Tom (Priscilla Rozenbaum), na descoberta da bissexualidade na idade madura. Desse modo, Me Sinto Bem Com Você é uma leve expressão audiovisual de emoções enjauladas: apaixonar-se e não poder tocar o objeto de desejo; ter dúvidas sobre a reciprocidade dos sentimentos; e construir confiança no próximo e em si mesmos para poder dialogar. 

Em outras palavras, Matheus Souza não sai da sua zona de conforto e traz a sua assinatura em desabafos sobre afeições, piadas de situações práticas e referências pop. Para o cinema nacional, o cineasta destaca-se pelo seu tom autoral, sua maneira fácil de falar da juventude e de abraçar a diversidade em seus últimos trabalhos.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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