A Idade Média na Europa durou cerca de dez séculos, dentre fases mais sombrias e fases mais prósperas. É certo de que nós aqui no Brasil temos mais familiaridade com as histórias medievais de Portugal e Espanha, dada nosso vínculo histórico com esses países, e com aquelas vindas de França, Itália e Inglaterra, dado o grande volume de produção cinematográfica desses países contando suas próprias lendas e histórias. Oferecendo uma alternativa nesse eixo comum, estreou recentemente na Netflix o longa ‘Medieval’, cujo foco é contar um pouco de como foi esse período para os cidadãos da Hungria, então região da Boemia, hoje República Tcheca.
Após a morte do rei da Boemia e do imperador romano, Carlos IV, parte da Europa afundou no caos, envolta em guerra, praga e fome. Também a Igreja Católica mergulhou no caos, elegendo dois papas ao mesmo tempo: um em Roma e outro sob a proteção do rei da França, em Avignon. Acreditava-se que apenas a coroação de um novo imperador poderia restaurar o Estado de Direito, porém Venceslau IV (Karel Roden), filho de Carlos IV, escolhido para o cargo, estava afogado em dívidas. Ele apenas pode ser coroado se for a Roma, para receber a coroa das mãos do papa. Aqueles que apoiam o segundo papa na França tentam impedir sua coroação, por isso, Lord Boresh (Michael Caine) e o rei Sigismund (Matthew Goode) tramam o sequestro da jovem Katherine (Sophie Lowe), sobrinha do rei da França e noiva do cruel Rosenberg (Til Schweiger), que está torturando e matando cidadãos contrários às suas ordens. Para a missão, Lord Boresh e o rei Sigismund contratam o grupo do mercenário Jan Zizka (Ben Foster), sem saber que isso acabaria mudando os rumos da história da Boemia, levantando uma verdadeira revolução entre os cidadãos locais e tornando Zizka o maior chefe militar da História daquele país.
Se o espectador desavisado pega para assistir ‘Medieval’ sem saber a história da Hungria, provavelmente ele ou ela ficará confusa com o enredo, pois, ainda que bem produzido, o roteiro de Petr Bok, Petr Jakl Sr. e Petr Jákl faz uma introdução (todo o lance dos dois papas e de Carlos IV) que não aparece no filme, nem sequer indiretamente. Leva um tempo para o espectador entender mais ou menos o que está rolando (tem gente tramando um sequestro, o irmão do rei está contra o rei, tem um cara mau matando geral e um guerreiro bonzinho que mata por dinheiro, tudo isso centrado em uma mulher que é tratada como “a escolhida”), de modo que os detalhes históricos mesmo se perdem, transformando a experiência do filme para o espectador comum em apenas um entretenimento de época, só que com um bocado de violência e boas cenas de batalha.
Petr Jákl realiza uma boa produção com seu filme, com belas tomadas aéreas, figurino condizente e coadjuvantes concentrados. Porém, além da história confusa que se prolonga por mais de duas horas, traz um Michael Caine meio perdido e Ben Foster como um protagonista impassível, sem expressar nenhuma emoção. Isto para não mencionar a escolha da tradução da Netflix, que colocou legendas em português conjugando na 2a pessoa do plural (vós vindes, ireis, etc), sendo que no original o inglês utilizado é o contemporâneo. Ou seja, fica melhor dublado.
Para os fãs de séries como ‘Vikings’, ‘Game of Thrones’, ‘House of the Dragon’ e ‘The Last Kingdom’, ‘Medieval’ é o filme certo para passar o tempo. Aliás, com o tanto de história que tem, deveria ter sido uma série. Talvez se torne no futuro, dado o sucesso que tem feito na Netflix.