segunda-feira , 4 novembro , 2024

Crítica | Melanie Martinez apresenta uma cosmológica jornada com o ótimo ‘Portals’

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Quatro anos depois de seu último álbum de estúdio oficial, K-12, Melanie Martinez está de volta com seu terceiro compilado de originais (excluindo o EP After School, lançado em 2020), ‘Portals’. A promoção oficial do disco se iniciou em meados de março, com a divulgação do lead single “DEATH”, que nos apresenta ao próximo capítulo dessa artista que rema contra a maré do cenário mainstream e que nunca teve medo de fazer o que bem entendesse. Aqui, Martinez atinge um novo nível de maturidade, apostando fichas em uma sonoridade diferente do indie pop explorado nas incursões predecessoras, envolvendo-se com art pop e art rock à medida que presta homenagens aos nomes que sempre lhe inspiraram.

Para essa mais nova e sinestésica jornada, Melanie adotou uma persona que anunciou a morte espiritual de Crybaby (personagem que a acompanhou desde sua estreia no escopo fonográfico) e sua transmutação numa criatura feérica aos moldes de Björk no recente ‘Fossora’ – mas sem abandonar características únicas de sua arte. Talvez seja por isso que a faixa de abertura, mencionada no parágrafo acima, mantenha-se atada às investidas dos discos anteriores, embebido em um trap dissonante que nos arremessa de volta a um passado não muito distante, ainda não completamente desprendido de sua idiossincrática sonoridade. E isso não se restringe apenas ao início, mas a canções como a lúdica “SPIDER WEB”, marcada pelas batidas unilaterais e por sintetizadores explosivos – além de uma narrativa que fala sobre os altos e baixos que nos tornam comuns uns aos outros; ou a estrutura de “THE CONTORTIONIST”, delineada com uma composição orquestral tétrica e incrível do começo ao fim.

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Mas os aspectos que mais nos chamam a atenção são os que rompem com os estilos esperados e mergulham em um novo capítulo da discografia da cantora. “TUNNEL VISION”, sem sombra de dúvidas uma das melhores entradas de sua carreira, puxa os elementos sinestésicos já explorados por AURORA, por exemplo, diabolicamente deturpados em uma teatral rendição e adornados com versos como “eu os faço entrar em pânico, é satânico como eu curvo meu corpo” que destilam uma exploração do toque humano e discorre acerca dos instintos carnais da humanidade; “FAIRIE SOIRÉE”, voltando-se para um lado mais enérgico do álbum, tem pinceladas do latin pop com a sutil emergência das cordas do violão; “VOID” e “BATTLE OF THE LARYNX”, por sua vez, são envoltas em uma atmosfera nostálgica pop rock e art rock que nos encanta pela coesão com que são produzidas – cortesia da própria artista e de sua colaboração com CJ Baran, um testamento ao saudosismo de meados dos anos 2000 que ganha novas camadas instrumentais a cada revisitação.

‘Portals’ não é todo livre de erros ou de músicas descartáveis – mas, em comparação às entradas predecessoras, os deslizes são pontuais e não são fortes o bastante para manchar a quase impecável arquitetura da obra. “MOON CYCLE” é uma cândida semi-balada cujas intenções são óbvias e cujas mensagens são potentes, declamando sobre o ciclo da menstruação em oposição a comentários misóginos sobre sua naturalidade, porém, rendendo-se a uma repetitiva amálgama sonora que desvanece perante a outras tracks; “NYMPHOLOGY”, apesar do forte começo, dá espaço para um exagerado refrão que ofusca sua lírica e que é apoiado em uma inexplicável e exaurível construção soubrette.

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Felizmente, os tropeços, como já mencionado, não desviam nossa atenção da completude do disco. A produção padrão finaliza com as incursões art rock e art pop de “EVIL” e “WOMB”, potencializadas por um uso impecável da guitarra, do violão, do baixo e da bateria, além de abrir espaço para performances muito interessantes e envolventes; na versão deluxe, os fãs foram presenteados com um trio de experimentalismos que se inicia com a propositalmente desarmônica “POWDER”, navega pelo impressionante hard rock de “PLUTO” e termina com a impecável “MILK OF THE SIREN” (cujo enredo puxa elementos até mesmo de Billie Eilish e seu último compilado de originais, ‘Happier Than Ever’).

O terceiro álbum de Melanie Martinez é um convite cosmológico para conhecer o mundo que ela o enxerga – uma tradução fantasiosa e recheada de elementos narcóticos que, ao mesmo tempo, é reflexo de suas experiências e uma metafórica análise sociológica do que significa estar vivo em um lugar tão caótico. Apesar dos breves deslizes, ‘Portals’ consagra-se como a obra-prima da artista e uma incursão que merece ser apreciada em seus mínimos detalhes.

Nota por faixa:

1. Death – 3,5/5
2. Void – 4/5
3. Tunnel Vision – 5/5
4. Faerie Soirée – 4,5/5
5. Light Shower – 5/5
6. Spider Web – 3,5/5
7. Leeches – 5/5
8. Battle of the Larynx – 5/5
9. The Contortionist – 5/5
10. Moon Cycle – 2/5
11. Nymphology – 1,5/5
12. Evil – 5/5
13. Womb – 5/5
14. Powder – 4/5
15. Pluto – 4,5/5
16. Milk of the Siren – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Para essa mais nova e sinestésica jornada, Melanie adotou uma persona que anunciou a morte espiritual de Crybaby (personagem que a acompanhou desde sua estreia no escopo fonográfico) e sua transmutação numa criatura feérica aos moldes de Björk no recente ‘Fossora’ – mas sem abandonar características únicas de sua arte. Talvez seja por isso que a faixa de abertura, mencionada no parágrafo acima, mantenha-se atada às investidas dos discos anteriores, embebido em um trap dissonante que nos arremessa de volta a um passado não muito distante, ainda não completamente desprendido de sua idiossincrática sonoridade. E isso não se restringe apenas ao início, mas a canções como a lúdica “SPIDER WEB”, marcada pelas batidas unilaterais e por sintetizadores explosivos – além de uma narrativa que fala sobre os altos e baixos que nos tornam comuns uns aos outros; ou a estrutura de “THE CONTORTIONIST”, delineada com uma composição orquestral tétrica e incrível do começo ao fim.

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Mas os aspectos que mais nos chamam a atenção são os que rompem com os estilos esperados e mergulham em um novo capítulo da discografia da cantora. “TUNNEL VISION”, sem sombra de dúvidas uma das melhores entradas de sua carreira, puxa os elementos sinestésicos já explorados por AURORA, por exemplo, diabolicamente deturpados em uma teatral rendição e adornados com versos como “eu os faço entrar em pânico, é satânico como eu curvo meu corpo” que destilam uma exploração do toque humano e discorre acerca dos instintos carnais da humanidade; “FAIRIE SOIRÉE”, voltando-se para um lado mais enérgico do álbum, tem pinceladas do latin pop com a sutil emergência das cordas do violão; “VOID” e “BATTLE OF THE LARYNX”, por sua vez, são envoltas em uma atmosfera nostálgica pop rock e art rock que nos encanta pela coesão com que são produzidas – cortesia da própria artista e de sua colaboração com CJ Baran, um testamento ao saudosismo de meados dos anos 2000 que ganha novas camadas instrumentais a cada revisitação.

‘Portals’ não é todo livre de erros ou de músicas descartáveis – mas, em comparação às entradas predecessoras, os deslizes são pontuais e não são fortes o bastante para manchar a quase impecável arquitetura da obra. “MOON CYCLE” é uma cândida semi-balada cujas intenções são óbvias e cujas mensagens são potentes, declamando sobre o ciclo da menstruação em oposição a comentários misóginos sobre sua naturalidade, porém, rendendo-se a uma repetitiva amálgama sonora que desvanece perante a outras tracks; “NYMPHOLOGY”, apesar do forte começo, dá espaço para um exagerado refrão que ofusca sua lírica e que é apoiado em uma inexplicável e exaurível construção soubrette.

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Felizmente, os tropeços, como já mencionado, não desviam nossa atenção da completude do disco. A produção padrão finaliza com as incursões art rock e art pop de “EVIL” e “WOMB”, potencializadas por um uso impecável da guitarra, do violão, do baixo e da bateria, além de abrir espaço para performances muito interessantes e envolventes; na versão deluxe, os fãs foram presenteados com um trio de experimentalismos que se inicia com a propositalmente desarmônica “POWDER”, navega pelo impressionante hard rock de “PLUTO” e termina com a impecável “MILK OF THE SIREN” (cujo enredo puxa elementos até mesmo de Billie Eilish e seu último compilado de originais, ‘Happier Than Ever’).

O terceiro álbum de Melanie Martinez é um convite cosmológico para conhecer o mundo que ela o enxerga – uma tradução fantasiosa e recheada de elementos narcóticos que, ao mesmo tempo, é reflexo de suas experiências e uma metafórica análise sociológica do que significa estar vivo em um lugar tão caótico. Apesar dos breves deslizes, ‘Portals’ consagra-se como a obra-prima da artista e uma incursão que merece ser apreciada em seus mínimos detalhes.

Nota por faixa:

1. Death – 3,5/5
2. Void – 4/5
3. Tunnel Vision – 5/5
4. Faerie Soirée – 4,5/5
5. Light Shower – 5/5
6. Spider Web – 3,5/5
7. Leeches – 5/5
8. Battle of the Larynx – 5/5
9. The Contortionist – 5/5
10. Moon Cycle – 2/5
11. Nymphology – 1,5/5
12. Evil – 5/5
13. Womb – 5/5
14. Powder – 4/5
15. Pluto – 4,5/5
16. Milk of the Siren – 5/5

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