Minissérie de apenas 6 capítulos, a produção canadense ‘Meu Nome é Liberdade’ foi exibida no início do ano em rede aberta, pela Rede Globo (e disponível hoje em dia na Globoplay). Apesar disso, é uma série que ainda merece nossa atenção e nossa crítica.
Aminata Diallo (Shailyn Pierre-Dixon, que menina fofa!) é uma jovem de apenas 11 anos, feliz em seu povoado na África, com sua família. Um dia, um grupo de invasores e traficantes de escravos chega à região e devasta a pequena comunidade, matando a família da jovem e a levando como escravizada. Começa aí a jornada involuntária de Aminata, que descobre muito jovem a necessidade de se ter uma função no mundo para conseguir sobreviver – e, já no próprio navio que levava ela e dezenas de africanos escravizados ela coloca em prática seus conhecimentos como parteira.
Já na América – mais especificamente, nos Estados Unidos, na Carolina do Sul do século 18 –, Aminata é comprada e vai viver em uma fazenda, onde aprende a ler e escrever, e passa a memorizar a história e o nome de todos que conhece pelo caminho. Por ser uma “negra bem educada”, como diz Rosa Lindo, a esposa de um médico judeu (Amy Louise Wilson), Aminata é comprada por essa nova família, onde é posta para trabalhar dentro de casa, porém, com isso, é separada de sua filha recém nascida. Começa, assim, uma nova jornada para a protagonista, em busca da criança roubada.
A jornada de Aminata é o que a motiva a todos os dias seguir em frente em busca de um único objetivo: conseguir voltar para sua verdadeira casa, seu povoado na África Ocidental. Porém, o caminho é longo, quase impossível, e o espectador acompanha cada queda e cada superação dessa mulher forte, que, já adulta, é interpretada com vigor por Aunjanue Ellis, que também trabalhou nos premiados ‘Histórias Cruzadas’ e ‘Se a Rua Beale Falasse’. A minissérie conta, ainda, com uma participação do sumido Cuba Gooding Jr, no papel de um dono de estalagem.
A superprodução investe bastante no figurino adequado para a época e fez uma escolha pontual das locações. Para contar uma história que atravessa três continentes, fica evidente que houve um bom investimento financeiro. E a história realmente vale a pena ser contada, pois é baseada em documentos reais do governo britânico nos quais constam o nome e o registro de centenas de pessoas escravizadas que, na América do Norte, ajudaram a lutar pela Coroa Britânica durante a Revolução Americana. Esse registro é conhecido como ‘O Livro dos Negros’ (‘The Book of Negroes’, mesmo nome do romance escrito por Lawrence Hill, no qual a minissérie se baseou).
Por ser uma produção curtinha, fica difícil recomendar os melhores episódios, mas os dois primeiros e os dois últimos são os que têm mais eventos ocorrendo. Apesar da visível liberdade do roteiro de Lawrence Hill e Clement Virgo em romancear certas passagens dramáticas da História mundial, no geral a relevância de se contar essa história se sobrepõe às escolhas da produção. E essas histórias realmente precisam ser contadas.