domingo , 17 novembro , 2024

Critica | Meu Pai – Drama sobre demência traz Anthony Hopkins em atuação avassaladora

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Envelhecer é um processo inerente e muitas vezes assustador. À medida que este novo tempo se abre diante dos olhos de forma encorajadora, é inegável seu fator intimidador. Com a memória muitas vezes definhando e a estrutura do corpo se comprimindo, o envelhecimento parece um regresso ao princípio, uma quase analogia ao Curioso Caso de Benjamin Button. E em Meu Pai (The Father), os maiores temores dessa fase da vida ganham uma profundidade inquietante pela belíssima atuação de Anthony Hopkins. Aqui, no primeiro filme do então dramaturgo Florian Zeller, o veterano vencedor do Oscar se despe da forma mais vulnerável possível, nos lembrando que há uma dolorosa dureza em viver uma longa vida.

Meu Pai acompanha um fragmento tão peculiar da existência humana, ao tratar a extrema fragilidade da nossa vida a partir de uma determinada idade. Com as memórias comprometidas e uma certa confusão mental quanto a lugares, feições e circunstâncias, Anthony (Hopkins) é um senhor de idade irreverente, de fala dura e gênio indiscreto e difícil de lidar. Acostumado a uma certa independência, ele tem uma resistência enorme em viver a velhice com o auxílio de uma cuidadora, uma insistência da sua filha, vivida por Olivia Colman. Com uma agressividade que não tem quase nada de passiva, ele sempre deixa bem claro que sua sanidade segue como de costume e não se sujeitará à qualquer submissão que tente provar ao contrário.

Mas como alguém que já apresenta um quadro inicial de demência, Anthony vive os seus dias em uma constante luta interna para obter um certo controle sobre sua própria vida. Sabendo, em seu íntimo, que seu raciocínio já não é tão ávido como em sua juventude, ele ainda digladia com comportamentos passivos agressivos na tentativa de se provar dono da sua mente. Como alguém sufocado pelo medo de perder suas memórias e sua própria essência, ele internaliza o doloroso sofrimento de diariamente tentar se reconhecer, revelando nesse entrave uma feição completamente diferente na atuação de Hopkins. Como um ator que, incrivelmente, ainda é capaz de surpreender as audiências, o veterano se apresenta de forma profundamente debilitável e exposta, não tem medo de explorar um universo totalmente vinculado à sua própria faixa etária e hipnotiza os olhos do público, que marejados sofrem o mesmo sofrimento que ele.



De uma delicadeza tão dolorosa e sensível, Meu Pai traz um roteiro surpreendente, que explora a simplicidade do envelhecimento em toda a sua complexidade. Como uma peça que fora adaptada às telonas, a obra de Zeller revela ainda uma riqueza de detalhes que só poderia ser extraída de uma experiência pessoal. E nesta trama, o cineasta explora os dilemas que englobam todos os envolvidos nesse processo tão angustiante. A partir da atuação de Colman, vemos ainda o outro lado dessa atmosfera, ao testemunharmos a difícil decisão de ter que colocar seu pai em uma casa de amparo, gerando quase um abismo emocional de distância entre pai e filha.

Com um design de produção que se incorpora à história, Meu Pai conta com uma estratégia narrativa inteligente, ao transformar todos os elementos técnicos da produção em uma extensão direta da trama. Fazendo-nos enxergar o mundo pela ótica turva de Anthony, Zeller contrasta a ótica fictícia do protagonista com a visão verdadeira dos fatos e das circunstâncias, nos levando a perceber – literalmente – como funciona a confusão mental de uma pessoa que apresenta um quadro de demência. Nos confundindo de propósito, o roteiro do drama é certeiro ao também conseguir justificar sua própria técnica narrativa e principalmente o seu final, quando as pequenas dúvidas que ainda permaneciam na mente do personagem principal e da audiência são sanadas quando ele tem a visão completa de seu pleno definhamento físico e mental.

E quando ficamos diante deste clímax, Anthony Hopkins atinge um novo pico em sua atuação, regado por profundas lágrimas e uma sensação de abandono que beira o comportamento infantil. Entre alucinações e uma pequena crise de pânico, sua genuína entrega no proporciona uma das experiências mais difíceis de assistir. E como um remédio amargo que desce rasgando a garganta, Meu Pai é o retrato mais autêntico e real da fase mais temida pelo ser humano. Doloroso de assistir, mas belíssimo de contemplar, o primeiro filme do francês Florian Zeller é ainda a entusiasmada expectativa pelo que mais esse brilhante e novato cineasta tem a compartilhar com o restante do mundo.

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Filme fica disponível na plataforma a partir dessa quinta-feira, dia 15 de abril, para aluguel a R$24,90

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Envelhecer é um processo inerente e muitas vezes assustador. À medida que este novo tempo se abre diante dos olhos de forma encorajadora, é inegável seu fator intimidador. Com a memória muitas vezes definhando e a estrutura do corpo se comprimindo, o envelhecimento parece um regresso ao princípio, uma quase analogia ao Curioso Caso de Benjamin Button. E em Meu Pai (The Father), os maiores temores dessa fase da vida ganham uma profundidade inquietante pela belíssima atuação de Anthony Hopkins. Aqui, no primeiro filme do então dramaturgo Florian Zeller, o veterano vencedor do Oscar se despe da forma mais vulnerável possível, nos lembrando que há uma dolorosa dureza em viver uma longa vida.

Meu Pai acompanha um fragmento tão peculiar da existência humana, ao tratar a extrema fragilidade da nossa vida a partir de uma determinada idade. Com as memórias comprometidas e uma certa confusão mental quanto a lugares, feições e circunstâncias, Anthony (Hopkins) é um senhor de idade irreverente, de fala dura e gênio indiscreto e difícil de lidar. Acostumado a uma certa independência, ele tem uma resistência enorme em viver a velhice com o auxílio de uma cuidadora, uma insistência da sua filha, vivida por Olivia Colman. Com uma agressividade que não tem quase nada de passiva, ele sempre deixa bem claro que sua sanidade segue como de costume e não se sujeitará à qualquer submissão que tente provar ao contrário.

Mas como alguém que já apresenta um quadro inicial de demência, Anthony vive os seus dias em uma constante luta interna para obter um certo controle sobre sua própria vida. Sabendo, em seu íntimo, que seu raciocínio já não é tão ávido como em sua juventude, ele ainda digladia com comportamentos passivos agressivos na tentativa de se provar dono da sua mente. Como alguém sufocado pelo medo de perder suas memórias e sua própria essência, ele internaliza o doloroso sofrimento de diariamente tentar se reconhecer, revelando nesse entrave uma feição completamente diferente na atuação de Hopkins. Como um ator que, incrivelmente, ainda é capaz de surpreender as audiências, o veterano se apresenta de forma profundamente debilitável e exposta, não tem medo de explorar um universo totalmente vinculado à sua própria faixa etária e hipnotiza os olhos do público, que marejados sofrem o mesmo sofrimento que ele.

De uma delicadeza tão dolorosa e sensível, Meu Pai traz um roteiro surpreendente, que explora a simplicidade do envelhecimento em toda a sua complexidade. Como uma peça que fora adaptada às telonas, a obra de Zeller revela ainda uma riqueza de detalhes que só poderia ser extraída de uma experiência pessoal. E nesta trama, o cineasta explora os dilemas que englobam todos os envolvidos nesse processo tão angustiante. A partir da atuação de Colman, vemos ainda o outro lado dessa atmosfera, ao testemunharmos a difícil decisão de ter que colocar seu pai em uma casa de amparo, gerando quase um abismo emocional de distância entre pai e filha.

Com um design de produção que se incorpora à história, Meu Pai conta com uma estratégia narrativa inteligente, ao transformar todos os elementos técnicos da produção em uma extensão direta da trama. Fazendo-nos enxergar o mundo pela ótica turva de Anthony, Zeller contrasta a ótica fictícia do protagonista com a visão verdadeira dos fatos e das circunstâncias, nos levando a perceber – literalmente – como funciona a confusão mental de uma pessoa que apresenta um quadro de demência. Nos confundindo de propósito, o roteiro do drama é certeiro ao também conseguir justificar sua própria técnica narrativa e principalmente o seu final, quando as pequenas dúvidas que ainda permaneciam na mente do personagem principal e da audiência são sanadas quando ele tem a visão completa de seu pleno definhamento físico e mental.

E quando ficamos diante deste clímax, Anthony Hopkins atinge um novo pico em sua atuação, regado por profundas lágrimas e uma sensação de abandono que beira o comportamento infantil. Entre alucinações e uma pequena crise de pânico, sua genuína entrega no proporciona uma das experiências mais difíceis de assistir. E como um remédio amargo que desce rasgando a garganta, Meu Pai é o retrato mais autêntico e real da fase mais temida pelo ser humano. Doloroso de assistir, mas belíssimo de contemplar, o primeiro filme do francês Florian Zeller é ainda a entusiasmada expectativa pelo que mais esse brilhante e novato cineasta tem a compartilhar com o restante do mundo.

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