sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Millie Bobby Brown ENCANTA em meio ao desperdiçado potencial de ‘Donzela’

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Millie Bobby Brown ganhou destaque significativo após interpretar Eleven na aclamada série sci-fi Stranger Things, ascendendo a uma carreira meteórica que a tornou mundialmente famosa. Não apenas imortalizada como uma das grandes atrizes de sua geração, ela também apostou fichas como produtora da mini-franquia Enola Holmes, cujo terceiro capítulo já foi confirmado pela Netflix. Agora, ela renova seu contrato com a gigante do streaming com o lançamento da fantasia de ação Donzela, que estreou hoje, 08 de março, no catálogo da plataforma.

A trama nos leva a um mundo fabulesco em que a jovem princesa Elodie (Brown) toma a difícil decisão de casar com um príncipe de um abastado reino (interpretado por Nick Robinson) a fim de que seus súditos finalmente sejam salvos de um estéril caos que se abateu sobre suas terras. Entretanto, ao ser entregue pelo pai às mãos da coroa como forma de oficializar o contrato entre ambas as casas, ela percebe que, na verdade, foi escolhida pela vilanesca Rainha Isabelle (Robin Wright) como sacrifício a um sedento dragão que habita a caverna do reino – lutando pela sobrevivência para garantir que outras princesas desavisadas e ingênuas se tornem vítimas de uma criatura sanguinária e das artimanhas de uma família que preza apenas pelo próprio bem-estar.



Como é de costume dentro de obras do gênero fantástico, o diretor Juan Carlos Fresnadillo e o roteirista Dan Mazeau se aproveitam dos convencionalismos do gênero para não reinventá-lo, e sim apresentar uma história que seja convincente o bastante para garantir a atenção dos espectadores. Dessa forma, as incursões de Fresnadillo, que ficou conhecido por seu trabalho na subestimada sequência Extermínio 2, são familiares, prezando por um jogo entre o panfletarismo idílico das fartas terras do reino de Isabelle e a claustrofobia sinistra da cova do dragão, que encarcera a jovem protagonista em uma labiríntica e ofegante batalha pela vida; e Mazeau, seguindo passos similares, não pincela muito além do óbvio para arquitetar os arcos dos personagens – nem mesmo oferecendo um pouco mais de profundidade à personagem de Brown.

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O que é-nos mostrado é uma conhecida fórmula narrativa que brinca com arquétipos clássicos e emerge como um escapismo prático e bastante funcional, permitindo que nos esqueçamos da vida real por pouco menos de cem minutos e acompanhemos as desventuras de Elodie, revolta em uma inocência que se transforma em frustração e vingança. O problema é quando esse divertido escopo começa a se levar muito a sério, caindo em armadilhas presunçosas que, inadvertidamente, transformam a obra em um compilado de diálogos previsíveis e pouco desenvolvimento palpável.

É claro que Brown dá o melhor de si para garantir o comprometimento do público – o que não é algo muito difícil, considerando sua incrível versatilidade performática. Aqui, a jovem atriz traz referências a projetos anteriores de que participou, proferindo cada fala com uma energia contagiante e roubando a cena mesmo em contraste com o perigoso dragão que quer devorá-la. O restante do elenco também tem seu momento de brilhar, como Wright, infundida em uma impassibilidade odiosa que combina com a construção de sua antagonista, ou até mesmo Angela Bassett, que interpreta a madrasta de Elodie, Lady Bayford. Todavia, não há muito o que os atores e atrizes possam fazer frente a um amontoado cansativo de clichês que, no final das contas, não diz nada além do óbvio.

O longa é pautado em inúmeras referências a icônicos títulos do gênero em questão, desde ‘A Princesa Prometida’ até ‘O Senhor dos Anéis’, cozinhados com uma pitada de violência à la ‘Game of Thrones’. Mas o que falta aqui é a originalidade, uma construção mais convincente de um universo que poderia ser explorado ad nauseam e, quem sabe, dar origem a sequências. Não obstante esse potencial, inúmeras chances de oferecer um ineditismo muito bem-vindo são varridas para debaixo do tapete, optando por algo que todos nós já vimos e continuamos vendo ano após ano.

E, como se não bastasse, há uma grave falha técnica em relação à montagem assinada por John Gilbert, cujos esforços de dar ritmo e vazão à trama caem por terra através de uma edição picotada e fragilizada. Em contrapartida, a fotografia de Larry Fong, facilmente um dos pontos altos do filme, posta-se na solidez contrastante entre a riqueza do reino de Isabelle e seus asseclas, mergulhado em ouro e em figurinos estonteantes, e o suplício angustiante do lar da criatura, engolfada em estalactites, túneis estreitos e na ira do fogo que premeditam cada um dos atos.

É irônico pensar que Donzela revelou suas melhores cenas através dos trailers e dos teasers promocionais, chegando à Netflix com um misto de frustração e comodismo. Não há de novo a ser visto por aqui, mas é preciso dizer que Brown, repetindo o feito performático de outras obras, é uma tour-de-force destrutiva que transmuta o medíocre em entretenimento com facilidade invejável e com um empenho aplaudível.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Millie Bobby Brown ganhou destaque significativo após interpretar Eleven na aclamada série sci-fi Stranger Things, ascendendo a uma carreira meteórica que a tornou mundialmente famosa. Não apenas imortalizada como uma das grandes atrizes de sua geração, ela também apostou fichas como produtora da mini-franquia Enola Holmes, cujo terceiro capítulo já foi confirmado pela Netflix. Agora, ela renova seu contrato com a gigante do streaming com o lançamento da fantasia de ação Donzela, que estreou hoje, 08 de março, no catálogo da plataforma.

A trama nos leva a um mundo fabulesco em que a jovem princesa Elodie (Brown) toma a difícil decisão de casar com um príncipe de um abastado reino (interpretado por Nick Robinson) a fim de que seus súditos finalmente sejam salvos de um estéril caos que se abateu sobre suas terras. Entretanto, ao ser entregue pelo pai às mãos da coroa como forma de oficializar o contrato entre ambas as casas, ela percebe que, na verdade, foi escolhida pela vilanesca Rainha Isabelle (Robin Wright) como sacrifício a um sedento dragão que habita a caverna do reino – lutando pela sobrevivência para garantir que outras princesas desavisadas e ingênuas se tornem vítimas de uma criatura sanguinária e das artimanhas de uma família que preza apenas pelo próprio bem-estar.

Como é de costume dentro de obras do gênero fantástico, o diretor Juan Carlos Fresnadillo e o roteirista Dan Mazeau se aproveitam dos convencionalismos do gênero para não reinventá-lo, e sim apresentar uma história que seja convincente o bastante para garantir a atenção dos espectadores. Dessa forma, as incursões de Fresnadillo, que ficou conhecido por seu trabalho na subestimada sequência Extermínio 2, são familiares, prezando por um jogo entre o panfletarismo idílico das fartas terras do reino de Isabelle e a claustrofobia sinistra da cova do dragão, que encarcera a jovem protagonista em uma labiríntica e ofegante batalha pela vida; e Mazeau, seguindo passos similares, não pincela muito além do óbvio para arquitetar os arcos dos personagens – nem mesmo oferecendo um pouco mais de profundidade à personagem de Brown.

O que é-nos mostrado é uma conhecida fórmula narrativa que brinca com arquétipos clássicos e emerge como um escapismo prático e bastante funcional, permitindo que nos esqueçamos da vida real por pouco menos de cem minutos e acompanhemos as desventuras de Elodie, revolta em uma inocência que se transforma em frustração e vingança. O problema é quando esse divertido escopo começa a se levar muito a sério, caindo em armadilhas presunçosas que, inadvertidamente, transformam a obra em um compilado de diálogos previsíveis e pouco desenvolvimento palpável.

É claro que Brown dá o melhor de si para garantir o comprometimento do público – o que não é algo muito difícil, considerando sua incrível versatilidade performática. Aqui, a jovem atriz traz referências a projetos anteriores de que participou, proferindo cada fala com uma energia contagiante e roubando a cena mesmo em contraste com o perigoso dragão que quer devorá-la. O restante do elenco também tem seu momento de brilhar, como Wright, infundida em uma impassibilidade odiosa que combina com a construção de sua antagonista, ou até mesmo Angela Bassett, que interpreta a madrasta de Elodie, Lady Bayford. Todavia, não há muito o que os atores e atrizes possam fazer frente a um amontoado cansativo de clichês que, no final das contas, não diz nada além do óbvio.

O longa é pautado em inúmeras referências a icônicos títulos do gênero em questão, desde ‘A Princesa Prometida’ até ‘O Senhor dos Anéis’, cozinhados com uma pitada de violência à la ‘Game of Thrones’. Mas o que falta aqui é a originalidade, uma construção mais convincente de um universo que poderia ser explorado ad nauseam e, quem sabe, dar origem a sequências. Não obstante esse potencial, inúmeras chances de oferecer um ineditismo muito bem-vindo são varridas para debaixo do tapete, optando por algo que todos nós já vimos e continuamos vendo ano após ano.

E, como se não bastasse, há uma grave falha técnica em relação à montagem assinada por John Gilbert, cujos esforços de dar ritmo e vazão à trama caem por terra através de uma edição picotada e fragilizada. Em contrapartida, a fotografia de Larry Fong, facilmente um dos pontos altos do filme, posta-se na solidez contrastante entre a riqueza do reino de Isabelle e seus asseclas, mergulhado em ouro e em figurinos estonteantes, e o suplício angustiante do lar da criatura, engolfada em estalactites, túneis estreitos e na ira do fogo que premeditam cada um dos atos.

É irônico pensar que Donzela revelou suas melhores cenas através dos trailers e dos teasers promocionais, chegando à Netflix com um misto de frustração e comodismo. Não há de novo a ser visto por aqui, mas é preciso dizer que Brown, repetindo o feito performático de outras obras, é uma tour-de-force destrutiva que transmuta o medíocre em entretenimento com facilidade invejável e com um empenho aplaudível.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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