Apesar do ano de 2020 ter sido um ano atípico para a indústria cinematográfica, o Oscar ainda está de pé, mesmo que não saibamos ainda se em formato híbrido ou virtual. Por isso, a corrida pela principal premiação do cinema mundial já está a toda, com os países fazendo campanhas mundiais para que seus representantes sejam vistos e comentados. Nessa vibe, essa semana chega às salas de exibição brasileiras o longa ‘Minha Irmã’, candidato da Suíça por uma indicação como Melhor Filme Estrangeiro.
Sven (Lars Eidinger) é um homem diagnosticado com um linfoma e que passou por uma transfusão de plaqueta graças à sua irmã gêmea, Lisa (Nina Hoss). Porém, a transfusão não dá certo e o câncer de Sven começa a avançar ainda mais, de modo que ele passa a ficar aos cuidados da irmã na casa dela. Lisa, por sua vez, tem de se redobrar para cuidar dos filhos pequenos, para participar dos eventos sociais do emprego do seu marido, Martin (Jens Albinus), e conseguir dar conta do tratamento do seu irmão, um ator que sonha em voltar aos palcos. Porém, desde o diagnóstico de Sven, Lisa nunca mais conseguiu escrever uma peça de teatro, e esse bloqueio começa a cobrar sua dívida sobre o futuro de seu casamento.
Todo falado em alemão, o representante da Suíça faz jus à proposta de retratar as relações daquele país – tão belo e tão fragmentado. A Suíça tem quatro línguas oficiais, e é um verdadeiro refúgio para o turismo de inverno, cercado por montanhas, e, aparentemente, sua população é basicamente oriunda de outros países; toda essa falta de identificação reflete nos irmãos protagonistas do longa, o que é bem interessante. Nesse viés, o conceito de ‘Minha Irmã’ consegue demonstrar bem o sentimento de não pertencimento conflitante vivido pelos seus personagens.
Por outro lado, o roteiro de Stéphanie Chuat e Véronique Reymond (que também dirigiram o longa) é simplório demais, colocando toda a sua energia em retratar a sobrecarga que essa irmã do título coloca sobre si mesma numa tentativa constante de dar conta de cuidar de todos que fazem parte de sua vida, como se fosse sua obrigação – colocando a si mesma de lado. Isso ocorre especialmente com relação ao irmão doente, ao ponto de, em mais de um momento, ela abrir mão de si num átimo de desespero em não conseguir aceitar a doença que consome seu irmão. Isso é problemático, posto que a estrutura do filme, como diz o título, é a partir do ponto de vista de Sven, o irmão, e que, portanto, enxerga os sacrifícios que a irmã constantemente faz por ele e, por sua vez, não faz absolutamente nada para aliviar a carga de sua irmã. Enfim né…
Apesar do drama emocional ser o condutor de ‘Minha Irmã’, o longa não se conecta com o espectador. Porém, está chegando agora às salas de exibição brasileiras, e, em tempos de premiações internacionais, vale assistir aos títulos que nos chegam por aqui antes que a lista final seja divulgada.