Em 2016, a Walt Disney Studios lançava uma de suas melhores animações das últimas décadas – ‘Moana’. Nos levando para a Polinésia Francesa, a trama apresentou a jovem Moana (Auli’i Cravalho), cuja vida confinada à ilha dominada pelo pai, Tui (Temuera Morrison), a propulsionou a desejar descobrir o que havia para além do recife que protegia seu lar. Ao descobrir que algo de errado estava premeditando a destruição de sua casa e dos outros povos do oceano, Moana se jogou de cabeça em uma aventura transformadora em que uniu forças com o ácido semideus Maui (Dwayne Johnson) para salvar aqueles que amava e mostrar que existia mais para ser visto além do que conheciam.
É claro que o sucesso incomparável do longa-metragem culminaria na produção de uma sequência que chega no próximo dia 28 de novembro aos cinemas nacionais: oito anos depois do primeiro capítulo dessa inesperada franquia, ‘Moana 2’ expande a mitologia criada pela Casa Mouse. Porém, apesar de ter o coração no lugar certo e retornar com uma estética cinemática irretocável, a continuação não oferece muitas coisas novas e aposta em uma espécie de reaproveitamento de fórmulas para eternizar a protagonista titular como uma das melhores criações recentes da Disney.
Nessa nova trama, Moana já se sagrou como uma das grandes navegadoras da história de seu povo e, continuando a explorar terras longínquas, ela tem como objetivo reunir os povos do oceano e garantir que o legado deixado por eles permaneça vivo. Porém, ela se vê em um “beco sem saída” após inúmeras tentativas fracassadas – buscando compreender o motivo de ela não encontrá-los. Não demora muito até que ela descubra que, há muito tempo, havia uma ilha chamada Motufetu que servia como ponto de conexão entre esses povos; entretanto, o local pereceu sob a maldição de um vingativo deus chamado Nalo, escondendo-a em um vórtice de tempestades e tornados. Respondendo a esse mais novo chamado à aventura, Moana une-se a novos companheiros e a antigos aliados para singrar os mares em uma missão que pode ditar o futuro de sua própria cultura.
Como já percebemos, há inúmeras similaridades que podemos traçar entre o primeiro e o segundo filmes. David Derrick Jr., Jason Hand e Dana Ledoux Miller, que assumem a cadeira de direção da sequência, apostam fichas em uma clara releitura da jornada do herói em que a nossa adorada protagonista, agora amadurecida e em plena consciência de seu potencial como desbravadora e aventureira, se vê compelida a enfrentar obstáculos mortais. Enquanto Moana deu seus primeiros passos no longa predecessor ao, de fato, cruzar o limiar entre o mundo em que vive e o que se exalta para além do horizonte, aqui ela tem plena noção do que deve ser feito – e serve de guia para companheiros inexperientes.
Não obstante os sólidos preceitos de que o longa se vale, é notável que os equívocos falam mais alto que os pontos positivos: de um lado, temos o ato de abertura lutando para encontrar seu ritmo, que, por sua vez, engrena à medida que Moana se lança aos mares ao lado de seus aliados e enfrenta o que precisa até chegar a Motufetu; de outro, há uma percepção tristonha de que a sequência é desnecessária e mais emula o que já nos foi entregue do que ousa com incursões originais e investidas envolventes. É claro que a personalidade de Moana e a química da personagem com nomes como Loto (Rose Matafeo), Kele (David Fane) e Moni (Hualālai Chung) ajudam na aceitação dos espectadores a essa nova história – mas, no final das contas, é notável como tudo posa como desnecessário.
Cravalho, Johnson e o restante do elenco de voz fazem trabalhos primorosos – e o mesmo deve ser dito em relação à dublagem nacional, que conta com Any Gabrielly e Saulo Vasconcelos em atuações memoráveis. Para além do comprometimento performático, somos presenteados com uma ótima trilha sonora (dessa vez cortesia de um grande time formado por Mark Mancina, Opetaia Foa’i, Abigail Barlow e Emily Bear) que mantém-se fiel às raízes do primeiro filme conforme expande o cosmos sonoro para uma mistura de melancolia, realização e prospecção – com destaque a “Beyond”, imortalizando o arco de Moana e permitindo que a subtrama do coming-of-age tenha ainda mais força.
Em compensação, o roteiro de Jared Bush e Miller não tem muito a nos contar. O enredo torna-se previsível do momento em que Moana encontra seu primeiro empecilho e, conforme vemos que inimigos em potencial na verdade escondem uma bondade distorcida – como os Kakamora e a desperdiçada vilania da deusa Matangi (Awhimai Fraser) -, o resultado é uma mistura de investidas deus ex machina que valem mais a pena pela construção cênica e pela fotografia do que pelo que representam para a continuidade da história.
Como já mencionado nos parágrafos iniciais desta crítica, ‘Moana 2’ tem o coração no lugar certo e consegue expandir a mitologia criada pela Disney. Entretanto, ao se recusar a arriscar nas questões criativas e manter-se preso a um glorioso e não tão distante passado, o filme se fada à uma exaustiva repetição episódica que vale mais a pena pelo espetáculo visual em si do que pela narrativa que conta.