domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Mommy

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Intenso e questionador

Com apenas 25 anos de idade, o cineasta canadense Xavier Dolan tem currículo de gente grande, e não apenas no que se refere à quantidade e qualidade, já que todos os seus trabalhos foram elogiados e premiados, mas por ser uma figura multifacetada, assinando inúmeras funções. Além de produzir e dirigir, o sujeito escreve, monta, cuida do figurino e seleciona as canções presentes nos filmes – e de quase sempre protagoniza-los. Seu cinema é preocupado em apontar peculiaridades, desde conflitos familiares (Eu Matei a Minha Mãe) e relações humanas (Amores Imaginários) a questionamentos sobre o amor (Laurence Anyways) e a dor da culpa (Tom à la ferme).

Em seu mais novo longa, Momy, que foi um dos destaques da 67ª edição do Festival de Cannes, sendo ovacionado pelo público e levando o Prêmio Júri, Dolan nos entrega a obra mais forte e madura de sua carreira. Apesar de se apresentar como uma ficção científica – onde vemos um Canadá que através da lei permite que os pais internem filhos mais problemáticos, sem qualquer restrição -, o filme trata de temas bem reais e delicados, como, novamente, a convivência colidente entre mãe e filho e o fato de arcar com responsabilidades que surgem como verdadeiros carmas, digamos assim.



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No primeiro ato vemos a dura e contagiante relação entre os personagens Diane ‘Die’ Després (Dorval) e Steve Després (Pilon), que brigam incansavelmente, mas momentos depois estão trocando carinhos; soltam xingamentos pesados e ao mesmo tempo elogios tocantes. A moderna e estreita convivência familiar, por si, já abre margem para um interessante debate, onde vemos uma senhora alertar: você não deveria tratar sua mãe dessa maneira, garoto. A reação instantânea é ainda mais curiosa. Mas será mesmo que respeito está ligado a tratamento formal? Socialmente, somos ensinados que sim, entretanto, vemos casos que contradizem tal lógica.

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Ignoremos isso e entendamos que estamos diante de um caso particular, já que, visivelmente, o garoto tem problemas crônicos de hiperatividade. Como lidar então com a cátedra de cuidar e viver bem nesta situação? Será o amor a grande formula que irá empalidecer todos os demais problemas físicos e psicológicos, e fazer com que a caminhada siga incessantemente? Mas se existe uma opção que parece lógica e correta, pelo menos na visão da sociedade e do governo, por que não recorrer a ela e livrar-se de uma vez por todas do entrave? Qual é o limite real dos nossos sentimentos, até onde aguentamos e o que é certo e errado? São essas e outras indagações que permeiam a fita e nos faz repensar concepções.

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Possuindo a razão de aspecto 1:1, logo percebemos a ideia do formato, pois isso é transposto não só em linguagem e alegoria, mas no que os personagens transmitem e a história emite. Falta espaço, tudo é restrito, até mesmo os pensamentos, o vazio lateral expressa ainda mais o buraco daquele universo, e quando este é tapado, somos presenteados com uma das cenas mais líricas que surgiu no cinema esse ano, ao som de Wonderwall do Oasis. O significado de liberdade é impresso poeticamente. A cristalina e fulgente fotografia do sempre ótimo André Turpin é a cereja do bolo, por conferir intensa energia e dar o clímax final.

Vale também destacar os atores que, sem exceções, passam veracidade em seus papéis. Anne Dorval, que tinha estrelado o primeiro longa do diretor, volta a viver uma forte figura materna, e é mesmo de se imaginar que Dolan tenha visto nela a personagem Die. O jovem Antoine-Olivier Pilon é um monstro quando está em tela, muito espontâneo, parece sempre improvisar. Suzanne Clément também é parceira de longa data de Xavier, sua Kyle diz muito sobre o poder que a família Després é capaz de passar, a misteriosa gagueira que detém (ou impossibilidade de expressão) logo é curada quando começa a se envolver com ambos.

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Momy impacta e emociona, questiona e nos faz refletir, é excepcional e mantem assim o bom nível de Xavier Dolan, aparecendo como uma das grandes joias engendradas em 2014. Obtém êxito tanto no ponto de vista temático, quanto estético, já que as ferramentas cinematográficas utilizadas são muitas, apesar de pontuais. É um filme que, provavelmente e felizmente, ainda será discutido ao passar dos anos.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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Em seu mais novo longa, Momy, que foi um dos destaques da 67ª edição do Festival de Cannes, sendo ovacionado pelo público e levando o Prêmio Júri, Dolan nos entrega a obra mais forte e madura de sua carreira. Apesar de se apresentar como uma ficção científica – onde vemos um Canadá que através da lei permite que os pais internem filhos mais problemáticos, sem qualquer restrição -, o filme trata de temas bem reais e delicados, como, novamente, a convivência colidente entre mãe e filho e o fato de arcar com responsabilidades que surgem como verdadeiros carmas, digamos assim.

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No primeiro ato vemos a dura e contagiante relação entre os personagens Diane ‘Die’ Després (Dorval) e Steve Després (Pilon), que brigam incansavelmente, mas momentos depois estão trocando carinhos; soltam xingamentos pesados e ao mesmo tempo elogios tocantes. A moderna e estreita convivência familiar, por si, já abre margem para um interessante debate, onde vemos uma senhora alertar: você não deveria tratar sua mãe dessa maneira, garoto. A reação instantânea é ainda mais curiosa. Mas será mesmo que respeito está ligado a tratamento formal? Socialmente, somos ensinados que sim, entretanto, vemos casos que contradizem tal lógica.

Ignoremos isso e entendamos que estamos diante de um caso particular, já que, visivelmente, o garoto tem problemas crônicos de hiperatividade. Como lidar então com a cátedra de cuidar e viver bem nesta situação? Será o amor a grande formula que irá empalidecer todos os demais problemas físicos e psicológicos, e fazer com que a caminhada siga incessantemente? Mas se existe uma opção que parece lógica e correta, pelo menos na visão da sociedade e do governo, por que não recorrer a ela e livrar-se de uma vez por todas do entrave? Qual é o limite real dos nossos sentimentos, até onde aguentamos e o que é certo e errado? São essas e outras indagações que permeiam a fita e nos faz repensar concepções.

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Possuindo a razão de aspecto 1:1, logo percebemos a ideia do formato, pois isso é transposto não só em linguagem e alegoria, mas no que os personagens transmitem e a história emite. Falta espaço, tudo é restrito, até mesmo os pensamentos, o vazio lateral expressa ainda mais o buraco daquele universo, e quando este é tapado, somos presenteados com uma das cenas mais líricas que surgiu no cinema esse ano, ao som de Wonderwall do Oasis. O significado de liberdade é impresso poeticamente. A cristalina e fulgente fotografia do sempre ótimo André Turpin é a cereja do bolo, por conferir intensa energia e dar o clímax final.

Vale também destacar os atores que, sem exceções, passam veracidade em seus papéis. Anne Dorval, que tinha estrelado o primeiro longa do diretor, volta a viver uma forte figura materna, e é mesmo de se imaginar que Dolan tenha visto nela a personagem Die. O jovem Antoine-Olivier Pilon é um monstro quando está em tela, muito espontâneo, parece sempre improvisar. Suzanne Clément também é parceira de longa data de Xavier, sua Kyle diz muito sobre o poder que a família Després é capaz de passar, a misteriosa gagueira que detém (ou impossibilidade de expressão) logo é curada quando começa a se envolver com ambos.

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Momy impacta e emociona, questiona e nos faz refletir, é excepcional e mantem assim o bom nível de Xavier Dolan, aparecendo como uma das grandes joias engendradas em 2014. Obtém êxito tanto no ponto de vista temático, quanto estético, já que as ferramentas cinematográficas utilizadas são muitas, apesar de pontuais. É um filme que, provavelmente e felizmente, ainda será discutido ao passar dos anos.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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