Pode parecer uma premissa básica… Uma música boa tem que soar bem aos ouvidos, assim como uma série tem que brindar os nossos olhos. Esse é o trabalho de Mr. Robot, uma série que é um verdadeiro presente para os apaixonados por artes visuais. Além da fotografia belíssima, Mr. Robot tem enquadramentos com poucos precedentes e nos colocam em pontos da tela na mesma proporção que nos colocam na cabeça do protagonista.
Além de um deleite visual, a série tem um roteiro instigante e uma narrativa excepcional, tão diferenciada que me lembrou um pouco Black Mirror no sentido de que a pessoa para se apaixonar pela série tem que ter um ‘paladar’ meio diferenciado, talvez pelo ritmo do enredo, principalmente do piloto. Ela pode não ser uma série que vai agradar a todos, mas tem méritos inquestionáveis que são ainda mais apreciados com o tempo.
Muito de cara a gente vê que há uma série de coisas erradas com o protagonista Elliot, interpretado de modo surreal pelo incrível Rami Malek – que foi merecidamente premiado pela série algumas vezes. Já de cara somos o problema na mente dele, o motivo da tristeza dele ao perceber que realmente tem um amigo imaginário… Sim, somos nós mesmos! A gente literalmente passa a temporada toda dentro da cabeça do Elliot.
Elliot é um hacker que quer mudar o mundo através da sua visão anti-capitalista o do seu talento peculiar para invadir sistemas e quebrar tudo que ele acha que esteja errado. Ele já deixa claro no começo que o erro das pessoas é achar que ele faz isso por dinheiro. A vida solitária deixa Elliot totalmente focado no mundo virtual e o quanto mais afastado possível das relações sociais e reais, algo que ele tenta trabalhar com uma psicóloga que é muito mais analisada por ele do que o oposto.
Pela fissura no mundo virtual, Elliot vira simplesmente excelente no que faz, admirando abertamente, inclusive, outros hackers que conseguem invadir o sistema da empresa e dos clientes da empresa para a qual ele trabalha. Ele acaba virando alvo de interesse de um grupo bem semelhante ao Anonymous, que tão bem conhecemos.
A partir de então a gente vai vendo menos do mundo solitário do protagonista e a série vai se preenchendo de muitos outros personagens. Durante seus poucos episódios, que sempre têm títulos como se fosse arquivos de computador, com direito a extensão e tudo, vemos um número interessante de pessoas indo e vindo, aí é que entra a grande astúcia da série: ninguém entra por entrar ou sai por sair. Não há enredo na série que não fique resolvido u personagem que passe sem ter seu enredo bem fechadinho. A série é bem sagaz em não deixar pontas soltas.
Durante todo esse tempo continuamos vendo o mundo pela perspectiva do Elliot, que vai narrando tudo que se passa na mente dele pra que possamos entender todo o contexto. A trilha sonora é sensacional em acompanhar isso, ela tem umas pausas abruptas quando um pensamento dele é interrompido por algo que acontece. Os cortes, que muitas vezes são secos, permitem que a gente fique meio atento a tudo junto com ele. Ressalva: assista a série com fone de ouvidos para sentir essa experiência de modo melhor, vale a pena!
São muitos os que dirão que a série é uma mistura de V de Vingança com Clube da luta, que ela faz críticas capitalistas como zilhões de outras produções já fizeram e que blá blá blá .. Pra eles eu digo “so what?”, quase todas as séries que a gente vê tem referências de algo, algumas literalmente roubam falas e situações! Eu sou apaixonada por Clube da Luta e acho V de Vingança ótimo! Se uma série mistura dois ótimos elementos da cultura pop, ótimo! Eu acho que Mr. Robot criou uma identidade própria e é GENIAL por ser uma série de TV.
Ao contrário de séries da mesma linha que ficaram restritas a um circuito bem fechado, Mr. Robot conseguiu uma excelente visibilidade justamente por sua audácia. É uma série totalmente atípica com um protagonista forte e profundamente bem interpretado! A ‘estranheza física’ de Malek fez o cara cair como uma luva pro papel.
A série tem uma trama sensacional e instigante que nos coloca num presente distópico, não em um futuro do gênero, o que é a grande característica de muitas produções. Ao invés de nos fazer pensar em um cenário que misture a tecnologia que vivemos hoje com o futuro, assim como em Black Mirror, Mr. Robot nos coloca em um contexto contemporâneo, em algo que já estamos vivendo.
Com personagens maravilhosos, cheios de camadas e histórias de vida, a série faz com quem uma pessoa mais ‘real’ como a Angela seja engolida no meio de tanta gente complexa e cheia de lados sombrios. Quanto mais ‘esquisito’ for o personagem, mais você vai gostar e se apegar! Vale a ressalva de que até o sempre desacreditado Christian Slater parece ter achado o papel da vida em Mr. Robot, entregando uma atuação que cabe perfeitamente na série.
O enredo nos deixa tão envolvidos com a série que quando a gente é pego pelo plot twist, que é razoavelmente previsível, ele não consegue apagar a série em si e nem apagar o brilho de toda uma trama tão fascinante. Eu vejo muitas críticas tirando pontos da avaliação da série por isso, eu já não sou capaz de fazer o mesmo, até porque acho Mr. Robot tão inovadora em tantos aspectos que uma leve copiadinha aqui ou ali não mata o impacto que ela gera na nossa mente.
Ao contrário de outras colunas, não quero falar simplesmente nada sobre Mr. Robot que não seja isso. Sem comentar fatos específicos, apenas dizer que é um espetáculo de produção que tem um enredo envolvente, um elenco maravilhoso, uma trilha impactante e é um presente para os olhos (exceto pelos olhos do Malek, que me assustam algumas vezes…)
Caso essa seja a primeira vez que você esteja lendo sobre a série, preciso deixar uma dica que você vai encontrar em todo e qualquer lugar que fale sobre ela: no final do último episódio da primeira temporada – que acaba com aquele gancho incrível – tem uma cena pós-créditos que você não deve perder, ainda mais se está esperando pelo que virá na nova temporada! A cena é mais uma prova da genialidade da série na área audiovisual.
A primeira temporada, ao meu parecer, é uma obra irretocável! Não poderia ser melhor, honestamente! Só nos resta fazer todas as figas do mundo para que a Season 2 seja tão ou mais genial que esse presente que foi a primeira! Nota 10 com todos os méritos!