domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘Mudo’: Calado, o novo filme da Netflix é um poeta

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Uma nova onda de sci-fis tem novamente permeado a indústria cinematográfica, nos levando pela mesma atmosfera que a aguardada chegada do Milênio reservava ao mundo. Tal como os anos que antecederam os 2000, nos vemos em uma confluência, onde o antigo e o futuro cibernético se cruzam em narrativas que trazem o distópico e o surreal juntos.



Seguindo os moldes do aclamado Blade Runner, os anos 2010 voltam a se preocupar com o futuro da humanidade e filmes como Ghost in The Shell: A Vigilante do Amanhã, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas e Blade Runner 2049 emergem como entretenimento que também exercem (ou ao menos tentam) o papel de indutores de longas reflexões profundas. E aliado às séries Philip K. Dick’s Electric Dreams, Black Mirror e Altered Carbon, a Netflix cai de cabeça neste gênero, com uma tentativa fracassada de cyberpunk. Ao contrário de sua nova série, Mudo peca em todos os sentidos possíveis, fazendo com que a única coisa valiosa seja de fato o silêncio de sua produção.

Pode ser que o cyberpunk tenha resgatado seu fascínio popular, unindo os amantes de clássicos cults e blockbusters em uma paixão em comum. No entanto, usá-lo meramente como um utensílio ilustrativo não sustenta uma produção e na ficção científica de Duncan Jones, filho de David Bowie, é exatamente o que acontece. Com uma estética preguiçosa que não convence o mais desatento espectador, a atmosfera underground – que concilia os tons neons com as cores sombrias da ferrugem – é feita porcamente, em uma meia dúzia de cenários que se repetem e revelam a falta de construção conceitual da Berlim de 2055. Esta mesma cidade, que testemunhou alguns dos maiores eventos históricos da humanidade, é reduzida a pequenas ruas e núcleos genéricos onde as cenas ocorrem.

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Com um design de produção que beira o amadorismo, Mudo consegue contradizer o próprio investimento da Netflix em seus conteúdos originais. Ironicamente, o filme de Jones consegue ser inferior à série Altered Carbon, cuja estética hipnotiza em um estilo que referencia o clássico de Ridley Scott, à medida que o expande em sua própria autenticidade. Com um conceito falho, o contexto de um futuro cibernético se faz desnecessário. Ao contrário de tantos sucessos do gênero sci-fi, a atmosfera cyberpunk em nada favorece a trama. Evasiva e óbvia, a narrativa de Duncan Jones e Michael Robert Johnson poderia muito bem ter acontecido em qualquer período social, qualquer década. Os elementos da tecnologia ultra avançada não possuem qualquer papel relevante no desenvolvimento do roteiro, sendo apenas apreciado nos 20 minutos finais do interminável filme.

Alexander Skarsgård e Paul Rudd se esforçam, dedicam suas melhores expressões a um filme incapaz de desenvolver dois dos atores mais cobiçados da atualidade. O primeiro, vencedor de todos os prêmios como Melhor Ator em Minissérie por Big Little Lies, entrega uma apaixonante atuação, onde o silêncio prova ser um aliado à sua expressividade. Cativante e inocente, ele redefine a impressão que temos, adquirida da sua sagacidade e sensualidade exalada no detestável personagem Perry Wright. Sua linguagem corporal, o corte de cabelo que não favorece os traços de seu rosto e um olhar cabisbaixo – de quem cresceu à margem da sociedade por ser mudo – revelam o potencial grandioso do ator. Sozinho, ele segura o incansável desejo de simplesmente encerrarmos a produção no meio dela. Quisera nós que seus esforços tivessem sido devidamente honrados.

E neste emaranhado de falhas, a própria construção do personagem peca por não saber desenvolver um aspecto tão latente. Membro do grupo anabatista Amish – que vive aquém das revoluções tecnológicas e é conservador quanto ao uso de aparelhos eletroeletrônicos, essa característica que define toda a sua vida poderia ter sido explorada. Em um contexto onde a tecnologia exala pelos poros em carros voadores e andróides strippers (sim, isso existe no filme), Mudo perde a oportunidade de fazer um contraste surpreendente, deixando para trás um elemento que, ao final de tudo, não serve para nada.

Com um figurino absolutamente genérico, que não representa a moda alemã – que sempre foi tão característica desde os tempos do Muro de Berlim – e não destaca o aspecto cyberpunk, Mudo ganha fôlego de vida apenas em seus últimos 20 minutos. Tentando recuperar a atenção de seu espectador, não compreendemos porque o sumiço de uma mulher precisa de duas horas para ser desvendado, em uma trama enfadonha e prolixa, que só anda em círculos. Cansativo, o novo filme da Netflix é a prova de que na teoria todos sabem fazer um sci-fi de respeito. A prática é onde o bicho pega.

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Uma nova onda de sci-fis tem novamente permeado a indústria cinematográfica, nos levando pela mesma atmosfera que a aguardada chegada do Milênio reservava ao mundo. Tal como os anos que antecederam os 2000, nos vemos em uma confluência, onde o antigo e o futuro cibernético se cruzam em narrativas que trazem o distópico e o surreal juntos.

Seguindo os moldes do aclamado Blade Runner, os anos 2010 voltam a se preocupar com o futuro da humanidade e filmes como Ghost in The Shell: A Vigilante do Amanhã, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas e Blade Runner 2049 emergem como entretenimento que também exercem (ou ao menos tentam) o papel de indutores de longas reflexões profundas. E aliado às séries Philip K. Dick’s Electric Dreams, Black Mirror e Altered Carbon, a Netflix cai de cabeça neste gênero, com uma tentativa fracassada de cyberpunk. Ao contrário de sua nova série, Mudo peca em todos os sentidos possíveis, fazendo com que a única coisa valiosa seja de fato o silêncio de sua produção.

Pode ser que o cyberpunk tenha resgatado seu fascínio popular, unindo os amantes de clássicos cults e blockbusters em uma paixão em comum. No entanto, usá-lo meramente como um utensílio ilustrativo não sustenta uma produção e na ficção científica de Duncan Jones, filho de David Bowie, é exatamente o que acontece. Com uma estética preguiçosa que não convence o mais desatento espectador, a atmosfera underground – que concilia os tons neons com as cores sombrias da ferrugem – é feita porcamente, em uma meia dúzia de cenários que se repetem e revelam a falta de construção conceitual da Berlim de 2055. Esta mesma cidade, que testemunhou alguns dos maiores eventos históricos da humanidade, é reduzida a pequenas ruas e núcleos genéricos onde as cenas ocorrem.

Com um design de produção que beira o amadorismo, Mudo consegue contradizer o próprio investimento da Netflix em seus conteúdos originais. Ironicamente, o filme de Jones consegue ser inferior à série Altered Carbon, cuja estética hipnotiza em um estilo que referencia o clássico de Ridley Scott, à medida que o expande em sua própria autenticidade. Com um conceito falho, o contexto de um futuro cibernético se faz desnecessário. Ao contrário de tantos sucessos do gênero sci-fi, a atmosfera cyberpunk em nada favorece a trama. Evasiva e óbvia, a narrativa de Duncan Jones e Michael Robert Johnson poderia muito bem ter acontecido em qualquer período social, qualquer década. Os elementos da tecnologia ultra avançada não possuem qualquer papel relevante no desenvolvimento do roteiro, sendo apenas apreciado nos 20 minutos finais do interminável filme.

Alexander Skarsgård e Paul Rudd se esforçam, dedicam suas melhores expressões a um filme incapaz de desenvolver dois dos atores mais cobiçados da atualidade. O primeiro, vencedor de todos os prêmios como Melhor Ator em Minissérie por Big Little Lies, entrega uma apaixonante atuação, onde o silêncio prova ser um aliado à sua expressividade. Cativante e inocente, ele redefine a impressão que temos, adquirida da sua sagacidade e sensualidade exalada no detestável personagem Perry Wright. Sua linguagem corporal, o corte de cabelo que não favorece os traços de seu rosto e um olhar cabisbaixo – de quem cresceu à margem da sociedade por ser mudo – revelam o potencial grandioso do ator. Sozinho, ele segura o incansável desejo de simplesmente encerrarmos a produção no meio dela. Quisera nós que seus esforços tivessem sido devidamente honrados.

E neste emaranhado de falhas, a própria construção do personagem peca por não saber desenvolver um aspecto tão latente. Membro do grupo anabatista Amish – que vive aquém das revoluções tecnológicas e é conservador quanto ao uso de aparelhos eletroeletrônicos, essa característica que define toda a sua vida poderia ter sido explorada. Em um contexto onde a tecnologia exala pelos poros em carros voadores e andróides strippers (sim, isso existe no filme), Mudo perde a oportunidade de fazer um contraste surpreendente, deixando para trás um elemento que, ao final de tudo, não serve para nada.

Com um figurino absolutamente genérico, que não representa a moda alemã – que sempre foi tão característica desde os tempos do Muro de Berlim – e não destaca o aspecto cyberpunk, Mudo ganha fôlego de vida apenas em seus últimos 20 minutos. Tentando recuperar a atenção de seu espectador, não compreendemos porque o sumiço de uma mulher precisa de duas horas para ser desvendado, em uma trama enfadonha e prolixa, que só anda em círculos. Cansativo, o novo filme da Netflix é a prova de que na teoria todos sabem fazer um sci-fi de respeito. A prática é onde o bicho pega.

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