terça-feira , 17 dezembro , 2024

Crítica ‘Mulher-Hulk’ | Episódio final traz uma deliciosa ironia e encerra a série com perfeição

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[ANTES DE COMEÇAR A MATÉRIA, FIQUE CIENTE QUE ELA ESTÁ RECHEADA DE SPOILERS] 

Se você ainda não assistiu ao último episódio de Mulher-Hulk: Defensora de Heróis, evite esta matéria, pois ela contém spoilers



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A premissa básica do humor é a quebra de expectativas. A surpresa é um dos elementos mais simples e fundamentais na hora de fazer uma boa piada. E para uma série cuja proposta se deu desde sempre pelo humor, por não se levar a sério, encerrar sua temporada com um episódio como esse é a prova maior do sucesso de Mulher-Hulk: Defensora de Heróis. Convivendo desde o início com o ódio de supostos fãs que estavam mais preocupados em reclamar incessantemente do que curtir a produção, o seriado da Mulher-Hulk se desenvolveu bem, deu pequenas alfinetadas ao longo das semanas e aguardou o último capítulo para lavar sua alma.

Enquanto especulávamos que o vilão da série poderia ser O Líder, clássico inimigo do Hulk, a produção subverteu todas as expectativas e mostrou que o verdadeiro malfeitor era um retrato escarrado do que a comunidade de fãs de quadrinhos tem de pior: os Incels. Preste atenção, não estou dizendo que todos os fãs são incels, mas é inegável que a presença deles no grupo é enorme. E a série foi extremamente corajosa ao desafiar e mostrar o quanto essa parcela é ridícula.

Todd em Mulher Hulk

O Todd é arrogante, metido, baixinho, feio, ruim de papo – provavelmente tem bafo -, e convive com um irritante complexo de superioridade, mesmo sendo incapaz de conseguir um encontro sem subornar alguém. E apesar de ser constantemente desmoralizado na série, ele tenta compensar sua falta de noção comprando objetos caros – e traficados – e formando seu grupinho de lerdões para humilhar uma mulher que ele deseja, mas sabe que nunca terá.

Qualquer fórum da internet tem pelo menos uns 500 Todds prontos para gastar o dia com assuntos terríveis e uma chatice incompreensível. Na série, ele seguia com seu culto de ódio às mulheres, se aproveitando do machismo estrutural da sociedade para rebaixar a Jennifer a uma louca descontrolada. E quando a série ia realizar seu sonho, que era ter poderes e se sentir mais do que um fracassado com brinquedos legais, Jen usa suas habilidades para quebrar a quarta parede e dar um basta nessa palhaçada.

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Por mais legal que fosse ter uma sequência de pancadaria com quatro monstros de CGI, é um fato que a produção estaria priorizando uma sequência de ação comum ante o desenvolvimento de sua protagonista. Jennifer passou a série inteira tentando se aceitar como Mulher-Hulk, mostrando que a radiação gama não era a vilã da história, apenas uma consequência, e ao dar poderes ao Todd, toda a discussão acerca da aceitação de Jen e suas habilidades seria jogada fora.

Cansada das humilhações que passou ao longo dos episódios, Jen toma o controle de sua vida, quebra a quarta parede e transcende. Há vários momentos na história do cinema em que o encontro de um personagem com seu criador é feito de forma poética, fascinante. No próprio MCU há momentos assim, como visto em Eternos (2021), por exemplo. Mas estamos falando de uma série de humor, então esse momento de encontro entre criador e criatura se aproveita da genialidade de sua equipe criativa para satirizar toda a existência desse universo, mostrando que a Jen não apenas está ciente de sua existência, como também tem críticas a fazer. Nesse momento, ela representa o fã “do bem”, que gosta dos personagens e sabe que não pode engolir tudo que o Kevin Feige despejar só “porque é Marvel”.

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E a ideia de fazer do Kevin Feige uma máquina do entretenimento, ao melhor estilo 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), foi muito bem sacado. Não é fácil ver um nome grande da indústria como ele aceitar esse tipo de zoação, explorando seus pontos fracos de forma tão franca como é feito nessa série. Eles brincam com o CGI da série, que vem sendo alvo de críticas desde sempre, sacaneiam a Fórmula Marvel e sua repetitividade; zoam os contratos de não divulgação, a falta de liberdade criativa, a necessidade por linkar as produções mesmo que isso custe o desenvolvimento dos personagens, o puritanismo da Disney… Enfim, é um papo divertido e orgânico demais, que parece representar o que qualquer fã saudável falaria caso tivesse a oportunidade de bater um papo com o Kevin.

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Por fim, a série termina com a Jen tendo um refresco, podendo curtir sua vida agora que aceitou que ela e a Mulher-Hulk são uma só, mas deixa no ar que o problema do machismo segue vivo na sociedade. Não à toa, quando ela está indo para o tribunal, um repórter não perde a oportunidade de perguntar qual a grife da roupa que ela está usando, mesmo que isso não tenha qualquer tipo de valor jornalístico. Enfim, plena, com um primo-sobrinho espacial calvo, um peguete com habilidades únicas e atuando na sua profissão sem precisar esconder quem é, Jen coloca sua vida nos trilhos e caminha rumo ao tribunal preparada para resolver todos os casos possíveis. É uma mensagem muito legal e que encerra a série de forma perfeita.

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Mulher-Hulk: Defensora de Heróis está disponível no Disney+.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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A premissa básica do humor é a quebra de expectativas. A surpresa é um dos elementos mais simples e fundamentais na hora de fazer uma boa piada. E para uma série cuja proposta se deu desde sempre pelo humor, por não se levar a sério, encerrar sua temporada com um episódio como esse é a prova maior do sucesso de Mulher-Hulk: Defensora de Heróis. Convivendo desde o início com o ódio de supostos fãs que estavam mais preocupados em reclamar incessantemente do que curtir a produção, o seriado da Mulher-Hulk se desenvolveu bem, deu pequenas alfinetadas ao longo das semanas e aguardou o último capítulo para lavar sua alma.

Enquanto especulávamos que o vilão da série poderia ser O Líder, clássico inimigo do Hulk, a produção subverteu todas as expectativas e mostrou que o verdadeiro malfeitor era um retrato escarrado do que a comunidade de fãs de quadrinhos tem de pior: os Incels. Preste atenção, não estou dizendo que todos os fãs são incels, mas é inegável que a presença deles no grupo é enorme. E a série foi extremamente corajosa ao desafiar e mostrar o quanto essa parcela é ridícula.

Todd em Mulher Hulk

O Todd é arrogante, metido, baixinho, feio, ruim de papo – provavelmente tem bafo -, e convive com um irritante complexo de superioridade, mesmo sendo incapaz de conseguir um encontro sem subornar alguém. E apesar de ser constantemente desmoralizado na série, ele tenta compensar sua falta de noção comprando objetos caros – e traficados – e formando seu grupinho de lerdões para humilhar uma mulher que ele deseja, mas sabe que nunca terá.

Qualquer fórum da internet tem pelo menos uns 500 Todds prontos para gastar o dia com assuntos terríveis e uma chatice incompreensível. Na série, ele seguia com seu culto de ódio às mulheres, se aproveitando do machismo estrutural da sociedade para rebaixar a Jennifer a uma louca descontrolada. E quando a série ia realizar seu sonho, que era ter poderes e se sentir mais do que um fracassado com brinquedos legais, Jen usa suas habilidades para quebrar a quarta parede e dar um basta nessa palhaçada.

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Por mais legal que fosse ter uma sequência de pancadaria com quatro monstros de CGI, é um fato que a produção estaria priorizando uma sequência de ação comum ante o desenvolvimento de sua protagonista. Jennifer passou a série inteira tentando se aceitar como Mulher-Hulk, mostrando que a radiação gama não era a vilã da história, apenas uma consequência, e ao dar poderes ao Todd, toda a discussão acerca da aceitação de Jen e suas habilidades seria jogada fora.

Cansada das humilhações que passou ao longo dos episódios, Jen toma o controle de sua vida, quebra a quarta parede e transcende. Há vários momentos na história do cinema em que o encontro de um personagem com seu criador é feito de forma poética, fascinante. No próprio MCU há momentos assim, como visto em Eternos (2021), por exemplo. Mas estamos falando de uma série de humor, então esse momento de encontro entre criador e criatura se aproveita da genialidade de sua equipe criativa para satirizar toda a existência desse universo, mostrando que a Jen não apenas está ciente de sua existência, como também tem críticas a fazer. Nesse momento, ela representa o fã “do bem”, que gosta dos personagens e sabe que não pode engolir tudo que o Kevin Feige despejar só “porque é Marvel”.

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E a ideia de fazer do Kevin Feige uma máquina do entretenimento, ao melhor estilo 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), foi muito bem sacado. Não é fácil ver um nome grande da indústria como ele aceitar esse tipo de zoação, explorando seus pontos fracos de forma tão franca como é feito nessa série. Eles brincam com o CGI da série, que vem sendo alvo de críticas desde sempre, sacaneiam a Fórmula Marvel e sua repetitividade; zoam os contratos de não divulgação, a falta de liberdade criativa, a necessidade por linkar as produções mesmo que isso custe o desenvolvimento dos personagens, o puritanismo da Disney… Enfim, é um papo divertido e orgânico demais, que parece representar o que qualquer fã saudável falaria caso tivesse a oportunidade de bater um papo com o Kevin.

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Por fim, a série termina com a Jen tendo um refresco, podendo curtir sua vida agora que aceitou que ela e a Mulher-Hulk são uma só, mas deixa no ar que o problema do machismo segue vivo na sociedade. Não à toa, quando ela está indo para o tribunal, um repórter não perde a oportunidade de perguntar qual a grife da roupa que ela está usando, mesmo que isso não tenha qualquer tipo de valor jornalístico. Enfim, plena, com um primo-sobrinho espacial calvo, um peguete com habilidades únicas e atuando na sua profissão sem precisar esconder quem é, Jen coloca sua vida nos trilhos e caminha rumo ao tribunal preparada para resolver todos os casos possíveis. É uma mensagem muito legal e que encerra a série de forma perfeita.

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