segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica | Mulheres Alteradas – Um timaço de atrizes na comédia baseada em famosa HQ feminista

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Alterada não é Louca

No começo de Mulheres Alteradas, longa baseado em uma famosa história em quadrinhos argentina, da autora Maitena, um texto trata de explicar que o conceito de “alterada” não se refere à loucura ou qualquer comportamento irracional que o sexo feminino possa ter. Mas, sim, à sensação que toda mulher vive ou viverá ao longo da vida: insatisfações, buscas, autoconhecimento e as inúmeras questões em seu novo lugar no mundo.

À primeira vista, Mulheres Alteradas pode parecer somente mais uma superficial comédia brasileira estrelada por rostos famosos, mas é em suas entrelinhas que o filme ganha verdadeiramente força e consegue se sobressair entre o que geralmente é produzido no país.



O segredo, além do rico material fonte da HQ, está na adaptação para o cinema provida pela dupla responsável pelo criativo programa de TV Lili a Ex (2014-2016). Caco Galhardo (o roteirista) e Luis Pinheiro (diretor) reprisam aqui suas funções do seriado, mostrando que o cinema nacional deve apostar, sim, em novos talentos, cheios de fome e energia – ao contrário das usuais cartas marcadas de caça-níqueis repetitivos. Mulheres Alteradas exala exuberância em seus pequenos detalhes, e grande parte disso se deve ao talento da dupla. Se os esforços continuarem por este caminho, quem sabe em breve o público esqueça o ranço associado ao selo Globo Filmes.

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É claro também que o êxito deve ser creditado ao verdadeiro timaço feminino que temos na frente das câmeras. É quando são providas com bons diálogos, boas personagens e bons momentos para brilhar, que atrizes do nível de Deborah Secco, Alessandra Negrini, Monica Iozzi e Maria Casadevall (completando a reunião da citada série) se sentem à vontade para demonstrar todo seu alcance performático. Vindo de uma comédia, gênero difícil e menosprezado, tudo precisa se tornar ainda mais cronometrado a fim de atingir o timing perfeito. E a química do elenco se mostra tão harmoniosa e honesta ao ponto de deixar interações hollywoodianas femininas recentes no chinelo (de um certo filme de 8 criminosas elegantes).

No elenco, o destaque fica com Deborah Secco e sua Keka, personagem que tenta desesperadamente salvar o casamento com Dudu (Sérgio Guizé), num dos trechos que toda mulher casada irá instantaneamente se identificar. Depois de serem pais de gêmeos, a relação deste jovem casal estagnou, em grande parte pelo comodismo do sujeito reclamão. A sinceridade das situações é parte do charme do longa, mesmo que este seja levado em um tom caricatural, próximo ao material fonte. Mulheres Alteradas reveza seu teor de comic book, dono de certo exagero proposital e surrealismo – em especial, em muitos trechos envolvendo Alessandra Negrini e sua Marinati – com a seriedade de um drama cuja proposta é o insight certeiro na psiquê feminina. Um exemplo do cenário estrategicamente absurdo é quando a personagem Marinati faz sexo apaixonado e flutua, ou quando sai de férias na praia e uma concussão é responsável por uma sequência de alucinação que faz bom uso de efeitos visuais (dignos de prêmios – é sério!), o que só acrescenta ao fator cômico.

Grande parte do humor de Mulheres Alteradas é trazido pela identificação com os estereótipos bem trabalhados das quatro personagens principais. Em um núcleo, temos Marinati (Negrini), a mulher de negócios moderna, focada unicamente na carreira e sem tempo para relacionamentos amorosos, e sua front-woman de confiança, Keka (Secco). No segundo núcleo, duas irmãs resolvem trocar de vida momentaneamente. Sônia (Iozzi) é a mãezona que perdeu a sagacidade da vida social, e Leandra (Casadevall), a caçula, especialista em noitadas e falta de compromisso. Ver Iozzi sobressaindo num papel no qual não a vislumbraríamos necessariamente é sinal de uma grande intérprete adormecida. A entrega de todas é grande.

Como dito, os relacionamentos são críveis e os empenhos do grupo exalam simetria. É muito difícil encontrar tamanha concordância em uma comédia nacional, entre atuações, texto e direção. Mulheres Alteradas atinge a tão sonhada nota, sem precisar recair no mais baixo denominador comum, muito típico no gênero. Aqui, os envolvidos tratam de confeccionar mulheres inteligentes e empoderadas, buscando reacender e retomar as rédeas de suas vidas. Nem que para isso precisem mandar às favas o típico final feliz enraizado no consciente coletivo social. Acima de tudo, Mulheres Alteradas é um filme que já nasce à frente de seu tempo, pronto a adereçar questões femininas atemporais e universais, utilizando de muito bom humor, mas sem esquecer a “sutileza” de um bom palavrão de encher a boca, que todos nós precisamos proferir de tempos em tempos. “Lindíssimas, falaram tudo”.

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No começo de Mulheres Alteradas, longa baseado em uma famosa história em quadrinhos argentina, da autora Maitena, um texto trata de explicar que o conceito de “alterada” não se refere à loucura ou qualquer comportamento irracional que o sexo feminino possa ter. Mas, sim, à sensação que toda mulher vive ou viverá ao longo da vida: insatisfações, buscas, autoconhecimento e as inúmeras questões em seu novo lugar no mundo.

À primeira vista, Mulheres Alteradas pode parecer somente mais uma superficial comédia brasileira estrelada por rostos famosos, mas é em suas entrelinhas que o filme ganha verdadeiramente força e consegue se sobressair entre o que geralmente é produzido no país.

O segredo, além do rico material fonte da HQ, está na adaptação para o cinema provida pela dupla responsável pelo criativo programa de TV Lili a Ex (2014-2016). Caco Galhardo (o roteirista) e Luis Pinheiro (diretor) reprisam aqui suas funções do seriado, mostrando que o cinema nacional deve apostar, sim, em novos talentos, cheios de fome e energia – ao contrário das usuais cartas marcadas de caça-níqueis repetitivos. Mulheres Alteradas exala exuberância em seus pequenos detalhes, e grande parte disso se deve ao talento da dupla. Se os esforços continuarem por este caminho, quem sabe em breve o público esqueça o ranço associado ao selo Globo Filmes.

É claro também que o êxito deve ser creditado ao verdadeiro timaço feminino que temos na frente das câmeras. É quando são providas com bons diálogos, boas personagens e bons momentos para brilhar, que atrizes do nível de Deborah Secco, Alessandra Negrini, Monica Iozzi e Maria Casadevall (completando a reunião da citada série) se sentem à vontade para demonstrar todo seu alcance performático. Vindo de uma comédia, gênero difícil e menosprezado, tudo precisa se tornar ainda mais cronometrado a fim de atingir o timing perfeito. E a química do elenco se mostra tão harmoniosa e honesta ao ponto de deixar interações hollywoodianas femininas recentes no chinelo (de um certo filme de 8 criminosas elegantes).

No elenco, o destaque fica com Deborah Secco e sua Keka, personagem que tenta desesperadamente salvar o casamento com Dudu (Sérgio Guizé), num dos trechos que toda mulher casada irá instantaneamente se identificar. Depois de serem pais de gêmeos, a relação deste jovem casal estagnou, em grande parte pelo comodismo do sujeito reclamão. A sinceridade das situações é parte do charme do longa, mesmo que este seja levado em um tom caricatural, próximo ao material fonte. Mulheres Alteradas reveza seu teor de comic book, dono de certo exagero proposital e surrealismo – em especial, em muitos trechos envolvendo Alessandra Negrini e sua Marinati – com a seriedade de um drama cuja proposta é o insight certeiro na psiquê feminina. Um exemplo do cenário estrategicamente absurdo é quando a personagem Marinati faz sexo apaixonado e flutua, ou quando sai de férias na praia e uma concussão é responsável por uma sequência de alucinação que faz bom uso de efeitos visuais (dignos de prêmios – é sério!), o que só acrescenta ao fator cômico.

Grande parte do humor de Mulheres Alteradas é trazido pela identificação com os estereótipos bem trabalhados das quatro personagens principais. Em um núcleo, temos Marinati (Negrini), a mulher de negócios moderna, focada unicamente na carreira e sem tempo para relacionamentos amorosos, e sua front-woman de confiança, Keka (Secco). No segundo núcleo, duas irmãs resolvem trocar de vida momentaneamente. Sônia (Iozzi) é a mãezona que perdeu a sagacidade da vida social, e Leandra (Casadevall), a caçula, especialista em noitadas e falta de compromisso. Ver Iozzi sobressaindo num papel no qual não a vislumbraríamos necessariamente é sinal de uma grande intérprete adormecida. A entrega de todas é grande.

Como dito, os relacionamentos são críveis e os empenhos do grupo exalam simetria. É muito difícil encontrar tamanha concordância em uma comédia nacional, entre atuações, texto e direção. Mulheres Alteradas atinge a tão sonhada nota, sem precisar recair no mais baixo denominador comum, muito típico no gênero. Aqui, os envolvidos tratam de confeccionar mulheres inteligentes e empoderadas, buscando reacender e retomar as rédeas de suas vidas. Nem que para isso precisem mandar às favas o típico final feliz enraizado no consciente coletivo social. Acima de tudo, Mulheres Alteradas é um filme que já nasce à frente de seu tempo, pronto a adereçar questões femininas atemporais e universais, utilizando de muito bom humor, mas sem esquecer a “sutileza” de um bom palavrão de encher a boca, que todos nós precisamos proferir de tempos em tempos. “Lindíssimas, falaram tudo”.

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