quinta-feira, março 28, 2024

Crítica Netflix | Despedida em Grande Estilo – Emocionante produção à moda antiga

Três Velhos Rabugentos

É muito bom perceber que nos tempos cínicos atuais, aonde o cinema de Hollywood se afunda cada vez mais em superproduções bilionárias, deficientes de elementos humanos, a maioria dando mais prejuízo do que outra coisa, e voltadas puramente para o escapismo da puberdade, riscos como este ainda são tomados. Despedida em Grande Estilo é uma produção mainstream de cinema entretenimento, no entanto, de um tipo diferente, com mais valor e próximo ao que era feito nas décadas de 1980 e 1990.

Apesar de ser uma refilmagem – o que neste caso funciona, justamente por refazer uma obra desconhecida do grande público e verdadeiramente antiga (de 1979 mais precisamente) – o longa que estreou na Netflix valoriza seus protagonistas, todos atores veteranos da terceira idade, dentro de uma indústria que raramente dá espaço para eles. É interessante notar também que filmes do tipo ainda possuem seu público, e que novas investidas em roteiros como este – que vêm se tornando quase um subgênero (com filmes como Antes de Partir, Última Viagem a Vegas, Ajuste de Contas e Amigos Inseparáveis, por exemplo)  – continuam a interessar os estúdios.

Além disso, o remake supera o original por acrescentar mais conteúdo ao núcleo motivador da trama, centrando o roteiro no hoje e servindo como reflexo de problemas atuais da política norte-americana e mundial. Desta forma, continuamos tendo os três amigos geriátricos inseparáveis Willie, Joe e Albert, agora nas peles dos vencedores do Oscar Morgan Freeman (Menina de Ouro), Michael Caine (Hannah e Suas Irmãs e Regras da Vida) e Alan Arkin (Pequena Miss Sunshine), substituindo os atores igualmente lembrados pela Academia Lee Strasberg (indicado por O Poderoso Chefão II), George Burns (vencedor por Uma Dupla Desajustada) e Art Carney (vencedor por Harry, o Amigo de Tonto), nos mesmos papeis respectivos.

A diferença é que enquanto na versão original, os velhinhos decidem roubar um banco apenas para rechear o fim de suas existências de adrenalina, assim se sentindo vivos novamente, na reimaginação o crime é cometido por um motivo bem mais nobre, vingança – ou justiça fora da lei, chame como quiser. O trio passa seus dias finais, apenas contemplando a morte, até que seu tapete é puxado com força debaixo de seus pés. Willie (Freeman) não possui economias suficientes para ir visitar sua filha e neta em outra cidade. Joe (Caine) precisa dar respaldo para a filha e a neta, vivendo sob seu teto. E o rabugento Al (Arkin) cultiva sua empatia com gosto.

Na cena de abertura, em uma visita ao banco, na qual é avisado que pode perder a casa, o personagem de Caine presencia um assalto realizado com extremo requinte e eficiência. Para piorar a situação, entra em jogo o mote da trama e elemento mais urgente. Os três, que por mais de 30 anos trabalharam para a mesma empresa e coletam dela seus cheques de aposentadoria, assim como muitos outros funcionários presentes na fatídica reunião, são avisados de que a companhia está fechando as portas nos EUA e se mudando para um país asiático, terminando assim suas pensões também. O fato ressoa próximo aos brasileiros, e a polêmica envolvendo o tempo de contribuição de trabalho para a aposentadoria em nosso país.

Dito e feito, assim o personagem de Caine junta um mais um e ao lado de seus inseparáveis cúmplices decidem roubar seu próprio banco e sair do vermelho. O interessante deste roteiro, escrito por ninguém menos que Theodore Melfi, indicado ao Oscar pelo recente e cativante Estrelas Além do Tempo, baseado no texto original de Edward Cannon, é justamente acrescentar mais à mistura, dando credibilidade de sobra para a motivação dos infratores idosos, assim como encaixar comentários sociais e políticos relevantes, em especial ao que diz respeito à forma com que os idosos são tratados – mesmo num país de Primeiro Mundo como os EUA.

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Apesar destas pinceladas de criatividade, como esperado, Despedida em Grande Estilo segue de perto uma fórmula que recai num tipo de filme seguro e sem grandes reviravoltas ou novidades em sua jornada. Mesmo assim, quando este caminho é feito ao lado de verdadeiros monstros da sétima arte, ele se torna menos tortuoso, e muito mais crível e prazeroso. Muitos afirmam que atores do naipe de Freeman e Caine, em especial, são convincentes até mesmo em comerciais de margarina. Pois bem, Despedida em Grande Estilo ganha muito ao incluir talentos gigantescos e dar-lhes espaço para fazerem o que sabem de melhor.

Quem comanda tudo é, inusitadamente, Zach Braff, ator da série Scrubs, e diretor de produções indie como os aclamados Hora de Voltar (2004) e Lições em Família (2014). Aqui, trabalhando pela primeira vez para um grande estúdio, a Warner, num filme com grandes nomes, o cineasta não faz feio e entrega uma obra redondinha, com bom ritmo, alívios cômicos eficientes e uma mensagem importante. Numa era de filmes barulhentos e de montagens epiléticas, Despedida em Grande Estilo surge como opção de cinema na Netflix à moda antiga, com atores à moda antiga e diversão à moda antiga. Receitado para todo tipo de público, em especial os necessitados de nostalgia.

O filme já está disponível na Netflix.

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