sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica Netflix | E se Eu Fosse Luísa Sonza – Minissérie foca em polêmicas e dores da rainha dos streamings de 2023

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Quando foi a primeira vez que você ouviu falar no nome de Luísa Sonza? Se você como eu a “conheceu” por conta do casamento com o comediante e influencer Whindersson Nunes, é o mais usual. Pois somente neste momento, a jovem de então 17 anos do interior do Rio Grande do Sul recebeu atenção especial da mídia e pode mostrar os seus dotes musicais. 

Ao longo de apenas 1h49, E se Eu Fosse Luísa Sonza é divido em três episódios: O mundo é um moinho, Eu sou Minha Pior Hater e Escândalo Íntimo. A escolha episódica, ao em vez de capítulos de um documentário, tenta ou conversar direto com o público mais jovem da cantora de 25 anos, ou escalar uma projeção maior do que as pernas da carreira de Luísa Sonza como diva pop brasileira. 



Dirigido por Isabel Nascimento Silva, adepta dos formatos de programas televisivos para GNT e HBO Max, o documentário — vestido de série documental — acompanha um ano na vida de Luísa Gerloff Sonza, tendo bastante tempo de choro e de entrevista confessional, a fim de analisar seu próprio percurso até o ano de 2023. 

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Contando com a participação dos pais e do ex-marido Whindersson Nunes, o primeiro episódio busca apresentar as origens da jovem loira de olhos claros vinda da cidade de 7 mil habitantes de Tuparendi. Com o discurso de origem de mulheres batalhadoras, o documentário não entra em detalhes familiares, mas apresenta Luísa desde pequena soltando a voz em várias apresentações na sua cidade natal. 

Assim como toda história de início da fama, se a pessoa não é filha, sobrinha, afilhada de gente famosa, é necessário uma dose de investimento e interesse de produtores para construir uma carreira musical. Assim como milhares de brasileiras e brasileiros, Luísa Sonza fazia cover de canções e os subia no YouTube. Até que um dia um dos vídeos viralizou e Whindersson Nunes entrou em contato com ela pelas redes sociais. Os dois começaram um relacionamento, vivido e exposto com  intensidade nas redes sociais. 

Caso semelhante ocorreu com a cantora Mallu Magalhães, descoberta no MySpace aos 15 anos, que sofre até hoje com os haters de sua música e do seu relacionamento com Marcelo Camelo, ex-Los Hermanos, 14 anos mais velho. Este parêntese comparativo é apenas para dizer: o “showbusiness” tem muitas dessas coisas. Já Wanessa Camargo penou com a desconfiança da mídia por ser filha de cantor sertanejo em uma época sem Instagram e TikTok; e ainda hoje a baiana Claudia Leitte luta contra o estigma de “inimiga sem talento” de Ivete Sangalo.

Com o objetivo de limpar as polêmicas da artista gaúcha, o segundo episódio mescla as respostas de Luísa aos ataques vividos após o rompimento do casamento com Whindersson e os desdobramentos exacerbados dos “fãs”(???) do comediante com o triste destino do seu filho prematuro. A preparação do lançamento do álbum Doce 22 e a produção de Escândalo Íntimo são pano de fundo, as câmeras são mais incisivas nos problemas de acne da cantora, perda de cabelo, consumo de rivotril e medo de perder a voz. 

Leia também: Crítica | ‘Doce 22’ marca o amadurecimento sem remorsos de Luísa Sonza

Cuidado redobrado com a voz, quatro úlceras e quase uma operação na garganta aos 25 anos, E se Eu Fosse  Luísa Sonza deixa de fora a quantidade enorme de problemas mentais e abuso de substâncias realizadas pela jovem nesse último ano. Por mais que os pais apareçam na produção, a importância dada aos haters da internet na vida dela representa uma real carência de afeto e de acompanhamento de amigos e profissionais. Possivelmente, Luísa Sonza não estava bem nem para fazer este documentário. 

Vale a pena a comparação com as duas temporadas, de seis episódios cada, de Anitta na própria Netflix. Neles, vemos realmente bastidores e detalhes de realizações alcançadas pela artista e poucos posicionamento sobre polêmicas. Já nesta produção parece que Luísa Sonza não estava tão disponível, ou mesmo disposta, a ter uma câmera no seu dia a dia. 

Veja mais: Crítica Netflix | Anitta Made in Honório é o Furacão PopFunk Brasileiro na Intimidade e na Irreverência

Como declarado na minissérie, ela sente-se melhor ao se expressar nas letras de suas músicas. O álbum Doce 22 realmente apresenta uma artista com vigor criativo e voz de soprano altiva. Na produção, porém, a jovem parece já bastante debilitada para a pouca idade. O seriado toca bastante nas dores e nas fofocas da sua carreira, mas deixa o cotidiano da jovem apenas para as imagens de arquivo familiares. 

Quem é Luísa Sonza para você? Por mais que E se Fosse Luisa Sonza tente uma aproximação com o grande público e identificação, a cantora continua numa bolha distante e desprotegida de discursos de ódio. As pessoas ao redor da cantora deveriam protegê-la dessa exposição. Até o caso de injúria racial respondida pela cantora nas redes sociais recebe destaque, mas sem contextualização atual.  

E se eu fosse  Luísa Sonza, me concentraria nas belas harmonizações de letra e melodia — as quais ela sabe fazer — e deixaria as pessoas apreciarem o trabalho sem tentar se justificar tanto. A minissérie documental é mais um confessionário e contra-ataque do que um descortinar do seu processo artístico, pois poucos momentos mostram Luiza no palco, antes ou depois, ou em campanhas, ou em gravações, tudo fica nas salas de brainstorming

As reações de Luiza ao conquistar prêmios e recordes não são mostradas, apenas exibidas por frases em fundo preto. Luísa Sonza é retratada como uma grande sofredora. Houve uma escolha artística de deixá-la diante das câmeras quando as coisas não estão bem. Em busca de descortinar polêmicas e dores, a produção colocou em segundo plano a artista em si. O seriado deveria chamar-se: Apesar do sucesso, Luísa Sonza não está bem. 

E se Fosse Luisa Sonza está disponível desde o dia 13 de dezembro de 2023 na Netflix.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Quando foi a primeira vez que você ouviu falar no nome de Luísa Sonza? Se você como eu a “conheceu” por conta do casamento com o comediante e influencer Whindersson Nunes, é o mais usual. Pois somente neste momento, a jovem de então 17 anos do interior do Rio Grande do Sul recebeu atenção especial da mídia e pode mostrar os seus dotes musicais. 

Ao longo de apenas 1h49, E se Eu Fosse Luísa Sonza é divido em três episódios: O mundo é um moinho, Eu sou Minha Pior Hater e Escândalo Íntimo. A escolha episódica, ao em vez de capítulos de um documentário, tenta ou conversar direto com o público mais jovem da cantora de 25 anos, ou escalar uma projeção maior do que as pernas da carreira de Luísa Sonza como diva pop brasileira. 

Dirigido por Isabel Nascimento Silva, adepta dos formatos de programas televisivos para GNT e HBO Max, o documentário — vestido de série documental — acompanha um ano na vida de Luísa Gerloff Sonza, tendo bastante tempo de choro e de entrevista confessional, a fim de analisar seu próprio percurso até o ano de 2023. 

Contando com a participação dos pais e do ex-marido Whindersson Nunes, o primeiro episódio busca apresentar as origens da jovem loira de olhos claros vinda da cidade de 7 mil habitantes de Tuparendi. Com o discurso de origem de mulheres batalhadoras, o documentário não entra em detalhes familiares, mas apresenta Luísa desde pequena soltando a voz em várias apresentações na sua cidade natal. 

Assim como toda história de início da fama, se a pessoa não é filha, sobrinha, afilhada de gente famosa, é necessário uma dose de investimento e interesse de produtores para construir uma carreira musical. Assim como milhares de brasileiras e brasileiros, Luísa Sonza fazia cover de canções e os subia no YouTube. Até que um dia um dos vídeos viralizou e Whindersson Nunes entrou em contato com ela pelas redes sociais. Os dois começaram um relacionamento, vivido e exposto com  intensidade nas redes sociais. 

Caso semelhante ocorreu com a cantora Mallu Magalhães, descoberta no MySpace aos 15 anos, que sofre até hoje com os haters de sua música e do seu relacionamento com Marcelo Camelo, ex-Los Hermanos, 14 anos mais velho. Este parêntese comparativo é apenas para dizer: o “showbusiness” tem muitas dessas coisas. Já Wanessa Camargo penou com a desconfiança da mídia por ser filha de cantor sertanejo em uma época sem Instagram e TikTok; e ainda hoje a baiana Claudia Leitte luta contra o estigma de “inimiga sem talento” de Ivete Sangalo.

Com o objetivo de limpar as polêmicas da artista gaúcha, o segundo episódio mescla as respostas de Luísa aos ataques vividos após o rompimento do casamento com Whindersson e os desdobramentos exacerbados dos “fãs”(???) do comediante com o triste destino do seu filho prematuro. A preparação do lançamento do álbum Doce 22 e a produção de Escândalo Íntimo são pano de fundo, as câmeras são mais incisivas nos problemas de acne da cantora, perda de cabelo, consumo de rivotril e medo de perder a voz. 

Leia também: Crítica | ‘Doce 22’ marca o amadurecimento sem remorsos de Luísa Sonza

Cuidado redobrado com a voz, quatro úlceras e quase uma operação na garganta aos 25 anos, E se Eu Fosse  Luísa Sonza deixa de fora a quantidade enorme de problemas mentais e abuso de substâncias realizadas pela jovem nesse último ano. Por mais que os pais apareçam na produção, a importância dada aos haters da internet na vida dela representa uma real carência de afeto e de acompanhamento de amigos e profissionais. Possivelmente, Luísa Sonza não estava bem nem para fazer este documentário. 

Vale a pena a comparação com as duas temporadas, de seis episódios cada, de Anitta na própria Netflix. Neles, vemos realmente bastidores e detalhes de realizações alcançadas pela artista e poucos posicionamento sobre polêmicas. Já nesta produção parece que Luísa Sonza não estava tão disponível, ou mesmo disposta, a ter uma câmera no seu dia a dia. 

Veja mais: Crítica Netflix | Anitta Made in Honório é o Furacão PopFunk Brasileiro na Intimidade e na Irreverência

Como declarado na minissérie, ela sente-se melhor ao se expressar nas letras de suas músicas. O álbum Doce 22 realmente apresenta uma artista com vigor criativo e voz de soprano altiva. Na produção, porém, a jovem parece já bastante debilitada para a pouca idade. O seriado toca bastante nas dores e nas fofocas da sua carreira, mas deixa o cotidiano da jovem apenas para as imagens de arquivo familiares. 

Quem é Luísa Sonza para você? Por mais que E se Fosse Luisa Sonza tente uma aproximação com o grande público e identificação, a cantora continua numa bolha distante e desprotegida de discursos de ódio. As pessoas ao redor da cantora deveriam protegê-la dessa exposição. Até o caso de injúria racial respondida pela cantora nas redes sociais recebe destaque, mas sem contextualização atual.  

E se eu fosse  Luísa Sonza, me concentraria nas belas harmonizações de letra e melodia — as quais ela sabe fazer — e deixaria as pessoas apreciarem o trabalho sem tentar se justificar tanto. A minissérie documental é mais um confessionário e contra-ataque do que um descortinar do seu processo artístico, pois poucos momentos mostram Luiza no palco, antes ou depois, ou em campanhas, ou em gravações, tudo fica nas salas de brainstorming

As reações de Luiza ao conquistar prêmios e recordes não são mostradas, apenas exibidas por frases em fundo preto. Luísa Sonza é retratada como uma grande sofredora. Houve uma escolha artística de deixá-la diante das câmeras quando as coisas não estão bem. Em busca de descortinar polêmicas e dores, a produção colocou em segundo plano a artista em si. O seriado deveria chamar-se: Apesar do sucesso, Luísa Sonza não está bem. 

E se Fosse Luisa Sonza está disponível desde o dia 13 de dezembro de 2023 na Netflix.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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