terça-feira, setembro 17, 2024

Crítica Netflix | Emily em Paris – 4° Temporada – Parte 1 gira em mesmíssima questões com pitadas de passeio pela França

Quase dois anos depois das reviravoltas do final do seu terceiro capítulo, em dezembro de 2022, o seriado de Darren Star chega a sua quarta temporada exatamente como todas as outras: um passeio por Paris e cidades francesas de um ponto de vista simples e leve. Emily em Paris continua a apresentar sua protagonista (Lily Collins) mais interessada em mudar de outfit em cada cena do que revelar traços de sua personalidade. 

Geralmente séries de comédia apoiam-se em situações engraçadas de personagens simpáticos e carismáticos, o público diverte-se em acompanhar seus maneirismos e fazer boas e más escolhas. Miriam Maisel (Rachel Brosnahan) é apaixonante em A Maravilhosa Sra. Maisel (2017-2023), já Hannah Horvath (Lena Dunham) é irritante em Girls (2012-2017), porém ambas nos dão a oportunidade de emergir sensações. Algo, no entanto, ausente na quarta temporada de Emily em Paris.

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Quem é Emily Cooper?

Dessa vez, a narrativa é dividida em duas partes, a primeira de cinco episódios, lançados em 15 de agosto, e outros cinco, em 12 de setembro. Na primeira metade, os três primeiros focam em desatar os nós do triângulo amoroso entre Emily, Gabriel (Lucas Bravo) e Alfie (Lucien Laviscount). O britânico apaixonado é realmente o único personagem, infelizmente, a despertar certa emoção, mas o modo que os roteiristas o trata é lastimável.

Desde a primeira temporada, Emily e Gabriel vivem este romance fogo de palha, pouco convincente e sem tanta química, portanto, a torcida por ver os dois juntos é inexistente. Ainda mais com a nova barreira do casal ser Camile (Camille Razat) grávida, vivendo com sua amante grega no seu apartamento. O seriado simboliza o período como uma zona cinzenta, e um modelo moderno de relação dos franceses. 

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Alfie, o personagem mal utilizado pelos roteiristas

As piadas clichês da diferença cultural diminuíram, mas ela ainda flutua em alguns diálogos, como nesse ideal de trisal e amantes franceses, além da expressão idiomática  “ménage à trois” e “trompe l’oeil”. Por outro lado, os passeios pelas cidades ao redor de Paris e suas paisagens peculiares ainda rendem bastante visitas e experiências a serem exploradas. 

No Segundo episódio, somos convidados à quadra de Roland Garros, o maior torneio de tênis do mundo, realizado entre final de maio e início de junho, todos os anos em Paris. Assim como, a bela cidade de Giverny, onde é localizada os jardins e a casa do pintor impressionista Claude Monet, a apenas uma hora e meia da capital. 

Igualmente, nos chama à atenção a gastronomia peculiar parisiense, como as sobremesas “enganadoras” em forma de frutas, garrafas e pratos, criadas pelo chef Cédric Grolet, no restaurante Maurice. Lançado alguns anos atrás, as criações do francês tornaram-se altamente populares nas redes sociais e ele possui mais de 11 milhões de seguidores. 

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Giverny, a cidade do pintor Claude Monet

Por esses e outros pequenos detalhes dos arredores da capital francesa e da própria cidade, o seriado ainda possui o seu encanto. Podemos, por exemplo, fazer um passeio pelas famosas Galeries Lafayette, onde todos os turistas encontram todas as marcas mais famosas do país, e ainda presenciar um jantar no caríssimo L’Ambroisie, com três estrelas Michelin,  — onde nenhum prato é menos de 100 euros, isto é, mais de 500 reais — , na Praça de Vosges. 

Emily em Paris tenta não ser somente sobre a cidade e a protagonista título; deixando um pouco de espaço para os dilemas de Luc (Bruno Gouery), Julien (Samuel Arnold), Mindy (Ashley Parkold) e, principalmente, Sylvie Grateau (Philippine Leroy-Beaulieu). Esta última mostra-se como uma peça bastante importante para o pequeno gesto da produção a favor do movimento #MeToo na França, despertado este ano pela denúncia da atriz Judith Godrèche de abuso — ainda quando menor de idade — contra os diretores franceses Benoît Jacquot e Jacques Doillon

Não deixe de assistir:

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Os integrandes da agência de publicidade Grateau

Tratando-se do tom descompromissado da série, o assunto não ganha tanta proeminência, mas serve de pano de fundo para algumas importantes decisões. A promessa para a segunda parte é de conhecer outras cidades na França e conservar o romance morno e conturbado de Emily e Lucas, os quais nunca estão prontos para assumir uma autêntica relação. Ainda mais que Emily não demonstra nenhum esforço em integrar-se à cultura francesa e continua sendo uma turista em Paris, apesar do emprego de publicitária e seus duvidosos pitches de vendas.

No fim das contas, eu gostaria de conhecer mais Emily, seus gostos (além das roupas); sua família, sua vida anterior nos EUA e até mesmo o seu salário para vestir-se como esbanjadora em Paris, contudo não temos nada disso. Apesar do tom raso, Emily em Paris segue como série embaixadora da França para o mundo e catapulta o interesse do público, sobretudo dos norte-americanos, a fazerem o seu próprio tour Emily in Paris.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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