domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica Netflix | Expresso do Destino – Comédia Romântica de Viagem Cultural à Turquia

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Para além da história, Expresso do Destino (Yarina Tek Bilet) possui o marco de ser o primeiro filme original da Turquia produzido pela Netflix. Com a responsabilidade de transmitir um pouco da imagem turca ao público de centenas de países do streaming, a comédia romântica de Ozan Açıktan é uma adaptação do filme sueco How to Stop a Wedding (2015), pouquíssimo conhecido fora do seu país. 

Com características de filme independente e despretensioso, a obra é centrada em dois personagens, Leyla (Dilan Çiçek Deniz) e Ali (Metin Akdülger), que se conhecem na cabine de um trem da capital Ankara em direção à cidade Izmir, durante 14h de viagem. Ou seja, bastante tempo para dois desconhecidos saberem um pouco mais sobre o outro. Apesar de a primeira vista lembrar o já clássico Antes do Amanhecer (1995), de Richard Linklater, a proposta do filme é completamente diferente e as semelhanças entre os dois são apenas dois desconhecidos dentro de um trem. 



O distanciamento é evidente pela falta de composição de diálogo. Centrado em dois personagens, o mínimo que o espectador espera é um fluxo de ideias envolvente, tal como escrito por Linklater. Contudo, o objetivo da história é criar um mistério, um confronto e uma resolução. Assim, Expresso do Destino começa com Leyla hesitante a entrar no trem, mas em última hora decide seguir a bordo. No entanto, ela toma o assento de Ali, o qual questiona a presença de uma mulher em sua cabine. 

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Soa um pouco irritante a princípio a curiosidade do rapaz sobre a figura da moça, mas logo o espectador descobre que não é normal na Turquia um homem e uma mulher sem parentesco viajarem juntos no mesmo ambiente. Com mistérios sendo revelados pouco a pouco, a história mantém-se interessante, apesar dos diálogos rasos. Em contrapartida, a música é o ponto alto da narrativa e ela se integra às falas dos personagens. 

As melhores cenas são quando ambos decidem apresentar ao outro músicas turcas que falam por eles, um processo sinestésico de compreensão. Nestes momentos, as sequências são bonitas e é aprazível conhecer mais um aspecto da cultura turca, além dos comportamentos e relações sociais. Se as paisagens pela janela não são espetaculares, embora representativas, as canções selecionadas são estimulantes e nos insere na ambientação geográfica. 

A escolha de dividir o filme em várias partes torna-se um diversão metalinguística da própria obra, mas não ajuda no enredo. Com a boa performance dos protagonistas, a linguagem morna do filme consegue ganhar corpo e o desenvolvimento dos dois, entre provocações e reparações, soa factível e jocoso. Além disso, a Miss Universo Turquia 2014, Dilan Çiçek Deniz, possui um olhar expressivo e uma beleza cativante. 

O encanto do filme é ser um romance sem forçar um jogo de sedução ou apelos taxativos, mas na perspectiva dos acasos e nas desilusões da vida. Os personagens, no entanto, não são tão bem desenvolvidos, mas é possível especular que o mistério sobre esses dois indivíduos faça parte do contexto do roteiro. Afinal, em 1h30 de filme, a gente compartilha apenas o dizer deles sobre eles mesmos em uma conjuntura de 14h. 

Embora seja uma obra curta e de poucas ambientações, o roteiro apresenta reviravoltas, jogos de perspectivas e prende a atenção do público. Com um final otimista e imaginativo, Expresso do Destino permite o escapismo a uma viagem internacional, mesmo que não ouse dar voos radicais, e se finda ao som da belíssima canção Le Vent Nous Portera (O Vento nos Levará), na voz de Sophie Hunger

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Para além da história, Expresso do Destino (Yarina Tek Bilet) possui o marco de ser o primeiro filme original da Turquia produzido pela Netflix. Com a responsabilidade de transmitir um pouco da imagem turca ao público de centenas de países do streaming, a comédia romântica de Ozan Açıktan é uma adaptação do filme sueco How to Stop a Wedding (2015), pouquíssimo conhecido fora do seu país. 

Com características de filme independente e despretensioso, a obra é centrada em dois personagens, Leyla (Dilan Çiçek Deniz) e Ali (Metin Akdülger), que se conhecem na cabine de um trem da capital Ankara em direção à cidade Izmir, durante 14h de viagem. Ou seja, bastante tempo para dois desconhecidos saberem um pouco mais sobre o outro. Apesar de a primeira vista lembrar o já clássico Antes do Amanhecer (1995), de Richard Linklater, a proposta do filme é completamente diferente e as semelhanças entre os dois são apenas dois desconhecidos dentro de um trem. 

O distanciamento é evidente pela falta de composição de diálogo. Centrado em dois personagens, o mínimo que o espectador espera é um fluxo de ideias envolvente, tal como escrito por Linklater. Contudo, o objetivo da história é criar um mistério, um confronto e uma resolução. Assim, Expresso do Destino começa com Leyla hesitante a entrar no trem, mas em última hora decide seguir a bordo. No entanto, ela toma o assento de Ali, o qual questiona a presença de uma mulher em sua cabine. 

Soa um pouco irritante a princípio a curiosidade do rapaz sobre a figura da moça, mas logo o espectador descobre que não é normal na Turquia um homem e uma mulher sem parentesco viajarem juntos no mesmo ambiente. Com mistérios sendo revelados pouco a pouco, a história mantém-se interessante, apesar dos diálogos rasos. Em contrapartida, a música é o ponto alto da narrativa e ela se integra às falas dos personagens. 

As melhores cenas são quando ambos decidem apresentar ao outro músicas turcas que falam por eles, um processo sinestésico de compreensão. Nestes momentos, as sequências são bonitas e é aprazível conhecer mais um aspecto da cultura turca, além dos comportamentos e relações sociais. Se as paisagens pela janela não são espetaculares, embora representativas, as canções selecionadas são estimulantes e nos insere na ambientação geográfica. 

A escolha de dividir o filme em várias partes torna-se um diversão metalinguística da própria obra, mas não ajuda no enredo. Com a boa performance dos protagonistas, a linguagem morna do filme consegue ganhar corpo e o desenvolvimento dos dois, entre provocações e reparações, soa factível e jocoso. Além disso, a Miss Universo Turquia 2014, Dilan Çiçek Deniz, possui um olhar expressivo e uma beleza cativante. 

O encanto do filme é ser um romance sem forçar um jogo de sedução ou apelos taxativos, mas na perspectiva dos acasos e nas desilusões da vida. Os personagens, no entanto, não são tão bem desenvolvidos, mas é possível especular que o mistério sobre esses dois indivíduos faça parte do contexto do roteiro. Afinal, em 1h30 de filme, a gente compartilha apenas o dizer deles sobre eles mesmos em uma conjuntura de 14h. 

Embora seja uma obra curta e de poucas ambientações, o roteiro apresenta reviravoltas, jogos de perspectivas e prende a atenção do público. Com um final otimista e imaginativo, Expresso do Destino permite o escapismo a uma viagem internacional, mesmo que não ouse dar voos radicais, e se finda ao som da belíssima canção Le Vent Nous Portera (O Vento nos Levará), na voz de Sophie Hunger

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