O gênero de comédia romântica cresceu assim. Entre frases de efeito bem posicionadas, personagens lindamente carismáticos e histórias de amor às avessas que se transformam no perfeito encaixe, filmes que se encontram nesse cânone são regados por aqueles maneirismos que são os clássicos gatilhos para devaneios e fantasias amorosas. Funciona. E, honestamente, são tão prazerosos como um bom filme cult. E com o cinema nacional explorando novas vertentes em suas narrativas, bem como sua versatilidade não apenas no cenário dramático – mas em todos os demais que cercam a indústria cinematográfica, Ricos de Amor chega como uma surpresa deliciosa da Netflix. Cria seu próprio universo e oferece a brasilidade da nossa cultura e tradições com um humor muito mais cativante do que até mesmo algumas das comédias românticas mais recentes da plataforma, como Amar. Casar. Recomeçar.
Sem precisar ser levada tão a sério assim, como o próprio subgênero da comédia insiste, Ricos de Amor é uma experiência puramente good vibes e ideal para este tumultuado momento de tantas incertezas, medos e aflições. A trama acompanha as desventuras amorosas de um jovem rico e mimado que decide esconder sua identidade, a fim de encontrar seu verdadeiro par romântico. Sem se pressionar a entregar uma trama totalmente inédita, a produção é de fato uma jornada de amor e auto descoberta dentro da atmosfera brasileira. Identificável pela culturalidade que exala a plenos pulmões, como as favelas do Rio, os clássicos ônibus cheios em horário de pico e as festas tradicionais e roceiras comuns no interior e em estados fortes no agronegócio, a produção pode até gerar uma certa desconfiança em primeira instância, mas rapidamente cativa o público pelo carisma bem abordado de seus personagens.
Protagonizado por Danilo Mesquita, Giovanna Lancellotti e Lellê, o longa brinca com os clichês do gênero, faz sua própria reciclagem proposital de cada um deles e entrega um resultado que funciona nas telas. Sabendo construir a trama de forma simples e dinâmica, o diretor Bruno Garotti é hábil em não perder muito tempo em sua narrativa, tornando a evolução do enredo célere e prazerosa de desfrutar. Funcionando ainda quase como uma válvula de escape da peleja que a reclusão social impôs aos cinéfilos, Ricos de Amor é divertido, atrai a audiência para o pouco explorado background de cada um de seus protagonistas e ainda traz um elemento inesperado, que é o tato social com as comunidades carentes que perecem em meio ao acúmulo de riqueza em grupos seletos.
Com uma pegada cômica que faz suaves referências à premissa de longas como 10 Coisas Que Eu Odeio em Você e Megarromântico, Ricos de Amor é uma produção bem simples, mas que funciona em sua proposta de trazer leveza e até mesmo um certo simbolismo social reflexivo – ao voltar seus olhos para a favela com um cuidado diferente. Sem exigir absolutamente nada de seu público, a comédia é um lembrete da versatilidade que o cinema nacional possui e vai demandar de você apenas uma mente aberta para se divertir com uma história que – ainda que não traga nada novo – não deixa de ser um renovo em tempos de cólera.