segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica Netflix | Sem Seu Sangue – Romance Adolescente propõe um Terror Lírico

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Em seu primeiro longa-metragem, Alice Furtado apresenta uma ousada tentativa de fazer um filme lírico de horror em Sem Seu Sangue, lançado na Netflix no último 20 de novembro. Com passagem pela Quinzaine des Réalisateurs em Cannes 2019, o enredo mistura as sensações do primeiro amor, do luto e do sobrenatural, no entanto, este conjunto desanda em uma abordagem distante, tediosa e longe de causar empatia, surpresa ou espanto. 

O malfadado resultado é graças à inexpressividade de Silvia (Luiza Kosovski) e às diversas sequências centradas em seu rosto vazio ou na sua tatuagem de triângulo nas costas. Como um fetiche, as imagens nos conduzem à parte alguma por longos minutos. Com a frase de abertura “O coração quer o que quer”, narrada pela protagonista, o filme invoca uma embate o qual nunca ocorre, pois a mensagem de luta pelo amor não encontra eco no roteiro. 



De forma rápida, a jovem protagonista narra o seu entusiasmo com o novo colega de classe Arthur (Juan Paiva) e a sua vaga compreensão sobre a vida dele, principalmente, a sua doença: hemofilia. A tragédia anunciada torna-se intolerável para Silvia, o sentimento de luto se reverbera em seu corpo e ela chega a vomitar sangue. Obcecada pela perda do namorado, a menina passa os dias a olhar as fotos do rapaz e masturbar-se. 

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Preocupados com a falta de apetite e apatia social da filha, os pais (vividos por Silvia Buarque e Lourenço Mutarelli) decidem viajar para uma casa na praia. Neste ambiente afastado, Silvia decide passar suas noites em uma barraca fora da casa, algo estranho para alguém que padece de saúde. 

Até certo ponto Sem Seu Sangue cria uma atmosfera de mistério, no entanto, o filme não consegue desenvolver-se. Com um roteiro a quatro mãos, de Alice Furtado e Leonardo Levis (O Filho Eterno), a história rodopia entre sonhos e visões de Silva com o falecido namorado. Além disso, seus devaneios misturam-se à imagens de uma mulher a caminhar nua pela praia e a artefatos de origem africana. Ou seja, Sílvia é apática, assim como todos ao seu redor, e o espectador não sabe porque acompanhá-la em sua desinteressante jornada de luto. 

Mesmo com a inclusão de personagens secundários para socializar com a adolescente, o filme não tem diálogos interessantes. O encontro com o irmão de Arthur soa artificial, tanto pela conversa truncada quanto pelo mal desempenho do ator. As conversas servem apenas para explicar o enredo do livro The Magical Island (A Ilha Mágica), de William Seabrook, na casa de praia. A partir da leitura, Sílvia tem um primeiro contato com rituais religiosos, sacrifícios e necromancia. O assunto, de certa forma, chama atenção da garota e, por um acaso, alguém comenta sobre um rapaz que entende dessas coisas na floresta.

Com 100 minutos de imagens, Sem Seu Sangue seria melhor sucedido como um curta-metragem, pois carece de toda uma estrutura de enredo para transportar o espectador ao tema: amor e pós-morte. Da forma que é proposta, a narrativa é finita em 20 minutos. A obsessão romântica da menina habita o implícito, tal como suas crenças e vontades, porque a transmissão dessas sensações são completamente opacas. 

Vale fazer um paralelo com obras jovens de suspense/horror brasileiras que conseguem percorrer todos os pontos da curva narrativa e manter um ritmo envolvente. Por exemplo, o recente A Sombra do Pai (2018), de Gabriela Amaral Almeida. Com símbolos e preces, a diretora paulistana constrói um ambiente opressor de abandono e a fuga para o místico. Assim como Mate-me por Favor (2016), da carioca Anita Rocha da Silveira, nos prende à protagonista Bia (Valentina Herszage) de maneira hipnótica. 

Em contrapartida, a protagonista Luiza Kosovski está longe de seduzir a câmera. Seu semblante monótono é caótico na transmissão de qualquer intenção narrativa. A cena final, a título de exemplo, perde todo o significado ao mostrar o rosto insípido da menina diante da situação presente. 

Embora tenha errado na composição narrativa, Alice Furtado, filha do cineasta Jorge Furtado (Ilha das Flores), tem um olhar apurado pela composição das cenas. Destaca-se a sequência de sexo no meio da floresta entre Silvia e Arthur. Contudo, ela trabalha com um elenco e ideias limitantes. Sem Seu Sangue poderia ser uma história sobre sobrevivência de um trauma amoroso, no entanto, a lentidão de apresentação do argumento de horror é um dos grandes equívoco dos roteiristas e detona a proposição da obra. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Em seu primeiro longa-metragem, Alice Furtado apresenta uma ousada tentativa de fazer um filme lírico de horror em Sem Seu Sangue, lançado na Netflix no último 20 de novembro. Com passagem pela Quinzaine des Réalisateurs em Cannes 2019, o enredo mistura as sensações do primeiro amor, do luto e do sobrenatural, no entanto, este conjunto desanda em uma abordagem distante, tediosa e longe de causar empatia, surpresa ou espanto. 

O malfadado resultado é graças à inexpressividade de Silvia (Luiza Kosovski) e às diversas sequências centradas em seu rosto vazio ou na sua tatuagem de triângulo nas costas. Como um fetiche, as imagens nos conduzem à parte alguma por longos minutos. Com a frase de abertura “O coração quer o que quer”, narrada pela protagonista, o filme invoca uma embate o qual nunca ocorre, pois a mensagem de luta pelo amor não encontra eco no roteiro. 

De forma rápida, a jovem protagonista narra o seu entusiasmo com o novo colega de classe Arthur (Juan Paiva) e a sua vaga compreensão sobre a vida dele, principalmente, a sua doença: hemofilia. A tragédia anunciada torna-se intolerável para Silvia, o sentimento de luto se reverbera em seu corpo e ela chega a vomitar sangue. Obcecada pela perda do namorado, a menina passa os dias a olhar as fotos do rapaz e masturbar-se. 

Preocupados com a falta de apetite e apatia social da filha, os pais (vividos por Silvia Buarque e Lourenço Mutarelli) decidem viajar para uma casa na praia. Neste ambiente afastado, Silvia decide passar suas noites em uma barraca fora da casa, algo estranho para alguém que padece de saúde. 

Até certo ponto Sem Seu Sangue cria uma atmosfera de mistério, no entanto, o filme não consegue desenvolver-se. Com um roteiro a quatro mãos, de Alice Furtado e Leonardo Levis (O Filho Eterno), a história rodopia entre sonhos e visões de Silva com o falecido namorado. Além disso, seus devaneios misturam-se à imagens de uma mulher a caminhar nua pela praia e a artefatos de origem africana. Ou seja, Sílvia é apática, assim como todos ao seu redor, e o espectador não sabe porque acompanhá-la em sua desinteressante jornada de luto. 

Mesmo com a inclusão de personagens secundários para socializar com a adolescente, o filme não tem diálogos interessantes. O encontro com o irmão de Arthur soa artificial, tanto pela conversa truncada quanto pelo mal desempenho do ator. As conversas servem apenas para explicar o enredo do livro The Magical Island (A Ilha Mágica), de William Seabrook, na casa de praia. A partir da leitura, Sílvia tem um primeiro contato com rituais religiosos, sacrifícios e necromancia. O assunto, de certa forma, chama atenção da garota e, por um acaso, alguém comenta sobre um rapaz que entende dessas coisas na floresta.

Com 100 minutos de imagens, Sem Seu Sangue seria melhor sucedido como um curta-metragem, pois carece de toda uma estrutura de enredo para transportar o espectador ao tema: amor e pós-morte. Da forma que é proposta, a narrativa é finita em 20 minutos. A obsessão romântica da menina habita o implícito, tal como suas crenças e vontades, porque a transmissão dessas sensações são completamente opacas. 

Vale fazer um paralelo com obras jovens de suspense/horror brasileiras que conseguem percorrer todos os pontos da curva narrativa e manter um ritmo envolvente. Por exemplo, o recente A Sombra do Pai (2018), de Gabriela Amaral Almeida. Com símbolos e preces, a diretora paulistana constrói um ambiente opressor de abandono e a fuga para o místico. Assim como Mate-me por Favor (2016), da carioca Anita Rocha da Silveira, nos prende à protagonista Bia (Valentina Herszage) de maneira hipnótica. 

Em contrapartida, a protagonista Luiza Kosovski está longe de seduzir a câmera. Seu semblante monótono é caótico na transmissão de qualquer intenção narrativa. A cena final, a título de exemplo, perde todo o significado ao mostrar o rosto insípido da menina diante da situação presente. 

Embora tenha errado na composição narrativa, Alice Furtado, filha do cineasta Jorge Furtado (Ilha das Flores), tem um olhar apurado pela composição das cenas. Destaca-se a sequência de sexo no meio da floresta entre Silvia e Arthur. Contudo, ela trabalha com um elenco e ideias limitantes. Sem Seu Sangue poderia ser uma história sobre sobrevivência de um trauma amoroso, no entanto, a lentidão de apresentação do argumento de horror é um dos grandes equívoco dos roteiristas e detona a proposição da obra. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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