Ah, os anos 1990… Quem viveu essa época sabe que a década foi muito louca. Talvez a última década descontrolada da história da humanidade, sem pudores, sem globalização e como uma estrutura social que ditava comportamentos – hoje questionáveis – à população, especialmente àquelas concentradas nas grandes metrópoles. E isso obviamente se refletia em muitas camadas, como nas imprensas televisiva e impressa. A história de um desses grandes jornais que fez muito sucesso no passado, mas que hoje já não circula mais, acaba de chegar ao Canal Brasil, com a série ‘Notícias Populares’.
Paloma (Luciana Paes, bem diferente dos papeis que costuma fazer) acaba de se separar do marido, um importante âncora da televisão, e deixa a vida em Paris, mudando-se com o filho e a mãe para São Paulo. Com a promessa de em breve se tornar editora de um grande jornal de São Paulo, ela topa passar uma temporada como editora no jornal ‘Notícias Populares’, cujo editorial e linguajar eram completamente diferentes daquilo com o que ela estava acostumada a fazer no jornalismo. Enquanto espera seu momento chegar, Paloma tenta dar o seu melhor para ajudar o editor do jornal Matias (Rui Ricardo Diaz), porém, com o passar do tempo, vai ficando cada vez mais evidente que o ‘Notícias Populares’ não é o seu lugar. Entretanto, como os anos 90 eram imprevisíveis, talvez os sonhos de Paloma tenham que ser adiados temporariamente e a jovem mulher tenha que ficar à frente desse que era um dos jornais mais consumidos daqueles tempos.
Dividido em sete episódios com cerca de 40 minutos cada um, a série de André Barcinski e Marcelo Caetano transporta o espectador para o que eram os anos 90 – e, mais especificamente, o que eram os anos 90 dentro de uma redação de notícias populares sem muito critério ou compromisso com a verdade. Tal aproximação ao mesmo tempo fascina e cria repulsa quando vemos como eram feitas as coisas antigamente: repórteres sensacionalistas em busca de sangue, fofocas que podiam destruir carreiras de pessoas e zero preocupação com o impacto imagético das fotos publicadas. Esse embate é encabeçado pela protagonista Paloma, uma mulher que claramente é e está em descompasso com o resto da redação, mas que aos poucos vai entendendo como funciona a linguagem deste jornal que existiu de verdade até o ano de 2001.
O roteiro dos criadores com Anna Carolina Francisco e Ricardo Grynszpan faz de Paloma o veículo que vai conduzir o espectador ao nostálgico e bizarro ano de 1993. Para tal, os episódios trazem de tudo que costumava ser visto nos periódicos populares, como manchetes sobre o nascimento de um bebê diabo que andou aterrorizando uma cidade no interior de São Paulo, a cobertura dos bailes de Carnaval com os concursos de miss, fotos comprometedoras que revelavam a intimidade de famosos e políticos e, bem ou mal, também mostra como esses jornais ajudaram a construir a fama de diversos serial killers e outros criminosos, que, através das manchetes e das alcunhas dadas pelos jornalistas, se eternizaram no tempo e no imaginário social.
Sem se furtar de mostrar o machismo vigente na época, ‘Notícias Populares’ é uma série cativante que retrata os bastidores surreais para se fazer notícia numa época pré-internet e pré-celular. Com um elenco com nomes como Ana Flavia Cavalcanti e Ary França, ‘Notícias Populares’ dá uma dimensão da luta que era e que é fazer jornalismo no Brasil.