Uma das coisas mais deliciosas da sétima arte é o poder que ela tem de nos surpreender. Em tempos em que as bilheterias e renovações focam quase que totalmente em entregar apenas o que os fãs esperam (e justamente a quebra dessa expectativa é que tem causado muitos problemas para as produções seriadas), quando vamos ao cinema e assistimos a um filme pelo qual não damos nada, mas no final somos surpreendidos positivamente com uma boa história, sentimo-nos felizes, afinal, boas coisas quando acontecem quando não esperamos são capazes de transformar nosso dia para melhor. Esta é a sensação ao vermos ‘O Amor Dá Voltas’, nova comédia romântica dramática brasileira que chega às salas de todo o país a partir do próximo dia 22 de dezembro.
Dois anos atrás, André (Igor Angelkorte) foi para a África, trabalhar como médico voluntário no programa do Médico Sem Fronteiras. Mas, na verdade, o que ele fez foi fugir de seus sentimentos por sua então namorada, Beta (Juliana Didone), por quem era perdidamente apaixonado mas tinha medo de dar o passo seguinte e propor casamento. Entretanto, nem mesmo o tempo longe foi capaz de abafar todo o amor pulsante do peito de André, por isso ele escreveu cartas para o seu amor. Embora no início Beta até tenha respondido, aos poucos a vida seguiu para ela; em seu lugar, sua irmã, Dani (Cleo), decidiu responder as cartas, colocando no papel sentimentos que ela mesma nem sabia existir. Só que agora André está de volta ao Brasil, e a verdade sobre a autoria dessas cartas precisará ser revelada, mesmo que isso acabe causando uma grande confusão na vida de todos eles.
Com pouco mais de uma hora e meia de duração, ‘O Amor Dá Voltas’ flana bem entre três gêneros fundamentais para a construção de uma história cativante: começa com a leveza da comédia no primeiro arco, usando suavemente do humor para apresentar seu plot; em seguida, mergulha no romance para construir uma relação de apaixonamento entre os protagonistas – a falta de jeito entre os dois para se expressar, a jornada que enfrentam juntos para fazer a coisa certa e o medo de colocar em voz alta aquilo que tão facilmente era dito no papel; por fim, encerra o terceiro arco apresentando o drama: uma vez que as cartas estão na mesa, o que fazer, posto que alguém fatalmente sairá machucado nesse triângulo amoroso?
Tudo isso é trabalhado com muita sensibilidade pelo roteiro de Marcos Bernstein, Marc Bechar e Victor Atherino através do ponto de vista do personagem masculino tímido e irritantemente inseguro diante de uma protagonista feminina absolutamente dona de si, mas, ainda assim, inexperiente em relações profundas. É no dualismo entre esses dois personagens reais e a descoberta de si que o filme de Marcos Bernstein se torna completamente envolvente, imergindo o espectador nessa confusa relação amorosa em que é impossível tomar partido, afinal, quem nunca esteve em uma dessas três pontas do triângulo que atire a primeira pedra.
Despretensioso e intimista, ‘O Amor Dá Voltas’ é comédia, é romance e é drama de maneira envolvente e cativante. Chega como uma grata surpresa às salas de cinema e, a seu modo, convida o espectador a correr atrás do amor de sua vida nesse fim de ano. Dá tempo!