sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | O Auto da Boa Mentira – Filme repagina o humor refinado de Ariano Suassuna

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O escritor Ariano Suassuna fez muito sucesso no Brasil devido a seus textos raiz, bem brasileiros e que retratam situações e personagens bastante reais, com os quais o leitor consegue se identificar. Na verdade, ele ainda faz muito sucesso, e nunca parece sair de moda, seja por seu eterno sucesso ‘O Auto da Compadecida’, seja pelo recém lançado ‘O Auto da Boa Mentira’, nova produção que chega essa semana aos cinemas brasileiros, sete anos após a morte do autor.



Em ‘O Auto da Boa Mentira’ somos agraciados com quatro historinhas: Helder (Leandro Hassum) é um funcionário do RH que chega a um hotel para uma convenção da empresa, porém, as pessoas começam a confundi-lo com um famoso comediante de stand-up e ele se aproveita disso… até conhecer a misteriosa Caetana (Nanda Costa); em seguida, Fabiano (Renato Góes) é um rapaz que descobre que a mãe (Cassia Kis) mentiu para ele e seu pai na verdade é o Palhaço Romeu (Jackson Antunes); a terceira história é bem carioca, e conta a mentira de Pierce (Chris Mason), um inglês que vive no Rio de Janeiro e que, por preguiça, não foi à festa de seu amigo Zeca (Serjão Loroza) no Vidigal, porém, em vez de dizer a verdade, resolve dizer que foi assaltado, e a história chega aos ouvidos do Chefia do morro (Jesuíta Barbosa); por fim, uma confraternização de Natal da empresa fará com que a estagiária Lorena (Cacá Ottoni) bote a boca no trombone sobre seus colegas de trabalho, Felipe (Johnny Massaro) e Norberto (Luís Miranda).

A parte mais surpreendente de ‘O Auto da Boa Mentira’ é que o roteiro de João Falcão, Tatiana Maciel e Célio Porto é baseado nas entrevistas hilárias dadas pelo próprio Ariano Suassuna – entrevistas estas que fazem parte do longa e aparecem na transição entre as esquetes, e realmente nos fazem rir. Em contrapartida, as quatro histórias, inspiradas em situações mentirosas são bem nervosas e elaboram situações muito mais absurdas do que cômicas. De todas, a mais engraçada é a do Palhaço Romeu, provavelmente por ser a mais genuína de todas. A história do gringo é ótima no início, porém, quando a coisa toda começa a ser desvendada, revela um aspecto crítico que deixa um sabor amargo na boca, além de trazer um Jesuíta Barbosa totalmente deslocado no papel de chefe do morro.

Com boas atuações do elenco como um todo, o destaque fica mesmo com Serjão Loroza, com seu humor natural na forma de entonar as falas; Leandro Hassum, por sua vez, passa a sensação de querer forçar um riso em uma situação tragicômica, hilária apenas para o personagem, não para o espectador. José Eduardo Belmonte tinha um projeto audacioso em mãos e conseguiu prestar uma bela homenagem ao legado de Suassuna, que certamente ficaria satisfeito com a construção do filme.

O Auto da Boa Mentira’ é um filme-homenagem à altura do mestre Suassuna, repaginando-as para a cidade e a contemporaneidade. Através da tensão e do absurdo, reconta as mentirinhas contadas pelo autor em suas célebres entrevistas. A ver pelo resultado, talvez não fossem mentiras, afinal de contas.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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O escritor Ariano Suassuna fez muito sucesso no Brasil devido a seus textos raiz, bem brasileiros e que retratam situações e personagens bastante reais, com os quais o leitor consegue se identificar. Na verdade, ele ainda faz muito sucesso, e nunca parece sair de moda, seja por seu eterno sucesso ‘O Auto da Compadecida’, seja pelo recém lançado ‘O Auto da Boa Mentira’, nova produção que chega essa semana aos cinemas brasileiros, sete anos após a morte do autor.

Em ‘O Auto da Boa Mentira’ somos agraciados com quatro historinhas: Helder (Leandro Hassum) é um funcionário do RH que chega a um hotel para uma convenção da empresa, porém, as pessoas começam a confundi-lo com um famoso comediante de stand-up e ele se aproveita disso… até conhecer a misteriosa Caetana (Nanda Costa); em seguida, Fabiano (Renato Góes) é um rapaz que descobre que a mãe (Cassia Kis) mentiu para ele e seu pai na verdade é o Palhaço Romeu (Jackson Antunes); a terceira história é bem carioca, e conta a mentira de Pierce (Chris Mason), um inglês que vive no Rio de Janeiro e que, por preguiça, não foi à festa de seu amigo Zeca (Serjão Loroza) no Vidigal, porém, em vez de dizer a verdade, resolve dizer que foi assaltado, e a história chega aos ouvidos do Chefia do morro (Jesuíta Barbosa); por fim, uma confraternização de Natal da empresa fará com que a estagiária Lorena (Cacá Ottoni) bote a boca no trombone sobre seus colegas de trabalho, Felipe (Johnny Massaro) e Norberto (Luís Miranda).

A parte mais surpreendente de ‘O Auto da Boa Mentira’ é que o roteiro de João Falcão, Tatiana Maciel e Célio Porto é baseado nas entrevistas hilárias dadas pelo próprio Ariano Suassuna – entrevistas estas que fazem parte do longa e aparecem na transição entre as esquetes, e realmente nos fazem rir. Em contrapartida, as quatro histórias, inspiradas em situações mentirosas são bem nervosas e elaboram situações muito mais absurdas do que cômicas. De todas, a mais engraçada é a do Palhaço Romeu, provavelmente por ser a mais genuína de todas. A história do gringo é ótima no início, porém, quando a coisa toda começa a ser desvendada, revela um aspecto crítico que deixa um sabor amargo na boca, além de trazer um Jesuíta Barbosa totalmente deslocado no papel de chefe do morro.

Com boas atuações do elenco como um todo, o destaque fica mesmo com Serjão Loroza, com seu humor natural na forma de entonar as falas; Leandro Hassum, por sua vez, passa a sensação de querer forçar um riso em uma situação tragicômica, hilária apenas para o personagem, não para o espectador. José Eduardo Belmonte tinha um projeto audacioso em mãos e conseguiu prestar uma bela homenagem ao legado de Suassuna, que certamente ficaria satisfeito com a construção do filme.

O Auto da Boa Mentira’ é um filme-homenagem à altura do mestre Suassuna, repaginando-as para a cidade e a contemporaneidade. Através da tensão e do absurdo, reconta as mentirinhas contadas pelo autor em suas célebres entrevistas. A ver pelo resultado, talvez não fossem mentiras, afinal de contas.

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