domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | O Brutalista: Adrien Brody pode ser o próximo ganhador do Oscar com estupendo retrato de um artista autodestrutivo

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Emergindo das sombras de uma úmida cabine de um navio, László Toth é um imigrante judeu que foge da Europa pós Segunda Guerra Mundial em busca de uma nova vida na América. Seu primeiro contato com o céu nova-iorquino é deslumbrante: uma tomada de lado feita de ponta cabeça da Estátua da Liberdade. Enxergando o monumento pela ótica desse talentoso arquiteto – que por hora não vemos, apenas ouvimos -, logo notamos que estamos diante de um retrato particular. Pelas próximas 3h35 de filme, testemunharemos o mundo por um ângulo invertido, pelas lentes de um artista exemplar e altamente destrutivo. Ali, naqueles primeiros sete minutos de O Brutalista, ainda não sabemos disso. Mas estamos prestes a descobrir o que é a arte, se não o megalomaníaco reflexo de um visionário artista.

Homens abraçados em frente a ônibus verde.
o brutalista 2

A título de confusão, László Toth é uma alegoria fictícia de um homem louco real. Talvez você não saiba, mas se trata de um geólogo húngaro australiano mundialmente conhecido por vandalizar a estátua da Pietà de Michelangelo, em 1972. Até então, seu nome configurava nos átrios da história por seu crime jamais devidamente pago. Mas a partir do novo longa dirigido por Brady Corbet e co-escrito por ele e Mona Fastvold, ele ganha um novo significado. Agora se materializando como um arquiteto embriagado em sua própria obsessão criativa, essa atípica e tão bem escolhida alcunha passa a ser também o caminho percorrido por Adrien Brody em direção ao seu possível segundo Oscar.



E que genial de Corbet em transformar uma antiga história de um louco em uma epígrafe para O Brutalista. Propositalmente criando uma superficial, porém certeira, conexão com um homem do passado, ele arquiteta seu drama como uma espécie de cinebiografia. Da chegada de seu protagonista à América a sua consolidação em seu ramo de atuação, perpassamos pelos principais momentos de sua vida sempre com aquela percepção dúbia de hora estarmos diante de uma ficção e hora diante da razão. Com nosso raciocínio cinematográfico induzido a uma busca por uma boia de salvação que nos confirme a veracidade da história de László, somos constantemente confrontados com a certeza de que ali, tudo não passa de uma criação imagética do cineasta.

Casal abraçado em escritório iluminado por abajur.
o brutalista 3

Ainda assim, bebemos do cálice dessa inebriante aventura, sedentos para que isso seja mais do que um drama ficcional. Não é. Mas nada nos impede de sermos tomados pela alucinante e épica jornada desse voraz homem preso em sua própria criatividade e conduzido pela ambição de um outro homem rico, vivido por Guy Pearce. E embora O Brutalista se estenda muito mais do que a média do cinema contemporâneo, as desventuras e descobertas de Lászlo, tanto como um funcional viciado em heroína, bem como um arquiteto avant-garde, são habilmente trabalhadas em tela, abreviando o cansaço que um filme longo comumente traria ao afegão médio em busca de um entretenimento.

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Dividindo sua história em três extensos atos, Corbet convida a audiência para uma experiência homérica sobre a vida humana, seus dissabores, tropeços e acertos. A partir de um homem fictício de nome e sobrenome reais, desfrutamos dessa ode às avessas à imigração. Mergulhamos em seus rompantes de loucura, tamanha a obsessão pela arquitetura das coisas, e acompanhamos seu tumultuado casamento. E sob uma direção mais precisa e madura, o ex-ator de filmes indie usa sua antiga habilidade em tela para agora, como cineasta, conduzir seu elenco à epítome da loucura. Abordando o preço da grandeza, Brady direciona suas lentes para uma exploração mais rigorosa e requintada do design de produção de seu filme – que assume papel protagonista na trama -, à medida em que abre espaço para que seu elenco brilhe.

Três homens em um pátio industrial de carvão.
o brutalista 4

E assim, Brody, Pearce, Felicity Jones e Joe Alwyn dançam em tela em performances arrebatadoras, em um espetáculo dantesco sobre o assombroso peso que o talento artístico às vezes carrega na mente de seus torturados artistas. Com uma fotografia estonteante, o longa ainda é uma epifania sobre poder em suas diversas esferas e dimensões, do rico investidor com ares de filantropo ao megalomaníaco artista que se embriaga na serotonina de sua arquitetura. E nessa corrida da vida onde obsessão, prazeres perversos, arte e dinheiro se digladiam, O Brutalista se solidifica como uma poderosa e revigorante epopeia pós-moderna. Com alguns pequenos problemas de ritmo que são ofuscados pela beleza total de seu resultado final, o novo filme de Brady Corbet é a epítome do cinema premium, sem espaço para agendas progressistas e unicamente focado na pureza da arte da mais alta qualidade.

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Homens abraçados em frente a ônibus verde.
o brutalista 2

A título de confusão, László Toth é uma alegoria fictícia de um homem louco real. Talvez você não saiba, mas se trata de um geólogo húngaro australiano mundialmente conhecido por vandalizar a estátua da Pietà de Michelangelo, em 1972. Até então, seu nome configurava nos átrios da história por seu crime jamais devidamente pago. Mas a partir do novo longa dirigido por Brady Corbet e co-escrito por ele e Mona Fastvold, ele ganha um novo significado. Agora se materializando como um arquiteto embriagado em sua própria obsessão criativa, essa atípica e tão bem escolhida alcunha passa a ser também o caminho percorrido por Adrien Brody em direção ao seu possível segundo Oscar.

E que genial de Corbet em transformar uma antiga história de um louco em uma epígrafe para O Brutalista. Propositalmente criando uma superficial, porém certeira, conexão com um homem do passado, ele arquiteta seu drama como uma espécie de cinebiografia. Da chegada de seu protagonista à América a sua consolidação em seu ramo de atuação, perpassamos pelos principais momentos de sua vida sempre com aquela percepção dúbia de hora estarmos diante de uma ficção e hora diante da razão. Com nosso raciocínio cinematográfico induzido a uma busca por uma boia de salvação que nos confirme a veracidade da história de László, somos constantemente confrontados com a certeza de que ali, tudo não passa de uma criação imagética do cineasta.

Casal abraçado em escritório iluminado por abajur.
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Ainda assim, bebemos do cálice dessa inebriante aventura, sedentos para que isso seja mais do que um drama ficcional. Não é. Mas nada nos impede de sermos tomados pela alucinante e épica jornada desse voraz homem preso em sua própria criatividade e conduzido pela ambição de um outro homem rico, vivido por Guy Pearce. E embora O Brutalista se estenda muito mais do que a média do cinema contemporâneo, as desventuras e descobertas de Lászlo, tanto como um funcional viciado em heroína, bem como um arquiteto avant-garde, são habilmente trabalhadas em tela, abreviando o cansaço que um filme longo comumente traria ao afegão médio em busca de um entretenimento.

Dividindo sua história em três extensos atos, Corbet convida a audiência para uma experiência homérica sobre a vida humana, seus dissabores, tropeços e acertos. A partir de um homem fictício de nome e sobrenome reais, desfrutamos dessa ode às avessas à imigração. Mergulhamos em seus rompantes de loucura, tamanha a obsessão pela arquitetura das coisas, e acompanhamos seu tumultuado casamento. E sob uma direção mais precisa e madura, o ex-ator de filmes indie usa sua antiga habilidade em tela para agora, como cineasta, conduzir seu elenco à epítome da loucura. Abordando o preço da grandeza, Brady direciona suas lentes para uma exploração mais rigorosa e requintada do design de produção de seu filme – que assume papel protagonista na trama -, à medida em que abre espaço para que seu elenco brilhe.

Três homens em um pátio industrial de carvão.
o brutalista 4

E assim, Brody, Pearce, Felicity Jones e Joe Alwyn dançam em tela em performances arrebatadoras, em um espetáculo dantesco sobre o assombroso peso que o talento artístico às vezes carrega na mente de seus torturados artistas. Com uma fotografia estonteante, o longa ainda é uma epifania sobre poder em suas diversas esferas e dimensões, do rico investidor com ares de filantropo ao megalomaníaco artista que se embriaga na serotonina de sua arquitetura. E nessa corrida da vida onde obsessão, prazeres perversos, arte e dinheiro se digladiam, O Brutalista se solidifica como uma poderosa e revigorante epopeia pós-moderna. Com alguns pequenos problemas de ritmo que são ofuscados pela beleza total de seu resultado final, o novo filme de Brady Corbet é a epítome do cinema premium, sem espaço para agendas progressistas e unicamente focado na pureza da arte da mais alta qualidade.

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