sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | O Círculo – Suspense Tecnológico é ‘A Rede’ do nosso tempo

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O Fantasma da Máquina

Vivemos uma era de tanto material reciclado, de tantas cópias carbono e de tanto mais do mesmo, que quando surge uma ideia um pouco mais adulta e fora da caixinha, é quase impossível não sermos atraídos como um ímã para ela. É exatamente o que ocorre aqui, com este O Círculo, baseado no livro homônimo de Dave Eggers, roteirista experiente, que também assina a adaptação.

Vivemos num mar onde tudo parece ser filmes de super-heróis, sequências intermináveis ou blockbusters inflados, na maioria das vezes falhando no primordial, a humanidade. Quando livros são adaptados ao cinema, surge uma enxurrada de romances infanto-juvenis – forte tendência atual – onde a mínima porcentagem se destaca pela qualidade (sejam ficções científicas sobre futuros distópicos ou os famosos dramas românticos de doença). Quando um livro de sucesso para o público adulto surge anunciado, os cinéfilos mais velhos se veem aguando, e daí nossas gigantescas expectativas para obras como Garota Exemplar (2014), A Garota no Trem (2016) ou Assassinato no Expresso Oriente (2017).



O Círculo é mais um que chega para suprir esta necessidade, de um filme que fuja de todos os quesitos apresentados no primeiro parágrafo. É uma produção mainstream, vendida ao grande público, com verdadeiros astros. Ou seja, uma parcela de cinema cada vez mais rara na atualidade. Na trama, Emma Watson interpreta Mae, jovem dedicada, que recebe a oportunidade de sua vida ao conseguir emprego numa empresa de tecnologia conhecida como Círculo. Imagine uma mistura de Google e Facebook. No local, ela é apadrinhada por Annie (Karen Gillan, a Nebulosa de Guardiões da Galáxia), amiga que lhe consegue a vaga.

Aos poucos a protagonista, uma menina simples, vinda do interior, vai se adaptando à nova realidade. A companhia preza por um forte senso de comunidade, beirando o excessivo, onde vida pessoal e profissional se conectam de tal forma que desembocam numa via única. Tal comprometimento é inicialmente rebatido pela protagonista, assim como seria com qualquer pessoa com o mínimo de discernimento e equilíbrio emocional. Mas até isso é incorporado aos poucos e de forma orgânica, uma vez que Mae perceba que o Círculo não é de todo mau, de fato, até a saúde de seus pais é acolhida pela empresa.

A falta de privacidade é o tema central de O Círculo, cuja proposta é bem mais criativa e interessante do que a maioria dos projetos propostos por Hollywood. A verdade é que a ideia é tão boa que nem mesmo o filme consegue acompanha-la. Discutir a era da falta de privacidade, num tempo onde câmeras monitoram cada passo nosso, involuntariamente ou através de nosso desejo de estrelato, cria uma suculenta dualidade sobre direitos, deveres e a tênue linha coexistente no tópico atualíssimo. Espionagens governamentais de filmes de suspense da época da Guerra Fria deram lugar a empresas privadas com acesso instantâneo a milhões de pessoas. O Círculo tem muito a dizer sobre nosso comportamento em relação à tecnologia e os limites do aceitável.

Como O Círculo não é um documentário, precisa existir o mínimo de conflito, e aqui a trama da vez é a da jovem humilde engolida por um mundo maior que ela, quando recebe sua grande chance profissional. Do clássico Wall Street – Poder e Cobiça (1987) até a comédia O Segredo do meu Sucesso, do mesmo ano, o mundo corporativo já foi apresentado como o ‘vilão’ de diversas obras do cinema. A diferença em O Círculo é que agora esta entidade tão malvada trabalha às claras e a nosso favor. Ou quase.

Completando o elenco principal, Tom Hanks, um dos maiores astros do cinema atual, interpreta o dúbio dono da empresa, e Patton Oswalt vive seu fiel escudeiro no negócio. John Boyega (o Finn de O Despertar da Força) é o  jovem gênio rebelde Ty, que enxerga o potencial de ameaça da companhia, se tornando a consciência do longa, e os saudosos Bill Paxton e Glenne Headly, ambos falecidos este ano, são os pais de Mae.

Com o filme, o cineasta James Ponsoldt, dono de um currículo invejável de filmes independentes (Smashed – De Volta à Realidade, O Maravilhoso Agora e O Final da Turnê), realiza sua produção mais ambiciosa. E entrega uma obra moderna e relevante, dona de uma montagem dinâmica, dessas que tratam de incluir na tela mensagens de inúmeros aplicativos sociais, dividindo espaço com a ação da narrativa.

O Círculo pode não ser tão impactante quanto sua proposta, e até ser considerado previsível de certa forma – ao percebermos para onde a história irá caminhar. Ao mesmo tempo, sua falta de pretensão em querer responder ou solucionar os avanços do mundo moderno, recai como ponto a favor. Longe de ser um marco como A Rede Social, O Círculo entrega comentários sociais pungentes, mesmo banhados em cinema entretenimento.

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Vivemos num mar onde tudo parece ser filmes de super-heróis, sequências intermináveis ou blockbusters inflados, na maioria das vezes falhando no primordial, a humanidade. Quando livros são adaptados ao cinema, surge uma enxurrada de romances infanto-juvenis – forte tendência atual – onde a mínima porcentagem se destaca pela qualidade (sejam ficções científicas sobre futuros distópicos ou os famosos dramas românticos de doença). Quando um livro de sucesso para o público adulto surge anunciado, os cinéfilos mais velhos se veem aguando, e daí nossas gigantescas expectativas para obras como Garota Exemplar (2014), A Garota no Trem (2016) ou Assassinato no Expresso Oriente (2017).

O Círculo é mais um que chega para suprir esta necessidade, de um filme que fuja de todos os quesitos apresentados no primeiro parágrafo. É uma produção mainstream, vendida ao grande público, com verdadeiros astros. Ou seja, uma parcela de cinema cada vez mais rara na atualidade. Na trama, Emma Watson interpreta Mae, jovem dedicada, que recebe a oportunidade de sua vida ao conseguir emprego numa empresa de tecnologia conhecida como Círculo. Imagine uma mistura de Google e Facebook. No local, ela é apadrinhada por Annie (Karen Gillan, a Nebulosa de Guardiões da Galáxia), amiga que lhe consegue a vaga.

Aos poucos a protagonista, uma menina simples, vinda do interior, vai se adaptando à nova realidade. A companhia preza por um forte senso de comunidade, beirando o excessivo, onde vida pessoal e profissional se conectam de tal forma que desembocam numa via única. Tal comprometimento é inicialmente rebatido pela protagonista, assim como seria com qualquer pessoa com o mínimo de discernimento e equilíbrio emocional. Mas até isso é incorporado aos poucos e de forma orgânica, uma vez que Mae perceba que o Círculo não é de todo mau, de fato, até a saúde de seus pais é acolhida pela empresa.

A falta de privacidade é o tema central de O Círculo, cuja proposta é bem mais criativa e interessante do que a maioria dos projetos propostos por Hollywood. A verdade é que a ideia é tão boa que nem mesmo o filme consegue acompanha-la. Discutir a era da falta de privacidade, num tempo onde câmeras monitoram cada passo nosso, involuntariamente ou através de nosso desejo de estrelato, cria uma suculenta dualidade sobre direitos, deveres e a tênue linha coexistente no tópico atualíssimo. Espionagens governamentais de filmes de suspense da época da Guerra Fria deram lugar a empresas privadas com acesso instantâneo a milhões de pessoas. O Círculo tem muito a dizer sobre nosso comportamento em relação à tecnologia e os limites do aceitável.

Como O Círculo não é um documentário, precisa existir o mínimo de conflito, e aqui a trama da vez é a da jovem humilde engolida por um mundo maior que ela, quando recebe sua grande chance profissional. Do clássico Wall Street – Poder e Cobiça (1987) até a comédia O Segredo do meu Sucesso, do mesmo ano, o mundo corporativo já foi apresentado como o ‘vilão’ de diversas obras do cinema. A diferença em O Círculo é que agora esta entidade tão malvada trabalha às claras e a nosso favor. Ou quase.

Completando o elenco principal, Tom Hanks, um dos maiores astros do cinema atual, interpreta o dúbio dono da empresa, e Patton Oswalt vive seu fiel escudeiro no negócio. John Boyega (o Finn de O Despertar da Força) é o  jovem gênio rebelde Ty, que enxerga o potencial de ameaça da companhia, se tornando a consciência do longa, e os saudosos Bill Paxton e Glenne Headly, ambos falecidos este ano, são os pais de Mae.

Com o filme, o cineasta James Ponsoldt, dono de um currículo invejável de filmes independentes (Smashed – De Volta à Realidade, O Maravilhoso Agora e O Final da Turnê), realiza sua produção mais ambiciosa. E entrega uma obra moderna e relevante, dona de uma montagem dinâmica, dessas que tratam de incluir na tela mensagens de inúmeros aplicativos sociais, dividindo espaço com a ação da narrativa.

O Círculo pode não ser tão impactante quanto sua proposta, e até ser considerado previsível de certa forma – ao percebermos para onde a história irá caminhar. Ao mesmo tempo, sua falta de pretensão em querer responder ou solucionar os avanços do mundo moderno, recai como ponto a favor. Longe de ser um marco como A Rede Social, O Círculo entrega comentários sociais pungentes, mesmo banhados em cinema entretenimento.

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