sexta-feira , 8 novembro , 2024

Crítica | ‘O Clube de Leitores Assassinos’: Slasher da Netflix é uma BOMBA inexplicável

Uma das estreias da Netflix deste fim de semana foi uma tentativa de terror chamada O Clube de Leitores Assassinos. Inspirado em um livro homônimo, o longa tenta fazer uma releitura dos Slashers dos anos 90 por meio de uma fanfiction, conforme eles mesmos tentam justificar ao longo da trama, em um dos 498 diálogos expositivos no projeto. O problema é que o filme se perde em sua própria pretensão de ser genial, se apoiando numa metalinguagem barata que mais irrita do que instiga. Para complicar ainda mais a situação, o roteiro é completamente previsível e conta com diálogos mais cafonas e bisonhos que papinho de adolescente vivendo o primeiro amor.

A trama é focada em um grupo de estudantes de literatura, principalmente em Ángela (Veki Velilla), uma autora jovem que emplacou um livro de sucesso e agora sofre para fazer uma sequência. Após ser assediada por um professor, a menina, que tem fobia de palhaços, é apoiada por seu clube de leitura, que decide pregar uma peça no assediador vestindo todos os membros como palhaço para persegui-lo nos corredores da universidade. Só que um acidente ocorre e o professor acaba morrendo. O grupo combina de não falarem sobre nada do que fizeram para a polícia e começam a ser perseguidos por um supostamente amedrontador palhaço assassino.



Sabe aqueles filmes que são tão ruins que “dão a volta” e ficam bons? Claramente não é o caso desse aqui. Isso porque esses filmes que “dão a volta” costumam perceber que estão numa situação mais feia que briga de foice e deixam de se levar a sério, fazendo o público embarcar na galhofa. Mas no caso de O Clube de Leitores Assassinos, a direção acha mesmo que está fazendo um bom trabalho e aborda a trama como se fosse a mais genial já concebida e contasse com um grande elenco em seu auge. Mas, na verdade, não há a menor habilidade de criar tensão ou deixar o público apreensivo acerca de quem pode ser o assassino ou quem será a próxima vítima. E só piora com atuações muito ruins, que acabam sendo o verdadeiro terror do filme.



De verdade, pense na pior atuação que você já viu na TV aberta. Pode ser até aquelas participações de influenciadores digitais que aparecem por 2 minutos para surfar no hype de um vídeo viralizado. Te garanto que qualquer uma dessas atuações ruins que você pensou dão um banho nas apresentadas neste filme. A menos que você tenha pensado em Ilhados (2021), também da Netflix. Aí é páreo-duro mesmo. Mas analisando friamente, é muito complicado que os respectivos agentes dessa molecada jovem do filme tenha lido o roteiro e assistido as gravações, e achado que seria uma boa oportunidade para seus agenciados. De verdade, é um nível tão baixo que pode mesmo afetar suas chances de conseguir algum trabalho melhor daqui pra frente. Principalmente de Álvaro Mel, Carlos Alcaide e Iván Pellicer, que estão muito abaixo dentro de um elenco que claramente não está bem. O resto, feliz ou infelizmente, não chega a ter destaque o bastante. Não acredito nem que esses citados sejam maus atores, porque há sempre margem para crescimento e para evoluir na atuação, mas terem posto seus rostos nessa barca furada pode ser realmente complicado para eles. No fim, quem se salva mesmo é a mais experiente da turma, Veki Velilla, que já tem uma bagagem maior nas produções espanholas e consegue se virar melhor nessa bomba, só que até pra ela fica feio.

A direção é outro show de horrores. Carlos Alonso Ojea acredita que o roteiro realmente tem algo de genial por trás da metalinguagem de botequim e se apoia nisso para tentar levar o projeto a sério, mas falta tensão, falta o senso de urgência. De nada adianta você encher a tela de sangue se isso não transmite nervoso, medo ou incômodo ao espectador. Há personagens que aparecem com o pescoço cortado e você não consegue se importar com isso. Sem contar que o filme gira ao redor de oito bonecos. Desses oito, você já esquece o nome de uns sete ainda nos primeiros minutos de história, sendo que o próprio filme não faz questão de te lembrar, porque são só buchas. O problema é que eles vão morrendo e isso se torna tão relevante ou preocupante quanto pisar numa formiguinha na rua. Culpa da direção preguiçosa, que não se preocupa em desenvolvê-los minimamente para haver algum tipo de impacto em suas despedidas. Até mesmo um personagem, cujo potencial para ser odiado é gigante, fica tão largado na trama que sua morte não exprime qualquer reação do público. E todo fã de slasher sabe que uma das graças desses filmes é ver o cara babaca virando camisa de saudades eternas. Nem esse momento clássico e certeiro a direção é capaz de construir.

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E como todo filme que aspira ao slasher, há um vilão fantasiado que tenta ser icônico, mas esbarra no genérico. É um palhaço, talvez para representar o espectador que gasta 1h30 de vida assistindo o filme. Só que a fantasia não assusta, não diverte… É apenas boba. É uma roupa cinza com uma máscara que mais parece um emoji. Qualquer um que já tenha passado o carnaval nos subúrbios do Rio de Janeiro sabe que dá pra fazer uma fantasia simples, mas intimidadora com verba curta, vide os Bate-Bolas. Então, a desculpa de falta de orçamento não cola, é falta de criatividade, de inspiração. É como se tivessem desistido antes mesmo de começar.

Bate-Bolas do bairro da Abolição (RJ), em foto de Guilherme Leporace. Reprodução/ X.

No fim das contas, O Clube de Leitores Assassinos é um grande desperdício da oportunidade de brincar com um braço do terror que voltou com tudo recentemente, que é o Slasher. Vide o sucesso da franquia A Morte Te Dá Parabéns e o retorno triunfal de Pânico. Enquanto pensava sobre o filme para escrever essa crítica, cheguei a me questionar se ele se enquadraria naqueles filmes de terror de baixo orçamento que passavam nas madrugadas da antiga MTV, mas até aquelas produções, por mais simples que fossem, tinham a humildade de reconhecer suas limitações e usavam um certo jogo de cintura para brincar com isso. Seria injusto com os filmes da MTV compará-los a esse aqui, que se leva muito a sério em um cenário catastrófico.

É realmente preocupante pensar que houve uma reunião de executivos da Netflix que se inteirou do projeto, leu o roteiro e falou: “Pode produzir. Está excelente!”. Enquanto filmes como O Clube de Leitores Assassinos ganham sinal verde, há uma porção de produções com potencial que acabam sendo canceladas ou sequer chegam a ver a luz do dia. É desesperador! Pelo preço e pelas limitações impostas atualmente pela plataforma, o mínimo que eles poderiam fazer para compensar seus assinantes é selecionar melhor os projetos que vão integrar seu catálogo – que já foi um dos melhores do mercado. Falta entender que qualidade vale muito mais que quantidade. Enfim, uma pena.

O Clube de Leitores Assassinos está disponível na Netflix

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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A trama é focada em um grupo de estudantes de literatura, principalmente em Ángela (Veki Velilla), uma autora jovem que emplacou um livro de sucesso e agora sofre para fazer uma sequência. Após ser assediada por um professor, a menina, que tem fobia de palhaços, é apoiada por seu clube de leitura, que decide pregar uma peça no assediador vestindo todos os membros como palhaço para persegui-lo nos corredores da universidade. Só que um acidente ocorre e o professor acaba morrendo. O grupo combina de não falarem sobre nada do que fizeram para a polícia e começam a ser perseguidos por um supostamente amedrontador palhaço assassino.

Sabe aqueles filmes que são tão ruins que “dão a volta” e ficam bons? Claramente não é o caso desse aqui. Isso porque esses filmes que “dão a volta” costumam perceber que estão numa situação mais feia que briga de foice e deixam de se levar a sério, fazendo o público embarcar na galhofa. Mas no caso de O Clube de Leitores Assassinos, a direção acha mesmo que está fazendo um bom trabalho e aborda a trama como se fosse a mais genial já concebida e contasse com um grande elenco em seu auge. Mas, na verdade, não há a menor habilidade de criar tensão ou deixar o público apreensivo acerca de quem pode ser o assassino ou quem será a próxima vítima. E só piora com atuações muito ruins, que acabam sendo o verdadeiro terror do filme.

De verdade, pense na pior atuação que você já viu na TV aberta. Pode ser até aquelas participações de influenciadores digitais que aparecem por 2 minutos para surfar no hype de um vídeo viralizado. Te garanto que qualquer uma dessas atuações ruins que você pensou dão um banho nas apresentadas neste filme. A menos que você tenha pensado em Ilhados (2021), também da Netflix. Aí é páreo-duro mesmo. Mas analisando friamente, é muito complicado que os respectivos agentes dessa molecada jovem do filme tenha lido o roteiro e assistido as gravações, e achado que seria uma boa oportunidade para seus agenciados. De verdade, é um nível tão baixo que pode mesmo afetar suas chances de conseguir algum trabalho melhor daqui pra frente. Principalmente de Álvaro Mel, Carlos Alcaide e Iván Pellicer, que estão muito abaixo dentro de um elenco que claramente não está bem. O resto, feliz ou infelizmente, não chega a ter destaque o bastante. Não acredito nem que esses citados sejam maus atores, porque há sempre margem para crescimento e para evoluir na atuação, mas terem posto seus rostos nessa barca furada pode ser realmente complicado para eles. No fim, quem se salva mesmo é a mais experiente da turma, Veki Velilla, que já tem uma bagagem maior nas produções espanholas e consegue se virar melhor nessa bomba, só que até pra ela fica feio.

A direção é outro show de horrores. Carlos Alonso Ojea acredita que o roteiro realmente tem algo de genial por trás da metalinguagem de botequim e se apoia nisso para tentar levar o projeto a sério, mas falta tensão, falta o senso de urgência. De nada adianta você encher a tela de sangue se isso não transmite nervoso, medo ou incômodo ao espectador. Há personagens que aparecem com o pescoço cortado e você não consegue se importar com isso. Sem contar que o filme gira ao redor de oito bonecos. Desses oito, você já esquece o nome de uns sete ainda nos primeiros minutos de história, sendo que o próprio filme não faz questão de te lembrar, porque são só buchas. O problema é que eles vão morrendo e isso se torna tão relevante ou preocupante quanto pisar numa formiguinha na rua. Culpa da direção preguiçosa, que não se preocupa em desenvolvê-los minimamente para haver algum tipo de impacto em suas despedidas. Até mesmo um personagem, cujo potencial para ser odiado é gigante, fica tão largado na trama que sua morte não exprime qualquer reação do público. E todo fã de slasher sabe que uma das graças desses filmes é ver o cara babaca virando camisa de saudades eternas. Nem esse momento clássico e certeiro a direção é capaz de construir.

E como todo filme que aspira ao slasher, há um vilão fantasiado que tenta ser icônico, mas esbarra no genérico. É um palhaço, talvez para representar o espectador que gasta 1h30 de vida assistindo o filme. Só que a fantasia não assusta, não diverte… É apenas boba. É uma roupa cinza com uma máscara que mais parece um emoji. Qualquer um que já tenha passado o carnaval nos subúrbios do Rio de Janeiro sabe que dá pra fazer uma fantasia simples, mas intimidadora com verba curta, vide os Bate-Bolas. Então, a desculpa de falta de orçamento não cola, é falta de criatividade, de inspiração. É como se tivessem desistido antes mesmo de começar.

Bate-Bolas do bairro da Abolição (RJ), em foto de Guilherme Leporace. Reprodução/ X.

No fim das contas, O Clube de Leitores Assassinos é um grande desperdício da oportunidade de brincar com um braço do terror que voltou com tudo recentemente, que é o Slasher. Vide o sucesso da franquia A Morte Te Dá Parabéns e o retorno triunfal de Pânico. Enquanto pensava sobre o filme para escrever essa crítica, cheguei a me questionar se ele se enquadraria naqueles filmes de terror de baixo orçamento que passavam nas madrugadas da antiga MTV, mas até aquelas produções, por mais simples que fossem, tinham a humildade de reconhecer suas limitações e usavam um certo jogo de cintura para brincar com isso. Seria injusto com os filmes da MTV compará-los a esse aqui, que se leva muito a sério em um cenário catastrófico.

É realmente preocupante pensar que houve uma reunião de executivos da Netflix que se inteirou do projeto, leu o roteiro e falou: “Pode produzir. Está excelente!”. Enquanto filmes como O Clube de Leitores Assassinos ganham sinal verde, há uma porção de produções com potencial que acabam sendo canceladas ou sequer chegam a ver a luz do dia. É desesperador! Pelo preço e pelas limitações impostas atualmente pela plataforma, o mínimo que eles poderiam fazer para compensar seus assinantes é selecionar melhor os projetos que vão integrar seu catálogo – que já foi um dos melhores do mercado. Falta entender que qualidade vale muito mais que quantidade. Enfim, uma pena.

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