sexta-feira , 8 novembro , 2024

Crítica | O Diabo na Rua no Meio do Redemunho – Aclamada Adaptação Teatral de ‘Grande Sertão’ é Eternizada em Filme [Festival do Rio 2023]

Guimarães Rosa é um dos autores cuja adaptação, para o teatro ou para o audiovisual, é sempre um desafio enorme. Com vocabulário rebuscado e um cenário de pano de fundo que bamboleia entre a ficção e a realidade, seus livros se tornaram um espanto na literatura brasileira e seguem como uma das leituras obrigatórias até hoje. De sua vasta obra, ‘Grande Sertão: Veredas’, é, de longe, a história mais intrincada e desafiadora para a carreira de qualquer artista na intenção de realizar uma adaptação.

odiabo narua

Anos atrás, a diretora Bia Lessa ouviu esse chamado e assinou sua própria versão da clássica história, em uma peça de quase três horas de duração que circulou por diversas capitais do país, encabeçada por um elenco de renome e que no Rio de Janeiro foi apresentada no formato de arena no pátio central do CCBB. Após grande sucesso de público e de crítica, essa mesma peça, então homônima, ganhou uma versão audiovisual com o nome ‘O Diabo na Rua no Meio do Redemunho’, cuja primeira exibição ocorreu durante o Festival do Rio 2023 numa sessão lotadíssima, o que provocou um novo horário de exibição na repescagem do festival, e também foi confirmada na programação da 47ª Mostra de Cinema de São Paulo.



Um pouco mais enxugado dessa vez, com duas horas e meia de duração, o longa não traz novidades para quem viu a apresentação da peça anteriormente. Gravada ainda naquela época, com elenco à flor da pele com o texto, ‘O Diabo na Rua no Meio do Redemunho’ é basicamente uma versão gravada da adaptação teatral anteriormente apresentada. Isso significa que, com um orçamento enxugado, a produção não traz cenários nem locações, mas sim recursos teatrais para compor um cenário a partir de elementos comumente presentes na peça (uso de tecido e objetos que fingem ser outros elementos, como armas, corpos, animais). A produção também se debruça integralmente na competência de seu elenco para recriar a figuração e outros elementos, de modo que enquanto os protagonistas agem em primeiro plano, ao fundo o elenco se transforma em pássaros, cachorros, bois, cavalos, voltando às origens das aulas de teatro, quando todo ator tem que passar por esse tipo de exercício.

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Com a dramaturgia como seu ponto forte, ‘O Diabo na Rua no Meio do Redemunho’ é registro definitivo da potente e inesquecível atuação de Caio Blat, com sua absurda capacidade de memorização de falas e de total entrega ao personagem, ao mesmo tempo que agindo e narrando a própria história. Caio está imenso nesse filme, dentro da fragilidade de Riobaldo. Na conjuntura, tal como no teatro, Luiza Lemmertz é um destaque espantoso, vivendo o enigmático e andrógeno Diadorim, numa mescla de potência vibrante do cangaço com a doçura dos momentos de ternura.

Todo gravado em preto e branco, a fotografia de José Roberto Eliezer consegue transparecer uma passagem de tempo e de cena em belíssimos enquadramentos paisagísticos, especialmente as cenas do rio e dos pássaros. Experimental e teatral ‘O Diabo na Rua no Meio do Redemunho’ é desses filmes-referência para qualquer um que queira se tornar ator um dia.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Anos atrás, a diretora Bia Lessa ouviu esse chamado e assinou sua própria versão da clássica história, em uma peça de quase três horas de duração que circulou por diversas capitais do país, encabeçada por um elenco de renome e que no Rio de Janeiro foi apresentada no formato de arena no pátio central do CCBB. Após grande sucesso de público e de crítica, essa mesma peça, então homônima, ganhou uma versão audiovisual com o nome ‘O Diabo na Rua no Meio do Redemunho’, cuja primeira exibição ocorreu durante o Festival do Rio 2023 numa sessão lotadíssima, o que provocou um novo horário de exibição na repescagem do festival, e também foi confirmada na programação da 47ª Mostra de Cinema de São Paulo.

Um pouco mais enxugado dessa vez, com duas horas e meia de duração, o longa não traz novidades para quem viu a apresentação da peça anteriormente. Gravada ainda naquela época, com elenco à flor da pele com o texto, ‘O Diabo na Rua no Meio do Redemunho’ é basicamente uma versão gravada da adaptação teatral anteriormente apresentada. Isso significa que, com um orçamento enxugado, a produção não traz cenários nem locações, mas sim recursos teatrais para compor um cenário a partir de elementos comumente presentes na peça (uso de tecido e objetos que fingem ser outros elementos, como armas, corpos, animais). A produção também se debruça integralmente na competência de seu elenco para recriar a figuração e outros elementos, de modo que enquanto os protagonistas agem em primeiro plano, ao fundo o elenco se transforma em pássaros, cachorros, bois, cavalos, voltando às origens das aulas de teatro, quando todo ator tem que passar por esse tipo de exercício.

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Com a dramaturgia como seu ponto forte, ‘O Diabo na Rua no Meio do Redemunho’ é registro definitivo da potente e inesquecível atuação de Caio Blat, com sua absurda capacidade de memorização de falas e de total entrega ao personagem, ao mesmo tempo que agindo e narrando a própria história. Caio está imenso nesse filme, dentro da fragilidade de Riobaldo. Na conjuntura, tal como no teatro, Luiza Lemmertz é um destaque espantoso, vivendo o enigmático e andrógeno Diadorim, numa mescla de potência vibrante do cangaço com a doçura dos momentos de ternura.

Todo gravado em preto e branco, a fotografia de José Roberto Eliezer consegue transparecer uma passagem de tempo e de cena em belíssimos enquadramentos paisagísticos, especialmente as cenas do rio e dos pássaros. Experimental e teatral ‘O Diabo na Rua no Meio do Redemunho’ é desses filmes-referência para qualquer um que queira se tornar ator um dia.

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