domingo , 24 novembro , 2024

Crítica | O Formidável – Diretor do Oscarizado ‘O Artista’ recria Godard

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Um filme simpático sobre um antipático

Ao falar de Michel Hazanavicius a menção a O Artista, seu longa vencedor do Oscar (2012), é inevitável, mas na atual circunstância isso se torna obrigatório a partir do momento em que se assiste a O Formidável. O diretor, que em 2011 já tinha demonstrado sua habilidade para absorver uma linguagem e estética, retorna ao seu modo emulador e dessa vez conta – a partir da perspectiva de Anne Wiazemsky – o período no qual ela foi casada com o icônico diretor Jean Luc Godard.

Hazanavicius busca em seu longa adentrar a brecha que o livro de Wiazemsky propõe entre o ícone do cinema Godard e o homem comum, um espaço que por vezes se amplia e por outras parece quase desaparecer. Isso não se deve por um desequilíbrio narrativo dentro do projeto, mas porque o objeto é sanfonado por lacunas que sequer a própria Anne Wiazemsky demonstra ter como claras para si.



O longa se passa no período de lançamento de A Chinesa, 1967, e se finaliza no divórcio do casal após as filmagens de Vento do Leste em 1970. Anne Wiazemsky (Stacy Martin) é uma jovem em vias de completar seus vinte anos e casada com um dos mais cultuados diretores de sua época: Jean Luc Godard (Louis Garrel). O casal vive a maior parte do tempo em função das atividades do cineasta, muito interessado aos movimentos de maio de 68, o que os torna bastante politicamente participativos.

Contudo, Godard enfrenta uma crise, pois o grande público pede o retorno para filmes mais leves como Acossado (1960) e os militantes não parecem satisfeitos com sua obra política, portando Jean-Luc está constantemente em descompasso com os desejos alheios e encontra conforto em uma postura que tenta ignorar ambas as reclamações, se colocando com certa distância dessas demandas. Tal postura começa a se estender à sua esposa e o abismo entre os dois aumenta gradativamente.

O diretor toma para si diversos estilos de estética vistos nas obras de JLG, sobretudo em filmes como A Chinesa e Masculino e Feminino, dando riqueza visual e tocando a metalinguagem. Mas seu objetivo principal com isso é tentar torcer a figura do próprio retratado, através de seus meios, encontrando uma interlocução que aponte as contradições e desajustes de um Godard que se tornou personagem de si mesmo. Logo nos primeiros minutos de projeção o personagem diz, segundo ele citando Mozart: “os artistas deviam morrer aos 35 anos, antes de se tornarem uns escrotos. Eu tenho 37”.

Em outro momento, em frente a sua Anne – sua atriz e esposa – afirma com desdém: “você manda atores dizerem que atores são um porre e eles dizem”.  Godard, de fato, parece despender de algum esforço para se colocar de forma difícil, e o filme tenta se justificar pelo cineasta, lhe conferindo uma voz mais insegura e – principalmente em seu final – um tom confessional que soa pouco crível e só justifica sua existência por se tratar de um filme comprometido com um forte grau de descontração e leveza.

O Formidável não é criativo enquanto obra, apesar de contar com performances boas de seu elenco, não há um desafio que os mova ou torne algum momento específico digno de menção. Seguindo linearmente uma narrativa comum e óbvia sobre um relacionamento fadado ao fim, o longa, ainda sim, é astuto ao tornar – da mesma maneira que realiza em  O Artista a estética uma divertida e agradável experiência.

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Hazanavicius busca em seu longa adentrar a brecha que o livro de Wiazemsky propõe entre o ícone do cinema Godard e o homem comum, um espaço que por vezes se amplia e por outras parece quase desaparecer. Isso não se deve por um desequilíbrio narrativo dentro do projeto, mas porque o objeto é sanfonado por lacunas que sequer a própria Anne Wiazemsky demonstra ter como claras para si.

O longa se passa no período de lançamento de A Chinesa, 1967, e se finaliza no divórcio do casal após as filmagens de Vento do Leste em 1970. Anne Wiazemsky (Stacy Martin) é uma jovem em vias de completar seus vinte anos e casada com um dos mais cultuados diretores de sua época: Jean Luc Godard (Louis Garrel). O casal vive a maior parte do tempo em função das atividades do cineasta, muito interessado aos movimentos de maio de 68, o que os torna bastante politicamente participativos.

Contudo, Godard enfrenta uma crise, pois o grande público pede o retorno para filmes mais leves como Acossado (1960) e os militantes não parecem satisfeitos com sua obra política, portando Jean-Luc está constantemente em descompasso com os desejos alheios e encontra conforto em uma postura que tenta ignorar ambas as reclamações, se colocando com certa distância dessas demandas. Tal postura começa a se estender à sua esposa e o abismo entre os dois aumenta gradativamente.

O diretor toma para si diversos estilos de estética vistos nas obras de JLG, sobretudo em filmes como A Chinesa e Masculino e Feminino, dando riqueza visual e tocando a metalinguagem. Mas seu objetivo principal com isso é tentar torcer a figura do próprio retratado, através de seus meios, encontrando uma interlocução que aponte as contradições e desajustes de um Godard que se tornou personagem de si mesmo. Logo nos primeiros minutos de projeção o personagem diz, segundo ele citando Mozart: “os artistas deviam morrer aos 35 anos, antes de se tornarem uns escrotos. Eu tenho 37”.

Em outro momento, em frente a sua Anne – sua atriz e esposa – afirma com desdém: “você manda atores dizerem que atores são um porre e eles dizem”.  Godard, de fato, parece despender de algum esforço para se colocar de forma difícil, e o filme tenta se justificar pelo cineasta, lhe conferindo uma voz mais insegura e – principalmente em seu final – um tom confessional que soa pouco crível e só justifica sua existência por se tratar de um filme comprometido com um forte grau de descontração e leveza.

O Formidável não é criativo enquanto obra, apesar de contar com performances boas de seu elenco, não há um desafio que os mova ou torne algum momento específico digno de menção. Seguindo linearmente uma narrativa comum e óbvia sobre um relacionamento fadado ao fim, o longa, ainda sim, é astuto ao tornar – da mesma maneira que realiza em  O Artista a estética uma divertida e agradável experiência.

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