sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica| O Grande Circo Místico – Cem anos de histórias desastrosas

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Quando O Grande Circo Místico foi anunciado como o representante do Brasil na disputa pelo Oscar, crítica e público se dividiram em dois grupos: o dos que torceram a cara para a produção por acreditarem que outros longas – como Benzinho, de Gustavo Pizzi – mereciam ser escolhidos, e os que ficaram com altas expectativas pelo novo filme de Cacá Diegues. Estes últimos tinham motivos para acreditar que vinha algo bom por aí, afinal, ele é a adaptação do famoso poema homônimo de Jorge de Lima (também transformado em musical em 1983) – que, com a ajuda do surrealismo, conta a história de cinco gerações da família Knieps ao longo de 100 anos. No entanto, depois de conferir a produção, fica difícil não concordar com quem preferia outros títulos na premiação, porque tudo no filme soa como um verdadeiro equívoco.

A história começa antes mesmo do circo existir, com o casal Fred (Rafael Lozano) e Beatriz (Bruna Linzmeyer). Ele, médico de uma tradicional família austríaca, ao descobrir que o maior sonho da amada é estar de volta em um circo, resolve abrir um picadeiro para que ela possa ser a estrela principal. A partir daí, entre uma apresentação morna aqui e outra ali para uma plateia vazia dentro de um circo sem muita cor ou graça para o espectador, o filme reserva um determinado tempo para cada geração da família, e toda história é marcada por tragédia, traição e, em alguns casos, até temas mais pesados – como estupro e incesto.



Como se a família Knieps estivesse amaldiçoada por ter começado através de uma mentira (com a Imperatriz Virgem que, na verdade, não era virgem e era mãe de Fred), nenhuma geração parece estar imune aos conflitos – que, com o passar dos anos, se tornam cada vez piores. Conforme o tempo avança, todos ganham um semblante cada vez mais envelhecido e melancólico, exceto Celaví (Jesuíta Barbosa, o melhor do filme), que preserva a mesma aparência ao longo dos cem anos, só mudando o cabelo e o estilo das roupas. Com a expressão “é a vida” (C’est La Vie em francês) como nome e a eterna juventude na face e nos trejeitos, o personagem – que pode ser visto como um simbolismo para as desgraças da família (a vida é como é e pronto) e a magia mística ao redor do circo – , é o principal responsável pela parte poética do filme. Ou, pelo menos, a tentativa dela.

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Jesuíta se esforça e aparece em cena tão enigmático como a vida deve ser, mas sem perder o encantamento no olhar e o jeito de menino que representam a magia do começo dela e do circo que dá palco ao enredo. Porém, como não é possível segurar um filme sozinho nas costas, até mesmo sua performance acaba ofuscada por outros tantos personagens desinteressantes – que começamos e terminamos a história sem conhecer, mas sem curiosidade para tal, já que o roteiro não se preocupa em aprofundar nenhum deles e nem consegue criar vínculo para que o espectador se importante com seus destinos e pensamentos. Nem mesmo quando há a revelação de uma certa tatuagem religiosa, o longa consegue criar o clímax necessário para que o público realmente sinta o impacto do que acabou de ver (apesar de Mariana Ximenes entregar uma boa performance no papel da personagem Margarete).

Como um folhetim ruim, O Grande Circo Místico solta piadas sem a mínima graça ao mesmo tempo em que tenta trazer poesia para a história com reflexões soltas e frases de efeito ditas pela boca de Celaví ou do personagem sofredor da trama da vez (sim, porque todos sofrem; principalmente as mulheres). Além disso, para mostrar o teor sexual que ronda todos os cinco enredos, também conta com cenas de sexo desnecessárias, onde o corpo feminino é exibido sem que tenha qualquer relevância para a cena ou para o desenvolvimento da trama – o que fica ainda mais forte com na última geração retratada, o das irritantes e estridentes irmãs gêmeas.

O destaque positivo fica para as músicas de Chico Buarque e Edu Lobo, que ajudam a contar a história e a tentar trazer um pouco de poesia e emoção ao longo dos cem anos em que esta se desenrola. No mais, apesar do elenco de peso (que conta até com o francês Vincent Cassel) e da assinatura de um diretor como Cacá Diegues, O Grande Circo Místico só consegue levar as estrelas para o picadeiro, mas sem os instrumentos necessários para fazer um verdadeiro show acontecer. É, parece que não é mesmo dessa vez que o Oscar brasileiro vem…

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A história começa antes mesmo do circo existir, com o casal Fred (Rafael Lozano) e Beatriz (Bruna Linzmeyer). Ele, médico de uma tradicional família austríaca, ao descobrir que o maior sonho da amada é estar de volta em um circo, resolve abrir um picadeiro para que ela possa ser a estrela principal. A partir daí, entre uma apresentação morna aqui e outra ali para uma plateia vazia dentro de um circo sem muita cor ou graça para o espectador, o filme reserva um determinado tempo para cada geração da família, e toda história é marcada por tragédia, traição e, em alguns casos, até temas mais pesados – como estupro e incesto.

Como se a família Knieps estivesse amaldiçoada por ter começado através de uma mentira (com a Imperatriz Virgem que, na verdade, não era virgem e era mãe de Fred), nenhuma geração parece estar imune aos conflitos – que, com o passar dos anos, se tornam cada vez piores. Conforme o tempo avança, todos ganham um semblante cada vez mais envelhecido e melancólico, exceto Celaví (Jesuíta Barbosa, o melhor do filme), que preserva a mesma aparência ao longo dos cem anos, só mudando o cabelo e o estilo das roupas. Com a expressão “é a vida” (C’est La Vie em francês) como nome e a eterna juventude na face e nos trejeitos, o personagem – que pode ser visto como um simbolismo para as desgraças da família (a vida é como é e pronto) e a magia mística ao redor do circo – , é o principal responsável pela parte poética do filme. Ou, pelo menos, a tentativa dela.

Jesuíta se esforça e aparece em cena tão enigmático como a vida deve ser, mas sem perder o encantamento no olhar e o jeito de menino que representam a magia do começo dela e do circo que dá palco ao enredo. Porém, como não é possível segurar um filme sozinho nas costas, até mesmo sua performance acaba ofuscada por outros tantos personagens desinteressantes – que começamos e terminamos a história sem conhecer, mas sem curiosidade para tal, já que o roteiro não se preocupa em aprofundar nenhum deles e nem consegue criar vínculo para que o espectador se importante com seus destinos e pensamentos. Nem mesmo quando há a revelação de uma certa tatuagem religiosa, o longa consegue criar o clímax necessário para que o público realmente sinta o impacto do que acabou de ver (apesar de Mariana Ximenes entregar uma boa performance no papel da personagem Margarete).

Como um folhetim ruim, O Grande Circo Místico solta piadas sem a mínima graça ao mesmo tempo em que tenta trazer poesia para a história com reflexões soltas e frases de efeito ditas pela boca de Celaví ou do personagem sofredor da trama da vez (sim, porque todos sofrem; principalmente as mulheres). Além disso, para mostrar o teor sexual que ronda todos os cinco enredos, também conta com cenas de sexo desnecessárias, onde o corpo feminino é exibido sem que tenha qualquer relevância para a cena ou para o desenvolvimento da trama – o que fica ainda mais forte com na última geração retratada, o das irritantes e estridentes irmãs gêmeas.

O destaque positivo fica para as músicas de Chico Buarque e Edu Lobo, que ajudam a contar a história e a tentar trazer um pouco de poesia e emoção ao longo dos cem anos em que esta se desenrola. No mais, apesar do elenco de peso (que conta até com o francês Vincent Cassel) e da assinatura de um diretor como Cacá Diegues, O Grande Circo Místico só consegue levar as estrelas para o picadeiro, mas sem os instrumentos necessários para fazer um verdadeiro show acontecer. É, parece que não é mesmo dessa vez que o Oscar brasileiro vem…

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