terça-feira, março 19, 2024

Crítica | O Grito – Reboot do terror é criativo e possui grande apelo dramático

Terror Fragmentado

Há algum tempo os fãs do terror notam uma ruptura de estilo em suas queridas produções. Assim como em qualquer gênero, temos produções mais comerciais – miradas a um público maior – e obras mais intimistas, independentes, miradas a um público mais seleto – os chamados cinéfilos. Produções essas carinhosamente chamadas de filmes de “arte”. Seria algo como comer uma comida básica (que pode ser muito saborosa) ou um prato mais refinado – coisa que nem todo mundo gosta ou está disposto a experimentar.

Essa é a diferença entre as produções de James Wan, da Blumhouse, e de obras de gente como Robert Eggers, Ari Aster e David Robert Mitchell, por exemplo. Não tem nada de errado com quem prefere um tipo ao outro, quem gosta de ambos ou de nenhum (bem, de nenhum talvez tenha). Afinal são apenas preferências. A diferença entre tais obras, no entanto, é indiscutível. São obras planejadas e criadas com roteiros, narrativas e propostas distintas. E assim chegamos até este novo reboot da franquia O Grito.

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O novo filme está mais para os citados “terror de arte” do que os filmes de shopping repletos de jumpscares. O que não significa que a obra não os possua. Notamos uma narrativa mais lenta, um processo de criação e desenvolvimento que não se apressa e aposta mais no clima, em atmosfera, atuações e dramaticidade dos eventos. É estranho ver tal roupagem para um longa desta franquia? Sim, pois não é esperado. Ao mesmo tempo, chega como novidade bem-vinda.

A franquia O Grito (ou The Gruge, o rancor) nasceu de uma nova onda de produções de terror japonesas, que ganharam repercussão fora de seu país de origem graças ao interesse de produtores americanos em refilmá-las nos EUA. O primeiro do novo lote foi O Chamado, e seguindo na esteira veio o Grito. A obra japonesa de 2002, foi refilmada em Hollywood em 2004 e trouxe a estrela da TV Sarah Michelle Gellar como protagonista. Além dela, como cicerone deste intercâmbio cultural estava um verdadeiro aficionado pelo gênero, o cineasta Sam Raimi (Evil Dead).

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Dezesseis anos depois, e duas sequências que morreram na praia, Raimi volta a investir na ideia, desta vez apostando num clima mais sóbrio, num teor mais real e cru, e trazendo um elenco invejável para este tipo de produção. A versátil Andrea Riseborough (atriz sempre em busca de novos desafios) é quem protagoniza na pele da detetive Muldoon, personagem dona de seus próprios demônios internos, e quem conecta as três tramas dentro da narrativa fragmentada – outra aposta criativa e inusitada para o projeto. Além dela, dois indicados ao Oscar (Demián Bichir e Jacki Weaver) e um elenco estelar (Lin Shaye, Frankie Faison, William Sadler, John Cho e Betty Gilpin) desfilam em tela dando credibilidade a seus papeis.

O jovem cineasta Nicolas Pesce, um nome promissor, é quem cuida do roteiro e direção. O diretor investe de forma mais dedicada do que esperaríamos de um projeto deste, ou que de fato o longa merecia. Seu comprometimento eleva a obra a outro patamar, criando o melhor filme desta franquia. A ousadia na forma de se contar esta história é um de seus grandes atrativos. E o roteiro tenta fazer o que pode para apresentar novidade dentro deste argumento muito conhecido, sobre casas assombradas e maldições.

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Outra curiosidade é que embora se trate de um reboot, ele não descarta as produções anteriores. Desta vez, a ação é trazida para o território norte-americano, mas ficamos sabendo da lenda em torno do “rancor” japonês, e como ele é levado para os EUA, como se fosse uma doença infecciosa, de lá da terra do sol nascente, assim conectando as histórias. Logo, dois jovens corretores são os primeiros a serem expostos à maldição, que segue sendo passada para todos os que entram em contato com ela.  O grau de visceralidade, de gore, e as cenas de violência e mortes intensas chocam. Mas O Grito não se prende a elas para vender seu produto, elas são apenas notas de rodapé, criadas longe de se tornarem detestáveis como em mais um torture porn.

O Grito é um terror diferenciado. Que cria uma interessante analogia com tragédias diárias as quais somos expostos e como lidamos com elas, tentando superá-las. Aborda depressão, loucura e suas consequências (principalmente no trecho com Lin Shaye) de forma mais responsável do que geralmente notamos em produções do tipo. A opção seguida para revigorar a ideia não poderia ser mais bem-vinda e aplicada. Intenção louvável dos envolvidos que talvez não seja apreciada pelos fãs de outro estilo de obras do gênero.

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